Divertir a inteligência na Educação

Einstein escreveu que “o pensamento criativo é a inteligência a divertir-se” e sabemos bem que a criatividade é uma das competências centrais para o século XXI. O objetivo deve ser impulsionar o desenvolvimento das crianças, utilizando o poder transformador de brincar na Educação. Criatividade, capacidade de resolução de problemas, colaboração e comunicação são essenciais para qualquer emprego futuro.

Mar 21, 2025 - 07:46
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Divertir a inteligência na Educação

“Criatividade: capacidade de criar, de inventar. Qualidade de quem tem ideias originais, de quem é criativo.”

Assim definem os dicionários a palavra “criatividade”, mas há uma frase genial de Albert Einstein que, na minha opinião, se ajusta melhor ao conceito: “A criatividade é a inteligência a divertir-se.” Por isso mesmo, é fundamental investir em projetos que promovam o desenvolvimento das competências do futuro, como a criatividade, as socioemocionais, a capacidade de resolução de problemas, a comunicação e a colaboração.

As crianças de hoje precisam de se adaptar a um mundo em constante mudança: um mundo com alterações climáticas, desenvolvimentos tecnológicos, crises económicas e globais. Para lidar com este mundo, a escola não pode limitar-se a transmitir conteúdos, mas deve preparar os alunos para a imprevisibilidade global, em que a capacidade de adaptação, o pensamento crítico e a criatividade são determinantes.

Os métodos de aprendizagem precisam de ser mais do que ensinar a memorizar fatos: as crianças necessitam de adquirir uma série de competências para que tenham as ferramentas necessárias para ajudar a criar um mundo melhor.

Tradicionalmente, o foco tem sido sobretudo na ideia de que as crianças obtenham conceitos cognitivos como a literacia e a numeracia. Mas é necessário investir no desenvolvimento das crianças de uma forma holística, no desenvolvimento como um todo. Nas competências sociais, emocionais, no desenvolvimento das competências cognitivas fomentando a criatividade e a curiosidade.

Existem vários estudos que comprovam que a metodologia Aprender através do Brincar contribui fortemente para o desenvolvimento destas competências. Por isso, temos investido em projetos que concretizem esta estratégia, como a parceria que estabelecemos com a Lego Foundation. Como sublinha o relatório Learning Through Play, “as crianças aprendem melhor quando são ativamente envolvidas, motivadas e desafiadas a explorar novas ideias e resolver problemas em colaboração com os outros”.

Está comprovado por diversos estudos que brincar estimula partes do cérebro ligadas à atenção, ao foco e à memória. Quando aprendemos através do brincar aprendemos mais rápido e retemos por mais tempo. Estudar e aprender não deve ser uma maçada, bem pelo contrário.

Acreditamos que a criatividade deve ser estimulada desde cedo, não como um talento inato, mas como uma competência essencial para todos. Queremos contribuir para que a escola seja um espaço no qual se aprende a resolver problemas, a colaborar e a comunicar de forma eficaz.

E por isso, para além desta parceria, estamos a colocar mesas criativas com legos em várias escolas do País. Queremos que todas as crianças, independentemente da condição socioeconómica, tenham a possibilidade de obter estas competências. Estas mesas fomentam a criatividade, a colaboração, a comunicação na sala de aula e a interação entre todos os alunos.

Os jovens de hoje necessitam de aprender de uma forma diferente do passado. Precisam de ser estimulados de forma diferente. E só jovens que querem aprender, que estão comprometidos com a escola e que estão motivados é que realmente aprendem. Um dos grandes desafios dos professores é precisamente envolvimento dos alunos. E esta metodologia de Aprender através do Brincar pretende contribuir para este compromisso.

Por outro lado, através desta aprendizagem lúdica, queremos também fomentar o gosto por aprender ao longo da vida. É muito importante incutir deste muito cedo este gosto pela aprendizagem, pela busca constante de conhecimento. Num mundo em mudança constante, esta atitude torna-se essencial.

O pensamento criativo é, sem dúvida, uma das competências centrais para o século XXI, como destacou o último relatório PISA – Programme for International Student Assessment. Este estudo, que avaliou as competências globais de alunos de 15 anos de 81 países, dedicou-se, em 2022, a avaliar o pensamento criativo. A OCDE considera-o como “a competência para se envolver ativamente na produção, avaliação e melhoria de ideias, que podem resultar em soluções originais e eficazes, gerar novos conhecimentos e expressões impactantes de imaginação.”

Portugal não obteve um desempenho negativo e os nossos alunos estão acima da média da OCDE, que é de 33 pontos, alcançando 34 pontos. Embora este número seja ligeiramente superior à média, é importante lembrar que a escala vai de 0 a 60 pontos, e, portanto, há ainda muito espaço para melhorar.

Outro dado relevante e que evidencia a urgência de um esforço para reduzir as desigualdades sociais em Portugal, um tema que nos preocupa fortemente, é que os alunos de contextos socioeconómicos favorecidos têm um melhor desempenho do que aqueles que vivem em contextos mais desfavorecidos, o que também se reflete nas áreas de Matemática, Leitura e Ciências.

O relatório Education at a Glance 2021, da OCDE, já alertava para a rigidez da mobilidade social em Portugal: “uma criança de uma família desfavorecida leva cinco gerações para atingir o rendimento médio nacional”. Isto reflete um desafio estrutural do nosso sistema de ensino, que não pode ser resolvido apenas dentro da sala de aula. O papel dos professores é central, mas é necessário que tenham condições para saber lidar com a diversidade que encontram quando chegam à sala de aula e exercer essa missão com impacto.

De facto, em Portugal, 10% da variação no desempenho do pensamento criativo está relacionada com o Estatuto Socioeconómico e Cultural (ESCS) dos alunos. Na OCDE, essa diferença é de 12%.

Temos a consciência de que sozinhos não conseguimos ter escala e obter um verdadeiro impacto. Sabemos que também temos de ser mais criativos para mudar a Educação em Portugal. E precisamos de todos: entidades públicas, privadas, fundações e empresas.

Foi com esta visão que, no início deste ano, promovemos, em parceria com o Centro Português de Fundações, um encontro de um grupo de instituições que atuam na área da Educação, com o ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, e com o então secretário de Estado da Administração e Inovação Educativa, Pedro Cunha, para criar um espaço de colaboração real entre o setor público e o privado. O nosso objetivo não é apenas comunicar diagnósticos, mas impulsionar a ação. Queremos agregar instituições que, trabalhando juntas, possam encontrar soluções concretas para os desafios da educação em Portugal.

Desta reunião saíram sete áreas prioritárias:

  1. A falta de professores e a necessidade de atrair talento para a profissão.
  2. A valorização da carreira docente e o reforço da formação contínua.
  3. A capacitação das lideranças escolares.
  4. O aumento da diversidade nas salas de aula, incluindo o crescimento da população migrante.
  5. A promoção de uma educação inclusiva e equitativa.
  6. O reforço da eficácia da aprendizagem.
  7. O desenvolvimento da educação pré-escolar.

No seguimento destas prioridades foram criados grupos de fundações que se querem unir para criar mais impacto.

Na Fundação Santander Portugal, estamos empenhados em fazer a diferença através da Educação. Mas queremos trabalhar todo o ecossistema: professores, escolas, alunos, entidades públicas, fundações e empresas.

A nossa prioridade é continuar a apoiar a Educação em todas as suas dimensões, promovendo a colaboração entre instituições e contribuindo para um sistema de ensino mais justo, inclusivo e preparado para o futuro.