Dia do Apagão ou Iberian Reset?
Opinião de João Reis, licenciado em Gestão, MBA, estudante doutoramento Marketing e Estratégia U. Aveiro/U. Minho/U. Beira Interior.


Por João Reis, licenciado em Gestão, MBA, estudante doutoramento Marketing e Estratégia U. Aveiro/U. Minho/U. Beira Interior
No dia 28 de abril, mais de 50 milhões de pessoas na Península Ibérica — e milhões de visitantes — viveram o impensável: um apagão total que durou mais de oito horas. Sem aviso. Sem luz. Sem Wi-Fi. Só silêncio — e caos. Ainda não temos noção completa do impacto: vidas em risco, prejuízos económicos, alimentos perdidos, emergências, stress.
Mas, no meio da escuridão… algo inesperado floresceu. Após o pânico inicial, surgiu uma espécie de magia. Famílias voltaram a conversar. Vizinhos deram sinal de vida. Crianças brincaram. Adultos leram, caminharam. Sem ecrãs, reencontrámo-nos. No parque, vi mais livros do que telemóveis. Na rua, filas à porta de lojas pequenas à procura de rádios a pilhas. Restaurantes improvisaram grelhas a carvão no exterior — parecia uma festa popular. Não foi só sobrevivência. Foi um teste coletivo à nossa resiliência. E passámos.
Agora, o detalhe que nos faz pensar: este apagão ocorreu um dia antes do Earth Overshoot Day da Europa — 29 de abril, a data em que esgotamos os recursos que o planeta pode regenerar num ano.
Este ano, foi o mais precoce de sempre. Já em maio, estamos em dívida ecológica.
Coincidência? Estamos a consumir demais, a viver depressa demais, a desligar-nos de tudo o que importa. E se transformássemos este momento inesperado numa tradição intencional? Um dia planeado. Um Reset Ibérico, como prenda para o mundo.
Portugal e Espanha já são vistos como referências de qualidade de vida. Vamos mais longe. Vamos criar um dia de Desligar para Reconectar. Uma tradição mediterrânica moderna: sem energia, sem distrações — só tempo real com quem está à nossa volta.
Fazemos simulacros para emergências, incêndios, terramotos. Porque não para um dia sem energia? Não como punição, mas como celebração da nossa autonomia, criatividade e comunidade. Que tal, nos próximos anos, começarmos a celebrar Earth Overshoot Days cuja data, esperamos, possa finalmente recuar?
Em 2030, a eletricidade faz 150 anos. Talvez esteja na altura de a celebrarmos também pelo que a sua ausência nos ensina. Teremos a ousadia de deixar este legado? Ou vamos apenas esperar pelo próximo apagão?