Defesa de agente da PF suspeito de trama golpista pede para adiar julgamento

A Polícia Federal recuperou dezenas de áudios, que o agente Wladimir Soares armazenava no próprio computador de trabalho, que mostravam a ligação dele, segundo a investigação, com a tentativa de golpe

Mai 17, 2025 - 00:40
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Defesa de agente da PF suspeito de trama golpista pede para adiar julgamento

Após a divulgação dos áudios do policial federal Wladimir Matos Soares, acusado de ser um integrantes do "Núcleo 3" da tentativa de golpe de Estado, os advogados Luiz Carlos Magalhães e Ramón Mas Gomez Júnior pedem o adiamento do julgamento, que está previsto para a próxima terça-feira (20/5), na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF).

O pedido foi protocolado nesta sexta-feira (16/5) pela defesa, que alega necessitar de mais prazo para apresentar resposta às acusações, sob o argumento de que novos elementos foram recentemente incluídos nos autos e ainda demandam análise detalhada. Nos dias 20 e 21 de maio o STF pretende julgar 12 envolvidos.

Essa semana, áudios que fazem parte do processo que investiga a tentativa de golpe de Estado revelam detalhes das conversas do policial federal Wladimir Soares, preso e denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Nas gravações, ele afirma que estava “preparado” para prender o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e que a equipe à qual pertencia impediria a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os materiais integram um relatório entregue ao STF e servirão de base para julgamento do chamado “núcleo 3” da trama golpista, previsto para a próxima semana.

A apreensão do celular de Soares em novembro de 2023 permitiu a PF acessar uma série de mensagens e áudios que reforçam, segundo os investigadores, a existência de uma organização que pretendia manter Jair Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota eleitoral. Em um dos áudios, datado de 2 de janeiro de 2023, o agente relata: "A gente estava preparado para isso, inclusive. Para ir prender o Alexandre Moraes. Eu ia estar na equipe".

Em outro trecho, Soares menciona o suposto papel de um grupo armado de elite pronto para agir, caso recebesse aval de Bolsonaro. "Nós fazíamos parte, fazíamos, de uma equipe de operações especiais que estava pronta para defender o presidente armado, sabe, e com poder de fogo elevado pra empurrar quem viesse à frente, entendeu velho? A gente estava pronto. Só que aí o presidente… esperávamos só o ok do presidente, uma canetada para a gente agir".

A falta de ação, segundo ele, se deu por não ter apoio das Forças Armadas. "O presidente deu para trás, porque na véspera que a gente ia agir, o presidente foi traído dentro do Exército. Os generais foram lá e deram a última forma e disseram que não iam mais apoiar ele". A disposição para o uso da força também aparece de maneira explícita nas gravações, quando ele afirma que muitas pessoas iam morrer. "A gente ia com muita vontade, a gente ia empurrar meio mundo de gente. Matar meio mundo de gente. Estava nem aí já, cara".

Nos áudios, o agente afirma que o Ministério das Relações Exteriores (MRE) nem havia preparado a cerimônia de posse presidencial, pois a expectativa entre os apoiadores de Bolsonaro era de que Lula não assumiria o cargo. "O povo aqui está desolado, ninguém entende. O próprio MRE, velho, os caras não entendiam, não se prepararam para essa posse, porque não ia ter posse, cara, nós não íamos deixar", diz um dos trechos do áudio.

Ainda segundo Soares, a resistência dos generais à trama teria sido o maior entrave e que, apenas o então comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, estaria disposto a apoiar. “E Bolsonaro… faltou um pulso para dizer, não tem um general, tem um coronel. Vamos com os coronéis, porque a tropa toda queria. Toda. 100%. Só os generais que não deixavam".

Em outro áudio, de janeiro de 2023, Soares diz que "Garnier foi o único (a apoiar), cara, o único. A Marinha desde o começo, foi a única que apoiou ele 100%. O resto tirou o corpo".

Wladimir Soares, lamenta, em outro diálogo, a falta de articulação política de Bolsonaro para concretizar os planos. “Não vai mais rolar! O técnico não conseguiu os jogadores certos.” A frase foi enviada a interlocutores após operação da PF contra bolsonaristas que haviam depredado a sede da corporação em Brasília.

A denúncia da PGR sustenta que os ex-comandantes Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos Baptista Junior (Aeronáutica) se recusaram a aderir ao plano golpista, mas que Almir Garnier (Marinha) teria concordado. Tanto Bolsonaro quanto Garnier já respondem a ações no Supremo Tribunal Federal. Ambos negam envolvimento em qualquer articulação contra a ordem democrática. O Correio entrou em contato com os advogados de defesa para obter mais detalhes, mas não recebeu retorno.

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