Da Honda à Louis Vuitton: há empresas que estão a seguir Trump e a ganhar força nos EUA

Empresas de vários setores manifestaram interesse em aumentar a sua capacidade local para apaziguar Presidente americano, contudo há analistas a alertar para o aumento de custos para consumidores e empresas.

Abr 28, 2025 - 09:44
 0
Da Honda à Louis Vuitton: há empresas que estão a seguir Trump e a ganhar força nos EUA

A guerra tarifária lançada contra o mundo pelo presidente dos EUA, Donald Trump, teve inúmeras consequências negativas para a maior economia do mundo: quedas generalizadas em Wall Street, uma deterioração preocupante no mercado de dívida dos EUA, a desvalorização do dólar, uma desaceleração do crescimento para este ano prevista pelo FMI e a imposição de tarifas retaliativas por parte de países terceiros.

Apesar deste acumular de más notícias, a Casa Branca refugia-se nos anúncios (ou demonstrações de intenção) de empresas de diversos setores em aumentar a sua capacidade de produção em Terras doTio Sam e, assim, evitar as tarifas de Trump. Decisões apresentadas como sucesso pela administração Trump são, no entanto, manchadas pelos especialistas apontando os efeitos colaterais como causa: aumento de custos e um peso pesado nos bolsos dos consumidores americanos.

A lista de empresas que decidiram colaborar com os esforços de Trump é diversa: desde a fabricante japonesa de automóveis Honda à produtora italiana de bebidas Campari, à marca de luxo francesa Louis Vuitton e à gigante farmacêutica suíça Roche.

A Honda anunciou que estava a transferir a produção da versão híbrida do modelo Civic do Japão para os EUA. A Campari e a Louis Vuitton, por sua vez, manifestaram interesse em aumentar a capacidade de produção no país, enquanto a Roche anunciou um investimento de 50 mil milhões de dólares (43,97 mil milhões de euros à taxa de câmbio atual) nos próximos cinco anos.

“Estes anúncios não são simplesmente uma reação temporária das empresas; visam evitar os efeitos das tarifas impostas por Trump ou por qualquer outro presidente que venha depois de Trump, como Vance”, explica ao jornal espanhol Cinco Días Rafael Pampillón Olmedo, professor de Economia na Universidade CEU San Pablo.

Uma medida em que as empresas “não só procuram reduzir custos imediatos, como tarifas sofridas, mas também adaptar-se a um ambiente comercial cada vez mais protecionista”. Ainda assim, o professor alerta para as consequências destas transferências: “Podem desencadear uma reconfiguração completa das cadeias de abastecimento”.

Nem todas as vozes dos especialistas são críticas: “A situação atual apresenta um elevado nível de incerteza, dado que as tarifas finais que serão aplicadas a outras regiões e os incentivos fiscais que o governo pretende implementar são ainda desconhecidos. Várias empresas já anunciaram a intenção de abrir novas instalações nos EUA, como a Nvidia, que irá fabricar os seus chips de IA Blackwell pela primeira vez no país, em colaboração com a TSMC, e já está a construir centros no Texas com a Foxconn”, explica, ao mesmo jornal, Adam Miquel, diretor de investimentos alternativos da Aurica Capital, que sugere que a deslocalização de empresas beneficiará setores como o dos serviços electrónicos, com a possível abertura de centenas de data centers, que exigem desde o acesso à rede elétrica até à instalação de módulos específicos.

A TSMC anunciou em março um investimento de 100 mil milhões de dólares para produzir chips nos EUA, somando aos 65 mil milhões já anunciados durante a administração de Joe Biden. Na verdade, estes investimentos em chips beneficiam da inundação de subsídios, deduções, empréstimos e garantias que lhes são fornecidos pelo Chip Act de 2022 do governo de Biden, que totaliza cerca de 280 mil milhões de dólares e tinha como objetivo garantir a produção nacional de semicondutores. Além da TSCM, a Micron, a Samsung e a Intel beneficiaram com isso.