Em questão de dias, tarifaço de Trump vai cair como um meteoro sobre a economia americana

As tarifas impostas pelos Estados Unidos à China provocaram uma queda de até 60% nos embarques de carga desde o início de abril, e essa redução logo será sentida pelos consumidores americanos. Até meados de maio, milhares de empresas precisarão reabastecer seus estoques, o que poderá levar a prateleiras vazias, preços mais altos e a […] O post Em questão de dias, tarifaço de Trump vai cair como um meteoro sobre a economia americana apareceu primeiro em O Cafezinho.

Abr 28, 2025 - 12:44
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Em questão de dias, tarifaço de Trump vai cair como um meteoro sobre a economia americana

As tarifas impostas pelos Estados Unidos à China provocaram uma queda de até 60% nos embarques de carga desde o início de abril, e essa redução logo será sentida pelos consumidores americanos.

Até meados de maio, milhares de empresas precisarão reabastecer seus estoques, o que poderá levar a prateleiras vazias, preços mais altos e a uma escassez semelhante à observada durante a pandemia de Covid-19, além de demissões significativas nos setores de transporte rodoviário, logística e varejo.

Mesmo que a guerra comercial diminua, a retomada do comércio transpacífico trará novos riscos, como portos sobrecarregados, atrasos e custos mais altos, efeitos que podem se estender até a temporada de Natal.

As tarifas do presidente Donald Trump abalaram Washington e Wall Street nas últimas semanas. Se a guerra comercial persistir, a próxima crise atingirá o consumidor diretamente.

Desde que os EUA aumentaram as tarifas sobre a China para 145% no início de abril, os embarques caíram drasticamente, uma queda que ainda não foi plenamente sentida pelos americanos, mas que em breve será inevitável.

Até meados de maio, empresas grandes e pequenas precisarão repor seus estoques. Varejistas como Walmart Inc. e Target Corp. alertaram Trump em uma reunião na semana passada sobre a possibilidade de prateleiras vazias e preços mais altos. Torsten Slok, economista-chefe da Apollo Management, previu escassez semelhante à da Covid-19 e demissões em massa.

Apesar dos sinais de Trump sobre uma possível flexibilização das tarifas, pode ser tarde demais para evitar o choque de oferta, que poderá afetar a economia dos EUA até o fim do ano.

“O tempo está correndo”, disse Jim Gerson, presidente da The Gersons Companies, fornecedora de decoração e velas para o varejo. Baseada em Olathe, Kansas, a empresa depende da China para mais da metade de seus produtos e possui cerca de 250 contêineres prontos para embarque.

“Precisamos resolver isso, e logo”, afirmou Gerson, cuja companhia gera cerca de US$ 100 milhões em vendas anuais.

O volume de carga com destino aos EUA caiu cerca de 40% desde o pico deste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg até 26 de abril.

Mesmo quando as tensões diminuírem, reiniciar o comércio transpacífico trará novos desafios. A indústria de frete reduziu sua capacidade devido à menor demanda, o que poderá gerar atrasos e aumento de custos com a retomada dos pedidos.

“Os portos são projetados para fluxos estáveis, não para variações bruscas”, disse Lars Jensen, CEO da consultoria Vespucci Maritime.

As tarifas vieram em um momento crucial para o varejo, quando fornecedores normalmente começam a reforçar os estoques para as temporadas de volta às aulas e Natal. Muitas mercadorias para o final do ano devem começar a ser embarcadas nas próximas semanas.

“Estamos paralisados”, disse Jay Foreman, CEO da fabricante de brinquedos Basic Fun, da Flórida, fornecedora de grandes varejistas como Amazon.com Inc. e Walmart. Ele chamou as tarifas de “embargo de fato” e alertou que, se continuarem, os pedidos começarão a ser cancelados.

“Temos algumas semanas antes de começar a doer de verdade”, disse Foreman, cuja empresa gera US$ 200 milhões por ano e depende da China para cerca de 90% de seus produtos.

O impacto já é visível na Ásia, onde cerca de 40 navios que saíram da China estão a caminho dos EUA, uma queda de aproximadamente 40% desde o início de abril.

Esses navios transportam cerca de 320.000 contêineres, cerca de um terço a menos do que após o anúncio das novas tarifas.

Judah Levine, chefe de pesquisa da Freightos, disse que importadores americanos estão adiantando pedidos de outros parceiros comerciais para mitigar o impacto das tarifas.

Com os produtos chineses mais caros, alguns importadores estão buscando fornecedores no sudeste asiático.

A Hapag-Lloyd AG, quinta maior transportadora mundial de contêineres, relatou cancelamentos de cerca de 30% nas reservas de carga da China para os EUA, mas aumento nos embarques do Camboja, Tailândia e Vietnã.

Apesar dessas mudanças, Levine alertou para a possibilidade de uma desaceleração significativa e problemas de congestionamento na retomada.

Com a queda da demanda, as transportadoras reduziram drasticamente a capacidade para evitar o colapso nas tarifas de frete marítimo. Em abril, houve cerca de 80 cancelamentos de rotas da China para os EUA, 60% a mais do que em qualquer mês da pandemia, segundo John McCown.

“O setor de transporte de contêineres nunca enfrentou ventos contrários tão fortes quanto agora”, disse McCown.

As tarifas provocaram uma queda nas taxas de frete, que se aproximam dos níveis mínimos de 2023.

A Organização Mundial do Comércio advertiu que o comércio de bens entre EUA e China pode cair até 80%, reforçando a avaliação do secretário do Tesouro, Scott Bessent, de que a situação atual equivale a um embargo comercial.

Essa incerteza levou economistas a elevarem suas previsões de inflação, já que a oferta restrita poderá impulsionar os preços.

Executivos afirmam que alguns preços de produtos chineses poderão dobrar, agravando o pessimismo dos consumidores.

Se a guerra comercial persistir, fornecedores e varejistas terão de tomar decisões difíceis para o segundo semestre, como quais produtos importar e quanto aumentar os preços.

Com o cancelamento de pedidos, os varejistas terão de procurar mercadorias nos EUA e em outros mercados, mesmo que sejam estoques antigos.

Economistas esperam que as importações americanas caiam 7% no segundo trimestre, a maior queda desde a pandemia.

O choque de oferta iminente poderá levar empresas a cortar custos, inclusive demitindo funcionários, ou a contrair dívidas caras.

Foreman compara a situação à pandemia, mas alerta que o impacto atual pode ser mais duradouro e catastrófico.

“A Covid tinha muitas incertezas, mas as cadeias de suprimento se recuperaram rapidamente. Agora, a solução poderia vir mais rápido, mas os efeitos persistentes podem ser piores”, disse.

Matthew Townsend, James Mayger e Augusta Saraiva
27 de abril de 2025
Bloomberg

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