Crítica | Thunderbolts*
Há um esforço aparente da equipe criativa para fazer Thunderbolts* (2025) ser decente. No fim, eles até conseguem, mas não sem sair da cansada Fórmula Marvel O post Crítica | Thunderbolts* apareceu primeiro em O Vício.

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A indústria do cinema discute em looping se um filme realmente precisa ter algo a dizer para ser bom ou se a arte pode ser totalmente sustentada por entretenimento vazio, desde que entregue uma experiência imersiva e envolvente para o público. Nessa grande guerra entre tema e método, a Marvel Studios vem sendo baleada dos dois lados, pois, salvo algumas exceções, seus filmes mais recentes não apenas têm sido vazios, mas também pouco atraentes. Thunderbolts* (2025) ainda não é a resposta do estúdio à própria mediocridade comodista, conquistada em uma época em que qualquer coisa que saísse com o selo do MCU seria um sucesso. No entanto, é um filme decente que se esforça para fazer as coisas direito, e isso merece reconhecimento.
Havia dúvida quanto a como o diretor Jake Schreier iria dar sentido à reunião da "raspa do tacho" desse universo compartilhado. Ele não se complica e conta uma história sobre pessoas rejeitadas, utilizando a saúde mental como tema. Embora Thunderbolts* (2025) soe como uma explicação do que são depressão e ansiedade para crianças de 4 anos, há de exaltar seu esforço para debater algo tão relevante atualmente.

Thunderbolts* (2025) está longe de ser visualmente espetacular, mas é abastecido de ideias interessantes. A forma como a fotografia usa o vazio e as sombras é eficiente para imprimir o sentimento de tristeza dos seus protagonistas. Ponto para o diretor de fotografia, Andrew Droz Palermo, que consegue atribuir sentido ao filtro cinza lavado da Marvel Studios.
Jake Schreier reuniu uma equipe técnica dedicada. Além da fotografia ser municiada por boas ideias, a trilha sonora da Son Lux é precisa em estabelecer a personalidade melancólica que o projeto precisa — destaque para o tema de Yelena Belova (Florence Pugh), composto em cima das notas de "Where Is My Mind", do Pixies. Da parte da roteirista Joanna Calo, é decepcionante que ela não tenha conseguido se aprofundar em como os personagens caem em seu próprio vácuo tentando preencher seus vazios. Ela até cita drogas, vício em dopamina, mas, por motivos de para quem está trabalhando, sente-se forçada a apenas mostrar isso superficialmente. Bem, talvez tenha faltado um pouco de habilidade em se aprofundar de forma mais sugestiva.
Se, por um lado, reuniu uma equipe inspirada, Schreier parece não ter se inspirado tanto em suas escolhas na ação. Embora a sequência com o grupo lutando entre si dentro de um incinerador seja bem executada, é inevitável a sensação de que o diretor, sendo burocrático demais, desperdiça trabalhos práticos que dificilmente são realizados no MCU, como o salto de Florence Pugh do segundo maior prédio do mundo, em Kuala Lumpur, na Malásia.
Embora manifeste esse interesse em diferentes ocasiões, Thunderbolts* (2025) não consegue provocar sentimento de risco em momento algum. Quando constrói a atmosfera para isso, você ainda não se importa com os seus personagens, mas quando você passa a se importar, essa atmosfera não se solidifica.

Como em qualquer outro filme padrão do MCU, há muito humor bobo. Muitas vezes não funciona, mas quase sempre dá certo com David Harbour. O timing cômico do ator do Guardião Vermelho, que foi um problema em Viúva Negra (2021), é um dos melhores elementos de Thunderbolts* (2025). Aliás, a interação do grupo funciona principalmente pela dedicação do elenco em atribuir carisma aos personagens. O que é menos difícil para quem trabalha com um arco minimamente desenvolvido, como Harbour, Florence, Lewis Pullman e Wyatt Russell, e impossível para Olga Kurylenko, que está no filme só para ter seu nome nos créditos.
Por vezes — e também como qualquer outro filme padrão do MCU —, Thunderbolts* (2025) é autorreferencial demais. No final, dispensa seu tema e o tom melancólico para ser mais uma configuração barata para o futuro. É mais um dos filmes feitos como em linha de montagem de fast food. Este ao menos tem um acabamento mais bem elaborado e até se vende como algo de uma linha gourmet — vide a autocomparação do marketing da Marvel com a A24.

Em Thunderbolts* (2025), até há algo a dizer, mas falta coragem para se aprofundar na mensagem. O método até é interessante e bem bolado, mas não é muito envolvente. É como se, na discussão sobre o valor do cinema como arte, o filme ficasse em um meio-termo, como a parábola do pato. O pato corre, nada e voa, mas não faz nenhuma das três atividades direito.
A essa altura do campeonato, esperar que a Marvel Studios mude sua abordagem com o cinema é o mesmo que esperar que caia do céu uma chuva torrencial de vacas. Thunderbolts* (2025) é um cavalo cansado, mas bom de arranque, que acorda inspirado para sua corrida. No começo até empolga, mas o resultado é o mesmo de sempre. Há de se reconhecer, no entanto, o esforço do equino de ao menos tentar entregar algo diferente.
Em síntese, há de se reconhecer os esforços de Jake Schreier e equipe em tentar, de fato, fazer um filme, e não uma simples peça comercial.
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