Crítica | Andor – 2ª temporada

O novo ano vai além do maniqueísmo tradicional de Star Wars, dobrando a aposta em um thriller de espionagem sofisticado O post Crítica | Andor – 2ª temporada apareceu primeiro em O Vício.

Abr 21, 2025 - 18:46
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Crítica | Andor – 2ª temporada

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Em seu primeiro ano, Andor deu rosto aos rebeldes e agentes do Império, mostrando como uma história se fortalece quando os personagens são o foco narrativo. Na 2ª temporada, Tony Gilroy ganha campo para dobrar a aposta em um thriller de espionagem sofisticado, que supera o maniqueísmo tradicional de Star Wars ao examinar as complexidades de uma revolução.

Com grande colaboração dos intérpretes de Dedra Meero (Denise Gough) e Syril (Kyle Soller), Andor retorna com seus característicos tons de cinza, que não absolvem o Império, mas conferem motivações palpáveis às suas decisões opressivas. Essa complexidade moral se estende aos rebeldes, onde decisões pragmáticas por vezes os levam a tratar pessoas como números, espelhando-se nos imperiais. A nova temporada centraliza a discussão em como o egoísmo pode fragilizar até as forças mais sólidas, com os personagens navegando constantemente entre o ego e o sacrifício.

Reprodução/Lucasfilm

Desde o primeiro minuto da nova temporada, Cassian já aparenta estar deixando o egoísmo de lado, e a completa libertação desse sentimento é o que marca a transição do espião para o herói rebelde. Nesse sentido, a forma como Diego Luna constrói diferentes posturas e expressões para o personagem, favorecida pelo formato de divisão da temporada em quatro arcos de três episódios, enriquece muito a história. Os saltos temporais de um ano, por vezes abruptos, são recompensados pela possibilidade de investigar as nuances do protagonista e o quanto ele é influenciado por aqueles ao seu redor.

A excelente escrita de Andor evita a exaustão da imagem de seu protagonista, enriquecendo a narrativa com um elenco de coadjuvantes fascinantes. Faye Marsay, mesmo com menos tempo de tela, brilha intensamente. Adria Arjona e Stellan Skarsgård entregam performances novamente incríveis, com Skarsgård sendo o motor propulsor da série. Contudo, o destaque absoluto fica para Elizabeth Dulau e Genevieve O'Reilly, as verdadeiras craques da produção.

A fisicalidade de O'Reilly como Mon Mothma – constantemente desconfortável, como se carregasse um enorme peso na garganta – transmite sutilmente uma dor reprimida. Escolher a Batalha de Gorman como evento central da temporada foi uma decisão narrativa perspicaz em termos de lore, mas impôs à atriz seu maior desafio na franquia, dada a importância da participação de sua personagem no evento. Contudo, quando exigida, O'Reilly se liberta desse peso com maestria.

Reprodução/Lucasfilm

Elizabeth Dulau, por sua vez, eleva Kleya de uma simples ajudante de Luthen a um dos maiores símbolos de sacrifício da franquia. Seu trabalho personifica a clássica alegoria de Star Wars: a grandiosidade surge de onde menos se imagina.

Em todos os aspectos, da estética à narrativa, a tangibilidade do mundo de Andor estabelece uma fácil identificação com a trama. A tensão da série é quase física, espelhando a angústia dos personagens. Essa opressão encontra alívio apenas no desfecho, notavelmente mais leve. A intenção, no entanto, não é o riso fácil, mas sim a de entregar uma história inspiradora.

Ainda impressiona que uma série derivada de um filme derivado seja o material mais original produzido na franquia em décadas. Talvez pela ausência de sabres de luz, alguns fãs torçam o nariz, dizendo que Andor não é Star Wars. No entanto, o foco das histórias de George Lucas nunca foram seres místicos e armas luminosas, mas sim como criaturas de diferentes origens podem derrotar uma força muito maior ao se unirem por uma causa. A série de Tony Gilroy traz, sim, uma ótica diferente, mas a essência permanece.

A vastidão de Star Wars clama por abordagens criativas diversas. É crucial assumir mais riscos, a exemplo de Andor, do início de The Mandalorian e até da franquia de games Star Wars Jedi. Se projetos futuros da franquia explorarem diferentes gêneros, os fãs serão os grandes vencedores, pois esse universo seguirá vivo e relevante.

Reprodução/Lucasfilm

Em uma franquia onde o genérico é a regra e o novo não é bem-vindo, Andor é rebelde o suficiente para contar uma história nova e, ao mesmo tempo, familiar, sobre pessoas de diferentes credos e culturas dando tudo de si em uma incansável – e talvez infinita – luta por aquilo em que acreditam. Esta é uma obra que cumpre com excelência a demanda de qualquer material derivado: enriquece o material do qual se inspira, no caso, Rogue One: Uma História Star Wars (2016).

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Nota 10

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