Crítica | Andor – 2ª temporada
O novo ano vai além do maniqueísmo tradicional de Star Wars, dobrando a aposta em um thriller de espionagem sofisticado O post Crítica | Andor – 2ª temporada apareceu primeiro em O Vício.

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Em seu primeiro ano, Andor deu rosto aos rebeldes e agentes do Império, mostrando como uma história se fortalece quando os personagens são o foco narrativo. Na 2ª temporada, Tony Gilroy ganha campo para dobrar a aposta em um thriller de espionagem sofisticado, que supera o maniqueísmo tradicional de Star Wars ao examinar as complexidades de uma revolução.
Com grande colaboração dos intérpretes de Dedra Meero (Denise Gough) e Syril (Kyle Soller), Andor retorna com seus característicos tons de cinza, que não absolvem o Império, mas conferem motivações palpáveis às suas decisões opressivas. Essa complexidade moral se estende aos rebeldes, onde decisões pragmáticas por vezes os levam a tratar pessoas como números, espelhando-se nos imperiais. A nova temporada centraliza a discussão em como o egoísmo pode fragilizar até as forças mais sólidas, com os personagens navegando constantemente entre o ego e o sacrifício.

Desde o primeiro minuto da nova temporada, Cassian já aparenta estar deixando o egoísmo de lado, e a completa libertação desse sentimento é o que marca a transição do espião para o herói rebelde. Nesse sentido, a forma como Diego Luna constrói diferentes posturas e expressões para o personagem, favorecida pelo formato de divisão da temporada em quatro arcos de três episódios, enriquece muito a história. Os saltos temporais de um ano, por vezes abruptos, são recompensados pela possibilidade de investigar as nuances do protagonista e o quanto ele é influenciado por aqueles ao seu redor.
A excelente escrita de Andor evita a exaustão da imagem de seu protagonista, enriquecendo a narrativa com um elenco de coadjuvantes fascinantes. Faye Marsay, mesmo com menos tempo de tela, brilha intensamente. Adria Arjona e Stellan Skarsgård entregam performances novamente incríveis, com Skarsgård sendo o motor propulsor da série. Contudo, o destaque absoluto fica para Elizabeth Dulau e Genevieve O'Reilly, as verdadeiras craques da produção.
A fisicalidade de O'Reilly como Mon Mothma – constantemente desconfortável, como se carregasse um enorme peso na garganta – transmite sutilmente uma dor reprimida. Escolher a Batalha de Gorman como evento central da temporada foi uma decisão narrativa perspicaz em termos de lore, mas impôs à atriz seu maior desafio na franquia, dada a importância da participação de sua personagem no evento. Contudo, quando exigida, O'Reilly se liberta desse peso com maestria.

Elizabeth Dulau, por sua vez, eleva Kleya de uma simples ajudante de Luthen a um dos maiores símbolos de sacrifício da franquia. Seu trabalho personifica a clássica alegoria de Star Wars: a grandiosidade surge de onde menos se imagina.
Em todos os aspectos, da estética à narrativa, a tangibilidade do mundo de Andor estabelece uma fácil identificação com a trama. A tensão da série é quase física, espelhando a angústia dos personagens. Essa opressão encontra alívio apenas no desfecho, notavelmente mais leve. A intenção, no entanto, não é o riso fácil, mas sim a de entregar uma história inspiradora.
Ainda impressiona que uma série derivada de um filme derivado seja o material mais original produzido na franquia em décadas. Talvez pela ausência de sabres de luz, alguns fãs torçam o nariz, dizendo que Andor não é Star Wars. No entanto, o foco das histórias de George Lucas nunca foram seres místicos e armas luminosas, mas sim como criaturas de diferentes origens podem derrotar uma força muito maior ao se unirem por uma causa. A série de Tony Gilroy traz, sim, uma ótica diferente, mas a essência permanece.
A vastidão de Star Wars clama por abordagens criativas diversas. É crucial assumir mais riscos, a exemplo de Andor, do início de The Mandalorian e até da franquia de games Star Wars Jedi. Se projetos futuros da franquia explorarem diferentes gêneros, os fãs serão os grandes vencedores, pois esse universo seguirá vivo e relevante.

Em uma franquia onde o genérico é a regra e o novo não é bem-vindo, Andor é rebelde o suficiente para contar uma história nova e, ao mesmo tempo, familiar, sobre pessoas de diferentes credos e culturas dando tudo de si em uma incansável – e talvez infinita – luta por aquilo em que acreditam. Esta é uma obra que cumpre com excelência a demanda de qualquer material derivado: enriquece o material do qual se inspira, no caso, Rogue One: Uma História Star Wars (2016).
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