Campanha eleitoral arranca em tom “agressivo”. Spinumviva, SNS e habitação aquecem os motores das caravanas
A campanha oficial para as eleições legislativas de 18 de maio arranca este domingo, dia 4, e termina a 16. As tropas partidárias já estão na rua a postos para conquistar o voto nas urnas, num tom que se espera “agressivo”, mas “desmobilizador e pouco esclarecedor”, a não ser que haja “surpresas”. A polémica, que […]


A campanha oficial para as eleições legislativas de 18 de maio arranca este domingo, dia 4, e termina a 16. As tropas partidárias já estão na rua a postos para conquistar o voto nas urnas, num tom que se espera “agressivo”, mas “desmobilizador e pouco esclarecedor”, a não ser que haja “surpresas”.
A polémica, que agora reacendeu, em torno da Spinumviva, empresa familiar de Luís Montenegro, será usada pela oposição, designadamente pelo PS, como arma contra o ainda primeiro-ministro. No entanto, terá um “efeito mais mediático do que junto do eleitor”. Na realidade, e apesar deste caso, o líder do PSD parte “com alguma vantagem” sobre Pedro Nuno Santos, concluem vários politólogos consultados pelo ECO.
A crise no Serviço Nacional de Saúde (SNS), com o fecho de várias urgências aos fins de semana e a falta de médicos de família para todos os utentes, o drama na habitação, com os preços a subir para valores incomportáveis para as famílias, custo de vida, impostos e salários serão outros dos temas que vão aquecer os motores das caravanas, segundo as análises de Paula Espírito Santos, Filipa Raimundo, Hugo Ferrinho Lopes e Bruno Costa, especialistas em Ciência Política.
A divulgação de novos clientes da Spinumviva, alguns dos quais com uma longa relação contratual de várias dezenas de milhões de euros com o Estado, como é o caso da ITAU, que fornece refeições em cantinas, veio dar uma nova centralidade a um eventual conflito de interesses entre o cargo de primeiro-ministro e o exercício de funções no privado. E é um assunto que vai ser explorado ao máximo pelo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos.
“O caso Spinumviva é um dos temas que se irá manter na campanha e vai denegrir a imagem do primeiro-ministro, mas pode não ter efeitos eleitorais, porque é um tema que está ao nível da ética, não tem a ver com a legalidade pelo menos para já. O caso Spinumviva terá mais efeitos mediáticos do que do ponto de vista eleitoral”, segundo Paula Espírito Santo, professora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa (ISCSP).
O caso Spinumviva é um dos temas que se irá manter na campanha e vai denegrir a imagem do primeiro-ministro, mas pode não ter efeitos eleitorais.
Alinhando pelo mesmo diapasão, Filipa Raimundo, professora de Ciência Política do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, reconhece que pensava que “o caso Spinumviva ia morrer”, mas, conclui, que “agora assume uma nova importância”.
Porém, “e sabendo que o eleitorado tem alguma tolerância com as questões da corrupção”, a politóloga salienta que a polémica em torno da empresa familiar de Montenegro poderá não ser suficiente para derrubar o incumbente. “O eleitorado deverá preferir uma continuidade do Governo do que uma mudança, sobretudo quando não há uma clarificação”, aponta.
Ainda assim, o PSD tem sido alvo de duras críticas, quando pediu à PSP para investigar a origem da fuga de informação, que deu origem à notícia do Expresso, relativamente à declaração de substituição que Montenegro entregou na Entidade para a Transparência e que nem sequer se encontrava, na altura, disponível na plataforma. “É um ataque ao jornalismo e isto é muito crítico, mas terá mais um efeito mediático”, sublinha Paula Espírito Santo.
Argumentos que se vão esgrimindo de um lado e do outro da barricada, mas que parecem não estar a surtir o efeito desejado por Pedro Nuno Santos. “O PS não está a conseguir capitalizar uma conjuntura desfavorável, o facto de o primeiro-ministro estar fragilizado, pelo menos olhando para as sondagens e para a forma como a pré-campanha tem decorrido”, de acordo com Filipa Raimundo.
Os últimos estudos de opinião têm dado vantagem à AD em relação ao PS e pontuado melhor Luís Montenegro em comparação com Pedro Nuno Santos. Por outro lado, e ainda de acordo com as mesmas sondagens, parece mais viável perspetivar uma maioria parlamentar à direita do que à esquerda.
O PS não está a conseguir capitalizar uma conjuntura desfavorável, o facto de o primeiro-ministro estar fragilizado, pelo menos olhando para as sondagens e para a forma como a pré-campanha tem decorrido.
Para além disso, “alguns estudos internacionais indicam que casos como o da Spinumviva não são decisivos em eleições, a não ser que haja uma confirmação total de corrupção que coloque em causa Luís Montenegro”, completa Bruno Costa, professor de Ciência Política da Universidade da Beira Interior. “Há muito jogo de campanha, muito jogo de retórica e os eleitores deixam de ter a capacidade de analisar. A questão fica partidarizada”, vinca.
Aparte os escândalos que consomem a espuma dos dias, outros dossiês vão estar em foco nesta campanha eleitoral. “Os dados mais recentes do Eurobarómetro, de novembro de 2024, indicam que os problemas considerados mais importantes pelos eleitores portugueses são os custos de vida/inflação (43%), a saúde (36%) e a habitação (28%)”, indica Hugo Ferrinho Lopes, investigador de doutoramento do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
Por isso, é expectável que “a campanha seja fortemente dominada por estes três temas: custos de vida (incluindo economia, salários e inflação) e as crises no SNS e na habitação”, conclui o mesmo politólogo.
A descida dos impostos será outro tópico que vai marcar os discursos dos líderes partidários. Até porque há propostas em vários sentidos. PS aposta no IVA zero para um cabaz de bens alimentares essenciais, na redução fiscal da luz e do IUC, enquanto a AD defende uma nova redução do IRS e do IRC.
Propaganda “violenta” e pouco clarificadora
O tom da campanha será “agressivo, duro e violento”, projetam os quatro politólogos ouvidos pelo ECO. Pelo que se tem assistido em período de pré-campanha, “os partidos estão empenhados em apontar os pontos negativos dos seus opositores”, sublinha Filipa Raimundo. “É um estilo que nem sempre dominou as campanhas nacionais e até pode ter um efeito desmobilizador. Os eleitores podem ficar mais baralhados“, alerta.
Corroborando a mesma tese, Paula Espírito Santos considera que apesar da “agressividade” na disputa eleitoral, “a campanha não deverá mobilizar os eleitores, porque não será muito esclarecedora”.
“Os 20% a 15% de indecisos aguardam pela atualidade. Ainda assim, a campanha pode trazer elementos novos e acentuar ou não a caminhada dos partidos e exacerbar alguma força política. Tudo é possível. Mas, se as eleições fossem hoje, não haveria para já surpresas relativamente há um ano”, conclui. “A não ser que surjam surpresas, que mudem o rumo da campanha”, salvaguarda Filipa Raimundo.
A polémica em torno do caso Spinumviva é, na perspetiva de Hugo Ferrinho Lopes, “o que vai agravar o tom agressivo” dos discursos das principais forças partidárias, AD e PS, “com trocas constantes de acusações relacionadas com a integridade política e pessoal dos candidatos”.
Spinumviva vai agravar o tom agressivo, com trocas constantes de acusações relacionadas com a integridade política e pessoal dos candidatos.
Mas não só. O ónus sobre “a responsabilidade pela convocação de eleições antecipadas” também será usado como arma de arremesso entre Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos. O líder do PSD vai acusar o opositor de ter chumbado a moção de confiança e interromper o trabalho que estava a ser feito e o secretário-geral do PS vai devolver o ataque com o argumento de que o Governo poderia ter deixado cair a moção, sabendo à partida que os socialistas não a aprovariam.
Por outro lado, “há pequenos partidos no Parlamento que lutam pela sua sobrevivência e que vão ter de dar tudo por tudo nesta campanha”, sublinha Bruno Costa. O PAN, que já teve um grupo parlamentar, ficou reduzido a uma deputada única. PCP e BE também perderam cadeiras no Parlamento, na sequência das eleições legislativas de há um ano.
E “há novos pequenos partidos antissistema que estão a surgir e têm dinheiro, porque receberam subvenção pública, para fazer campanha, como é o caso do ADN”, lembra o professor da Universidade da Beira Interior.
A este respeito, o politólogo dá o exemplo do episódio em que “Joana Amaral Dias interpelou Luís Montenegro”, na quinta-feira passada, na Ovibeja, acusando de excesso de velocidade e de estar a usar os carros do Estado enquanto faz campanha.
AD parte “em vantagem”
A campanha também deverá ser dominada “pelas questões de governabilidade no pós-eleições, sobre quem tem margem par governar com estabilidade com parceiros identificados e linhas vermelhas”, segundo Bruno Costa. “A AD vai pedir uma vitória folgada e o PS vai fazer o apelo ao voto útil para secar a esquerda”, acrescenta. Para o politólogo, “a AD tem aqui algum nicho de vantagem”.
“Se o eleitor olhar para a necessidade de estabilidade vai preferir a AD, mesmo desconfiando do caso Spinumviva, porque o Governo está em exercício e não tomou nenhuma medida radical como no período de Pedro Passos Coelho e até fez vários acordos com setores, satisfazendo as suas reivindicações”, de acordo com a análise do especialista em Ciência Política.
A estabilidade parece ser mais viável na continuação da AD do que com uma vitória mínima do PS, porque não há nenhuma sondagem que mostre uma maioria parlamentar à esquerda.
Há ainda outro fator que favorece Montenegro. “A estabilidade parece ser mais viável na continuação da AD do que com uma vitória mínima do PS, porque não há nenhuma sondagem que mostre uma maioria parlamentar à esquerda”, acrescenta.
Depois há obra feita que vai ser usada na propaganda. “O Governo parte com mais vantagem relativamente ao cumprimento dos objetivos, com o argumento de que se tivesse mais tempo poderia executar tudo”, sublinha Paula Espírito Santo. “A AD também vai insistir que subiu o salário mínimo, o complemento solidário para idosos e deu um bónus aos pensionistas”, argumentos que, para Bruno Costa, dão uns quilómetros de avanço a Montenegro na corrida eleitoral.
Apesar disso, os resultados podem ser diferentes, dependendo do sucesso no apelo ao voto útil. “Estudos indicam que, em eleições muito competitivas, quando existe um empate técnico entre os principais partidos, os eleitores tendem a votar estrategicamente em partidos maiores (PS ou AD) para evitar a vitória do adversário ideológico, sacrificando o apoio ao seu partido preferido se este for menor”, nota Hugo Ferrinho Lopes.
Assim, “se PS e AD forem eficazes a apelar ao voto útil, poderão concentrar votos que tradicionalmente se dispersariam por partidos menores, penalizando-os. Caso contrário, poderá verificar-se o efeito inverso: partidos menores poderão captar votos, posicionando-se como forças capazes de influenciar ou condicionar futuras alianças governativas”, acrescenta.
Montenegro e Pedro Nuno Santos começam a norte e encerram com a habitual arruada em Lisboa

As caravanas partidárias arrancam oficialmente este domingo e vão percorrer o país de norte a sul para tentar convencer o eleitorado. Luís Montenegro, líder da AD – coligação PSD/CDS, parte para Bragança, onde vai estar de manhã, na Feira das Cantarinhas, seguindo à tarde para a Festa das Cruzes, em Barcelos. O secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, também escolheu o norte. Começa em Viana do Castelo e depois segue para Braga. Ambos encerram a campanha com as tradicionais arruadas em Lisboa, segundo a informação enviada pelos partidos ao ECO.
O presidente do Chega, André Ventura, arranca na Guarda. Os restantes partidos com assento parlamentar preferiram começar mais a sul. Rui Rocha, líder da IL, “estará em Setúbal para uma visita ao Mercado do Livramento, seguida de uma ação de contacto com a população e um almoço”, de acordo com uma nota do partido.
A caravana do BE faz a primeira paragem em Almada, onde a sua coordenadora, Mariana Mortágua, irá participar no debate “A Esquerda Europeia com o Bloco”, que contará com intervenções de Li Andersson, da Aliança de Esquerda da Finlândia, de Irene Montero, do Podemos de Espanha, de Manon Aubr, da França Insubmissa.
O secretário-geral do PCP e líder da CDU, Paulo Raimundo, almoça em Vila Franca de Xira e, à tarde, segue para uma “Marcha do Trabalho”, no Seixal. O fundador do Livre, Rui Tavares, vai estar em campanha no Mercado da Vila em Cascais. Este concelho também foi o escolhido pela líder do PAN, Inês de Sousa Real, arrancar a campanha.
À noite, a partir das 21h30, todos os líderes partidários vão participar no debate televisivo, que decorrerá nas instalações da Nova SBE, em Carcavelos.