Cada europeu compra 19 quilos de roupa por ano e gera 16 quilos de resíduos têxteis

Os europeus nunca compraram e descartaram tantos produtos têxteis como o fazem atualmente. De acordo com um relatório da Agência Europeia do Meio Ambiente (AEMA), publicado recentemente, cada cidadão da União Europeia (UE) adquiriu, em média, 19 quilos de roupa em 2022, dois quilos a mais do que em 2019. Esse aumento reflete o impacto do crescimento económico, do e-commerce, da influência digital e dos baixos custos de produção de tecidos sintéticos, fatores que impulsionam o consumo massivo da fast fashion.

O impacto ambiental desse hiperconsumo, porém, é significativo. Em 2022, os Estados-membros da UE geraram cerca de 6,94 milhões de toneladas de resíduos têxteis, o equivalente a 16 quilos por pessoa. Além disso, a indústria têxtil utilizou 234 milhões de toneladas de matérias-primas, como petróleo, gás natural e fibras de algodão, colocando o setor na quinta posição em termos de consumo de recursos. A utilização de água também é alarmante: 5,3 mil milhões de metros cúbicos de água foram consumidos pelo setor, a maioria destinada à irrigação do algodão, com 85% desse volume utilizado fora da Europa, principalmente na Ásia.

As emissões de CO₂ também se revelam um desafio. Toda a cadeia de valor da indústria têxtil gerou 159 milhões de toneladas de dióxido de carbono em 2022, correspondendo a 355 quilos de CO₂ por pessoa, o equivalente a percorrer 1.800 quilómetros de carro a gasolina. Cerca de 70% dessas emissões ocorrem fora da Europa, reforçando o impacto ambiental da terceirização da produção.

Se o hiperconsumo é um problema, a reciclagem têxtil na UE também não ajuda. Apenas 15% dos resíduos são reciclados, enquanto 85% acabam em incineradores ou aterros. Além disso, entre 4% e 9% dos produtos têxteis comercializados na Europa são destruídos antes mesmo de serem usados, o que representa entre 264 mil e 594 mil toneladas anuais de desperdício.

A exportação de roupas usadas triplicou ao longo das últimas duas décadas, atingindo 1,4 milhão de toneladas em 2023. No entanto, apesar de ser uma medida que favorece a economia circular, grande parte desses produtos segue um percurso complexo, sendo revendidos, reciclados ou descartados em aterros e na natureza, sobretudo em países da África e Ásia.

Diante desse cenário, a diretiva de resíduos da UE exige que os Estados-membros implementem sistemas de recolha seletiva de têxteis até 2025.