Briga entre Trump e Powell, Livro Bege e temporada de resultados do 1T25 são alguns dos destaques do mercado nesta terça-feira (22); veja a agenda da semana
Mais um episódio de ruído institucional ecoa nos Estados Unidos, desta vez por conta da briga entre Donald Trump e Jerome Powell. Leia mais. O post Briga entre Trump e Powell, Livro Bege e temporada de resultados do 1T25 são alguns dos destaques do mercado nesta terça-feira (22); veja a agenda da semana apareceu primeiro em Empiricus.

Retornamos da sequência de feriados no Brasil com os mercados internacionais sinalizando uma semana que começou mal. O pano de fundo: mais um episódio de ruído institucional nos Estados Unidos, desta vez por conta da briga entre Donald Trump e Jerome Powell. O presidente americano voltou a criticar publicamente o Federal Reserve, reclamando da ausência de cortes nos juros — e reacendendo temores quanto à autonomia da autoridade monetária. Péssimo sinal para o mercado.
A tensão alimentou especulações sobre uma possível demissão de Powell — cenário improvável, mas que por si só já abala a confiança institucional. O receio de ingerência política sobre o Fed pressionou o dólar, os Treasuries e as bolsas americanas, em mais um sinal de que os mercados não lidam bem com a imprevisibilidade atual. A esta altura, parece até que Trump estudou nas escolas heterodoxas, populistas e intervencionistas da América Latina. O resultado? Um golpe na credibilidade dos EUA.
Apesar de uma tentativa de recuperação dos futuros americanos nesta manhã, os índices europeus ainda operam no vermelho, repetindo o tom negativo observado nos mercados asiáticos. A agenda do dia traz divulgações relevantes, com destaque para o Livro Bege nos Estados Unidos, a prévia da inflação no Brasil e uma nova leva de resultados corporativos por aqui e lá fora e aqui dentro.
· 00:52 — Uma reação nem tão exagerada
No Brasil, o retorno do feriado prolongado se dá sob um pano de fundo carregado, com os mercados globais ainda digerindo a nova leva de instabilidade vinda dos Estados Unidos. O desempenho fraco do EWZ — o fundo de índice que replica a Bolsa brasileira em Nova York — e a queda dos ADRs da Petrobras na segunda-feira (21) já antecipam uma postura defensiva dos investidores locais. Ainda assim, chama atenção a resiliência relativa dos emergentes. Em uma sessão que registrou perdas próximas a 3% nos principais índices americanos, o ETF de mercados emergentes recuou apenas 0,25%, e tanto Brasil quanto China sofreram menos do que Wall Street.
É um comportamento que sugere uma possível mudança de direção nos fluxos globais — uma rotação silenciosa em busca de ativos mais baratos, menos expostos à disfuncionalidade da política econômica americana. A depender do desenrolar dos próximos capítulos, os emergentes podem acabar beneficiados no relativo, especialmente em um cenário de reprecificação de risco global.
Por aqui, a semana ganha contornos corporativos, com a temporada de balanços entrando em fase importante. Os holofotes estarão voltados para os números de B3 (B3SA3) e Vale (VALE3), dois nomes com grande poder de movimentação sobre o Ibovespa. No campo macroeconômico, o único dado com potencial de impacto relevante será o IPCA-15.
Em Brasília, o foco recai sobre o avanço das discussões a respeito da reforma do Imposto de Renda — um tema que, não por acaso, costuma escorregar entre o discurso técnico e as pressões políticas. Mais uma vez, veremos o conflito entre a necessidade de um mínimo de racionalidade fiscal e o apetite por populismo tributário.
· 01:41 — O clima pesou
Nos Estados Unidos, os principais índices acionários encerraram a segunda-feira em queda expressiva, em uma sessão marcada não pela ausência de dados — mas pela ausência de qualquer âncora. Com poucos indicadores econômicos e sem grandes divulgações de balanços, os investidores tiveram tempo de sobra para se concentrar naquilo que mais tem incomodado os mercados: a crescente imprevisibilidade que emana de Washington. Entre o vaivém tarifário e os ataques reiterados do presidente Donald Trump à independência do Federal Reserve — agora com pressões mais explícitas para a substituição de Jerome Powell —, o que se acumula é ruído institucional. Caso a autonomia do Fed venha de fato a ser colocada em xeque, o impacto pode ser mais profundo do que sugere a volatilidade recente.
A confiança dos investidores estrangeiros em ativos denominados em dólar, já abalada, corre o risco de sofrer uma erosão mais estrutural. No curto prazo, o cenário segue marcado por instabilidade elevada: um mercado tecnicamente vulnerável, combinado a um governo que parece operar à base de impulsos e improvisações, não favorece a tomada de risco sustentada. Além da tensão institucional, ganha corpo a percepção de desaceleração no crescimento americano. A dúvida agora é se estamos diante de uma inflexão temporária ou do início de uma realocação estrutural de fluxos e estratégias globais. O pano de fundo é o de um mundo em transição, com seus antigos pilares — inclusive os institucionais — em processo de revisão forçada.
No radar da semana, os holofotes se voltam para a temporada de resultados. Mais de 100 empresas do S&P 500 — cerca de 22% da composição do índice — divulgam seus números nos próximos dias. Os destaques ficam por conta da Tesla (TSLA34), hoje (22), e da Alphabet (GOGL34), na quinta-feira (24). No campo macro, o Livro Bege do Federal Reserve, em sua terceira edição no ano, será publicado também na quinta-feira — e pode oferecer pistas mais sólidas sobre o ritmo da economia real em meio ao turbilhão político.
· 02:33 — Risco de ruptura
O presidente dos Estados Unidos voltou a pressionar publicamente por cortes na taxa de juros, reacendendo temores sobre a independência do Federal Reserve — um dos pilares institucionais mais valorizados pelos mercados financeiros. Em sua retórica habitual, Donald Trump chamou Jerome Powell de “um grande perdedor” e exigiu que o Fed reduza os juros “imediatamente”. Na semana anterior, foi ainda mais incisivo: declarou que a “demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”. Embora o presidente americano não tenha autoridade legal para destituir o presidente do Fed por simples vontade política, o histórico de Trump em ignorar convenções institucionais não permite que os mercados descartem essa hipótese com tranquilidade. O simples fato de que a ameaça passou a fazer parte da narrativa pública já é suficiente para corroer parte da confiança internacional nos ativos denominados em dólar.
Os ataques se intensificaram após Powell afirmar, durante um discurso no Clube Econômico de Chicago, que a política tarifária do governo republicano tende a desacelerar a economia americana — ainda que não a empurre diretamente para uma recessão — e, ao mesmo tempo, provocar alta de preços. Ou seja: uma combinação indigesta que justifica a manutenção da taxa básica entre 4,25% e 4,50% por mais tempo do que o mercado gostaria. Diante desse cenário de instabilidade fabricada, a tendência é que os ativos americanos continuem pressionados. Mesmo que haja momentos pontuais de alívio, o pano de fundo é de desconfiança: um governo errático, uma autoridade monetária sob ataque e uma política econômica reativa. Não é a combinação mais convidativa para investidores em busca de previsibilidade.
· 03:26 — As reuniões do Banco Mundial e do FMI
As Reuniões de Primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional começaram esta semana em Washington, D.C., sob o pano de fundo de uma ordem econômica internacional estremecida. Como era de se esperar, os impactos das tarifas comerciais devem dominar a pauta. Em seu discurso inaugural, a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, foi direta ao alertar sobre os riscos que a escalada protecionista representa para a economia global. Ressaltou, em especial, a vulnerabilidade das economias menores diante de choques externos, sugerindo que o antigo modelo de crescimento impulsionado pelo consumo americano talvez esteja com os dias contados. O mundo, em suas palavras, precisa se ajustar a essa nova realidade.
Nos bastidores, porém, o debate vai além dos efeitos das tarifas. Circula em Washington a inquietação sobre o futuro das próprias instituições multilaterais. Uma ala mais radical de apoio a Donald Trump defende o fim do financiamento dos EUA ao FMI e ao Banco Mundial. Ainda que nem o presidente Donald Trump nem o secretário do Tesouro, Scott Bessent, tenham sinalizado qualquer intenção de levar a proposta adiante, a simples existência desse tipo de pressão política já levanta dúvidas.
A defesa tácita de sua permanência, no entanto, repousa sobre um argumento pragmático: o FMI e o Banco Mundial, diferentemente de órgãos como a USAID, operam em lógica transacional. Eles não doam — emprestam, e com contrapartidas. Essa característica os torna menos vulneráveis a uma guinada radical na nova política econômica americana, pois podem ser vendidos politicamente como ferramentas estratégicas de influência, e não como instrumentos de filantropia disfarçada. Assim, ainda que o ambiente geopolítico siga pressionando as instituições multilaterais, sua natureza contratual — aliada à utilidade real que oferecem em tempos de turbulência — pode ser o que garantirá sua sobrevivência no radar do novo normal americano.
· 04:17 — Sede vacante
Em mais um reflexo de um tempo atravessado por transições profundas, o Papa Francisco faleceu na manhã desta segunda-feira (21), aos 88 anos, deixando o mundo católico — do qual também faço parte — em luto, oração e contemplação. Sua partida marca o fim de um papado singular, que acompanhou de perto uma década de intensas transformações globais. Com o início dos Novemdiales, os nove dias de luto oficial da Igreja, o processo sucessório já se delineia discretamente, à medida que o Colégio de Cardeais se prepara para discernir os rumos futuros da Igreja Católica.
Ainda assim, antes que os olhos do mundo se voltem exclusivamente à escolha de seu sucessor, é justo e necessário dedicar um momento à reflexão sobre o legado do 266º pontífice da Igreja Católica Apostólica Romana. Afinal, não foram poucos os desafios enfrentados nos últimos dez anos — sociais, políticos, espirituais — e Francisco, com sua presença carismática e sua disposição jesuítica, esteve no centro de muitos deles, conduzindo a Igreja com simplicidade, coragem e espírito de diálogo.
Nascido Jorge Mario Bergoglio em 17 de dezembro de 1936, em Buenos Aires, Francisco foi o primeiro papa latino-americano da história. Seu pontificado ficou marcado por uma abordagem pastoral, voltada ao diálogo, à inclusão e à justiça social. Proximidade com os pobres, gestos de simplicidade e a tentativa de abrir a Igreja a novas realidades fizeram dele uma figura de alcance global — respeitada por muitos, criticada por outros. Em temas como imigração, mudanças climáticas e sexualidade, enfrentou resistências dos setores mais conservadores da Igreja e da sociedade.
Francisco foi, em essência, um papa conectado ao espírito de sua época: buscou adaptar o discurso da Igreja aos dilemas modernos, sem abandonar a tradição, mas com disposição de reinterpretá-la. Ainda assim, enfrentou dificuldades para transformar estruturas mais rígidas. Seu legado, portanto, permanece em aberto à espera do distanciamento necessário que só o tempo pode oferecer. Levará uma geração para que sua trajetória seja compreendida em toda a sua complexidade, e para que se saiba o quanto de seu caminho será retomado ou reformulado por seus sucessores.
Com a escolha do próximo pontífice se aproximando, a dúvida central é se a Igreja optará por consolidar a linha reformista de Francisco ou se buscará um retorno a posições mais conservadoras, como resposta a um mundo cada vez mais instável. Num mundo atravessado por transições aceleradas e incertezas profundas, a escolha do próximo papa não dirá apenas sobre o rumo da Igreja, mas sobre como ela pretende se posicionar diante das grandes transformações que vivemos no século XXI.
· 05:09 — Perdendo o status
O domínio do dólar começa a apresentar rachaduras visíveis, corroído não por um rival direto, mas pela crescente imprevisibilidade e pela sucessão de políticas erráticas que vêm marcando a gestão econômica dos Estados Unidos, especialmente sob Donald Trump. A perda de confiança institucional, somada ao aumento da percepção de risco político, tem levado investidores globais a reavaliar o chamado “prêmio de segurança” historicamente embutido nos ativos em dólar. A moeda americana continua central, mas já não tão inquestionável. Ainda assim, falar em fim do status de moeda de reserva global é, neste momento, um salto conceitual difícil de justificar.
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