As duas faces de Paulo Francis

“O jornalista mais ferino do país era capaz de atos de afeto e genero­sidade sem tamanho. Claramente, o Paulo Francis do jornal e o amigo eram pessoas diferentes.” Assim o editor e escritor Luiz Schwarcz descreve o jornalista Paulo Francis, de quem foi amigo, em O primeiro leitor: ensaio de memória. No livro – do qual a piauí publica nesta edição o capítulo sobre Francis –, o fundador da Companhia das Letras conta sua trajetória no meio editorial desde os tempos em que atuou na Editora Brasiliense, nos anos 1980. Ele também reflete sobre o trabalho da edição, publicação e difusão do livro no Brasil. Vários autores publicados pela Companhia das Letras e com os quais Luiz Schwarcz criou laços de amizade ressurgem nas lembranças do editor – de Susan Sontag a Salman Rushdie, de Rubem Fonseca a José Saramago. The post As duas faces de Paulo Francis first appeared on revista piauí.

Abr 11, 2025 - 19:08
 0
As duas faces de Paulo Francis

“O jornalista mais ferino do país era capaz de atos de afeto e genero­sidade sem tamanho. Claramente, o Paulo Francis do jornal e o amigo eram pessoas diferentes.” Assim o editor e escritor Luiz Schwarcz descreve o jornalista Paulo Francis, de quem foi amigo, em O primeiro leitor: ensaio de memória. No livro – do qual a piauí publica nesta edição o capítulo sobre Francis –, o fundador da Companhia das Letras conta sua trajetória no meio editorial desde os tempos em que atuou na Editora Brasiliense, nos anos 1980. Ele também reflete sobre o trabalho da edição, publicação e difusão do livro no Brasil.

Vários autores publicados pela Companhia das Letras e com os quais Luiz Schwarcz criou laços de amizade ressurgem nas lembranças do editor – de Susan Sontag a Salman Rushdie, de Rubem Fonseca a José Saramago.

Schwarcz e Francis se tornaram amigos logo no início da Companhia das Letras. Em 1986, o jornalista, que vivia em Nova York, ficou interessado em conhecer o editor que havia publicado no Brasil Rumo à Estação Finlândia, um clássico do ensaísta americano Edmund Wilson sobre a história das ideias socialistas. “Passamos a nos ver a cada ida minha a Nova York, e quando ele vinha a São Paulo eu ocupava o cargo de anfitrião. Seu endereço preferido era o Ca’d’Oro, hotel tradicional, o mais elegante na épo­ca. Eu subia com frequência ao quarto dele para arrumar sua mala antes de levá­-lo ao aeroporto.”

 

Quando Fernando Collor de Mello decretou o bloqueio das contas, em março de 1990, a Companhia das Letras “sofreu bastante”, nas palavras de Schwarcz. “Fiquei com medo de não ter fun­dos para pagar os salários. Nessa ocasião, Francis ligava todo dia e perguntava como estavam a editora e eu. Num dos telefonemas, disse: ‘Luiz, nós, de esquer­da, não podemos aceitar essa situação.’ Antes ele havia apoiado abertamente a candidatura de Collor. No jornal falava bem de Paulo Maluf e desancava o PT.”

Schwarcz conta que Francis, em suas colunas no jornal, com frequência atacava intelectuais do meio universitário e artistas, alguns amigos do editor. “Não adiantava falar com a persona Paulo Francis, pedir que deixasse de atacar este ou aquele amigo. Nas poucas vezes que tentei, ele descon­versou. Mas comigo ele se portava com grande dedicação e afeto”, escreve Schwarcz. “Essa é uma questão importante, para a qual confesso que nunca terei resposta. Como se rela­cionar com alguém tão diferente politi­camente e que possui duas personalidades? Uma abjeta e outra ge­nerosa ao extremo? Como aceitar um pacote de maldades semanal, vindo de um jornalista próximo, sem fazer quase nada? Ele me deu tanto, era quase um irmão do meu melhor amigo, e por vezes eu o detestava.”

O primeiro leitor: ensaio de memória será publicado pela Companhia das Letras em maio.

 

Assinantes da revista podem ler a íntegra do capítulo neste link.

The post As duas faces de Paulo Francis first appeared on revista piauí.

Este site usa cookies. Ao continuar a navegar no site, você concorda com o nosso uso de cookies.