Ao invés de ajudar, EUA resolvem asfixiar financeiramente o Haiti

Os Estados Unidos, em vez de promover ajuda financeira ao Haiti — um dos países mais pobres do mundo, devastado por um terremoto em 2010 do qual jamais se recuperou —, decidiram seguir um caminho de punição. Ao invés de investir em desenvolvimento, infraestrutura ou auxiliar o Haiti a se reposicionar no cenário internacional, o […] O post Ao invés de ajudar, EUA resolvem asfixiar financeiramente o Haiti apareceu primeiro em O Cafezinho.

Mai 3, 2025 - 16:11
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Ao invés de ajudar, EUA resolvem asfixiar financeiramente o Haiti

Os Estados Unidos, em vez de promover ajuda financeira ao Haiti — um dos países mais pobres do mundo, devastado por um terremoto em 2010 do qual jamais se recuperou —, decidiram seguir um caminho de punição. Ao invés de investir em desenvolvimento, infraestrutura ou auxiliar o Haiti a se reposicionar no cenário internacional, o secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, anunciou que o governo dos EUA vai classificar como terroristas organizações armadas que atuam no país caribenho.

A decisão implica que qualquer pessoa ou entidade que fizer negócios com essas organizações será alvo de sanções, podendo ter seus recursos bloqueados e enfrentar acusações criminais. Em outras palavras, os EUA optam por repetir a estratégia já adotada em outras nações como a Síria e a Venezuela: sufocar financeiramente países frágeis e impedir qualquer respiro econômico. Trata-se de um padrão cruel e recorrente, quase um prazer perverso em destruir nações empobrecidas, instáveis e sem capacidade real de se defender.

A seguir, a íntegra da matéria:


Governo Trump classifica principais gangues do Haiti como organizações terroristas globais

Por Jacqueline Charles
Publicado em 2 de maio de 2025

A administração Trump classificou nesta sexta-feira como terroristas uma coalizão das mais poderosas gangues haitianas e um grupo aliado que vem semeando o terror na região agrícola do país. A coalizão Viv Ansanm, formada por mais de duas dezenas de grupos criminosos armados, e a gangue Gran Grif agora figuram como Organizações Terroristas Estrangeiras e Terroristas Globais Especialmente Designados, segundo o secretário de Estado Marco Rubio.

“A era da impunidade para quem promove a violência no Haiti chegou ao fim”, disse Rubio em comunicado. “Essas gangues mataram e continuam a atacar o povo haitiano, as forças de segurança do país e a missão multinacional de apoio à segurança. Estão comprometidas em derrubar o governo do Haiti.”

Rubio vê a crescente violência e influência das gangues como uma ameaça direta à segurança nacional dos EUA. A medida coloca os grupos ao lado de outras oito organizações criminosas da América Latina que receberam designação semelhante em fevereiro, entre elas cartéis mexicanos e o grupo venezuelano Tren de Aragua.

“A administração Trump envia um recado claro com essa designação”, afirmou um alto funcionário do Departamento de Estado ao Miami Herald. “Sob a liderança do secretário Rubio, responsabilizamos grupos brutais que vêm destruindo o Haiti. É de interesse dos Estados Unidos enfrentar essas quadrilhas.”

Segundo Rubio, a medida é essencial para conter o plano das gangues de transformar o Haiti em um Estado controlado por criminosos, onde o tráfico e outras atividades ilícitas prosperem livremente.

As designações têm implicações criminais e financeiras significativas para qualquer pessoa considerada como fornecedora de apoio ou recursos aos grupos. Além de sanções e processos, os indivíduos podem ser deportados ou proibidos de entrar nos EUA.

“Não há limitação territorial. Se alguém financiar essas gangues da França ou da Austrália, ainda se aplica”, explicou Vanda Felbab-Brown, pesquisadora do Brookings Institution e especialista em grupos armados no Haiti. “Qualquer pagamento, por menor que seja — um chá, um lápis, um brinquedo — pode ser enquadrado como apoio material e resultar em penas criminais severas.”

Segundo ela, as sanções podem afetar as remessas enviadas ao Haiti. “Se bancos ou empresas como Western Union temerem ser processados, podem interromper os envios.” Por outro lado, a medida pode inibir políticos e empresários haitianos que contratam gangues para fins escusos.

No entanto, Felbab-Brown alerta para “efeitos paralisantes” da decisão, como a possibilidade de haitianos nos EUA serem rotulados como terroristas sem provas, além de riscos para a ajuda humanitária. “É fundamental que doadores internacionais negociem com os EUA garantias de que não serão processados, já que parte da ajuda inevitavelmente cai nas mãos de gangues”, afirmou. “Se isso não ocorrer, os efeitos no Haiti podem ser letais.”

Coalizão de 27 gangues

De acordo com a ONU, mais de um milhão de haitianos já foram deslocados pela violência. Ao menos 5,7 milhões enfrentam fome aguda, sendo 2 milhões em níveis de emergência e 8.400 em situação de fome extrema, segundo o Programa Mundial de Alimentos.

A capital do Haiti está próxima de cair nas mãos da coalizão Viv Ansanm, que hoje controla até 90% da área metropolitana de Porto Príncipe. Formada em setembro de 2023, a aliança reúne facções do poderoso G-9, liderado pelo ex-policial Jimmy “Barbecue” Chérizier, e por Vitel’homme Innocent.

O Departamento do Tesouro dos EUA confirmou a designação do grupo e citou entre os aliados o G-9 Fami e Alye, também chefiado por Chérizier. Desde fevereiro de 2024, os grupos lançam ataques coordenados contra delegacias, bairros e hospitais, superando as forças haitianas e a missão multinacional liderada pelo Quênia.

A Viv Ansanm reúne 27 gangues que atuam em várias regiões do país, inclusive com o uso de crianças de até 8 anos, empregadas como olheiros, incendiários ou atiradores em ataques.

A gangue Gran Grif, aliada da Viv Ansanm, domina a região de Artibonite, ao norte da capital. Fundada por Prophane Victor, ex-deputado atualmente preso e sancionado pelos EUA e pela ONU, o grupo é responsável por diversos massacres, incluindo um ataque que matou pelo menos 115 pessoas em Pont-Sondé, em outubro.

Membros da gangue também mataram policiais haitianos e dois integrantes da missão do Quênia. Só este ano, 12 policiais e 7 militares foram mortos pelas gangues, segundo dados da Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos.

Deportações e autodefesa

As forças haitianas e a missão internacional continuam incapazes de conter as gangues. Na segunda-feira, Viv Ansanm atacou áreas próximas ao palácio presidencial, enquanto a Gran Grif invadiu comunidades rurais em Artibonite, onde se concentram os sequestros recentes. Moradores fugiram atravessando rios.

Mais de 5.600 haitianos morreram por violência de gangues em 2024. Nos primeiros três meses do ano, mais de 1.600 foram assassinados e 161 casos de sequestros foram registrados — 63% deles em Artibonite, segundo a ONU.

A escalada da violência levou à formação de brigadas de autodefesa, cuja crescente armamentação preocupa especialistas sobre o risco de colapso total do país.

Um alto funcionário do governo dos EUA disse ao Miami Herald que também está sendo considerada a deportação de gangues para a prisão de segurança máxima de El Salvador, onde venezuelanos já foram enviados com base na Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798.

Apesar de bem recebida por alguns haitianos, a medida também desperta medo. Moradores são obrigados a pagar pedágios a gangues para circular e empresários sofrem extorsões mensais sob ameaça de terem seus comércios incendiados.

Grupos humanitários também têm de negociar com “fundações” criadas pelas gangues para entregar ajuda. “Qualquer entidade que atue no Haiti deve garantir que nenhum centavo vá parar nas mãos dessas organizações designadas como terroristas”, advertiu Felbab-Brown.



Autora: Jacqueline Charles
Biografia: Jacqueline Charles cobre o Haiti e o Caribe de língua inglesa pelo Miami Herald há mais de uma década. Finalista do Prêmio Pulitzer pela cobertura do terremoto de 2010 no Haiti, venceu o Prêmio Maria Moors Cabot em 2018.
Data: 2 de maio de 2025
Fonte: Miami Herald

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