A nova era dos influenciadores: Entre o “trash” e a obsessão digital pelo caos e polémica
Ao contrário de alguns criadores de conteúdo que procuram dar ao seu público imagens de vidas perfeitas, há influenciadores que ganham notoriedade ao exporem fraquezas e comportamentos fora do convencional, gerando um misto de desprezo e fascínio no público.


Madrugadas em claro, fóruns repletos de debates e transmissões ao vivo que prendem a atenção de milhares. Este é o novo cenário digital, onde influenciadores e streamers dominam as redes sociais, mas nem sempre de forma positiva.
Uma reportagem do jornal El País aborda o papel dos influenciadores digitais e streamers extremos que recorrem ao caos, autodestruição e comportamentos controversos para criarem espetáculos e atraírem grandes audiências. Ao contrário de alguns criadores de conteúdo que procuram dar ao seu público imagens de vidas perfeitas, estes ganham notoriedade ao exporem fraquezas e comportamentos fora do convencional, gerando um misto de desprezo e fascínio no público.
Triana Marrash é uma dessas influenciadoras – conhecida pelo seu comportamento desinibido e polémico – que atraem um público fiel, mesmo sendo alvo constante de críticas e desprezo.
O fascínio por estas personagens não é nova, mas as redes sociais potencializaram o fenómeno. Nos fóruns Cotilleando.com e Forocoches, existem comunidades inteiras que se dedicam a acompanhar, criticar e até incentivar comportamentos extremos. O conceito alemão schadenfreude, que descreve a satisfação obtida com o infortúnio dos outros, ajuda a explicar esse interesse quase obsessivo pelo declínio alheio.
Assim como as antigas atrações televisivas exploravam figuras marginais, hoje, streamers e “influencers trash” transformam as suas vidas caóticas em reality shows contínuos, chegando até a colocar em risco a própria integridade física e mental.
“Aqui, o mais importante é ser famoso, mesmo sem ganhar dinheiro”, afirma Junior Healy, analista do YouTube que estuda a cultura dos influenciadores “trash”. “Eles sabem que a audiência cresce quando a situação piora, e o algoritmo premeia isso”, analisa o professor Carlos Peláez, da Universidad Complutense de Madrid, que destaca que essa exposição extrema não apenas garante visibilidade, mas torna-se uma forma de empreendedorismo digital, onde o marginalizado consegue monetizar a sua própria exclusão social.
Muitos desses criadores vivem de doações feitas pelos próprios seguidores, desafios humilhantes, shows em casas noturnas e da monetização de suas visualizações no YouTube e TikTok. A dinâmica cria um ciclo vicioso onde quanto mais caótica for sua vida, maior será seu alcance.
No final, estes influenciadores podem tornar-se figuras de ódio e fascínio ao mesmo tempo.