A FALA quer declamar mais poesia e convida-nos a ouvi-la este sábado

A associação nasceu para se dedicar à palavra falada. A 12 de Abril, chega à Biblioteca de Alcântara com um programa gratuito de teatro e poesia.

Abr 8, 2025 - 14:54
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A FALA quer declamar mais poesia e convida-nos a ouvi-la este sábado
A FALA quer declamar mais poesia e convida-nos a ouvi-la este sábado

Em 2019, Lucas França e Maria Giulia Pinheiro juntaram-se através da poesia. Começaram a promover iniciativas de palavra falada e de performances teatrais e, hoje, são já um colectivo de 13 artistas brasileiros e portugueses de áreas artísticas distintas, mas que têm como base a poesia. Decidiram formar a Associação FALA Orgânica, que tem como objectivo formalizar o trabalho que têm vindo a desenvolver ao longo dos últimos anos e ainda promover uma maior abertura para projectos artísticos que assentam na palavra falada. Neste sábado, 12 de Abril, para celebrar o nascimento da associação, a Biblioteca de Alcântara acolhe performances, concertos e um concurso de poesia falada. A entrada é gratuita.

“Nos últimos dois anos, principalmente, passámos muito por deslegitimações, respostas negativas, não enquadramentos dentro de critérios classificativos do que é arte, do que não é arte, do que é performance ou cruzamento disciplinar. Então a associação também vem numa perspectiva de formalização do nosso trabalho, porque muitas vezes era visto como uma coisa de lazer, um hobby de fim-de-semana. E nós somos trabalhadores das artes, cada um com as suas especificidades”, começa por dizer à Time Out Lucas França, que co-dirige a FALA Orgânica com Maria Giulia Pinheiro.

Maria Giulia Pinheiro
SERGIOMaria Giulia Pinheiro

Conheciam-se desde a altura em que viviam no Brasil e reencontraram-se quando ambos se mudaram, há seis anos, para Portugal. Lucas é formado em teatro e é encenador. Já Maria Giulia é poeta e posiciona-se na intersecção entre poesia e teatro, são “teatros poéticos demais para serem considerados teatros e poesia teatral demais para ser considerada poesia”, descreve a co-directora artística. Dentro do trabalho que promovem na associação, além da vontade de mostrar que aquilo que fazem é arte, Lucas e Maria Giulia querem também reclamar espaço para as linguagens artísticas não tradicionais. 

“As instituições com um nome mais relevante, que têm um poder maior e que têm mais condições de subsidiar diversos objectos artísticos e diversas linguagens, não consideram a poesia falada como um objecto estético. Essa é a minha impressão. Não existe essa valorização como objecto artístico, tal como um espectáculo de teatro ou um concerto de música clássica”, acredita Lucas. E tendo em conta que nem a DGArtes abrange este tipo de iniciativas artísticas para candidaturas a apoios, torna-se assim uma área “muito precarizada”.

Lucas França
hellofotoarteLucas França

“Tem um ponto cego nas instituições de viabilizar financeiramente esse tipo de evento para que mais poetas surjam, mais poetas e mais pessoas que possam ouvir essas poesias. Isso é importante que seja também um trabalho do Estado”, afirma Maria Giulia, que nota um aumento cada vez maior no número de pessoas interessadas. “Tem público. Os nossos eventos estão cheios. A gente está fazendo dois eventos por mês, mais ou menos, e tem o público lotado, estamos falando de 70 a 80 pessoas”, realça. 

O trabalho da associação assenta sobretudo na ideia de “línguas portuguesas”. “A gente usa o termo línguas portuguesas e as pessoas falam ‘não, existe uma língua só’. Nós entendemos isso, mas é na forma afectiva. Cada território tem os seus desdobramentos, então a ideia é brincar com isso. A gente não quer hegemonizar, quer valorizar muito essas diferenças, essas pluralidades”, defende Lucas. O colectivo é formado por 13 artistas portugueses e brasileiros, de diferentes áreas artísticas, tornando-se assim um “encontro de artistas migrantes”, sendo que mesmo os artistas locais já estiveram emigrados nalguma fase da sua vida.

SLAM no CAM
zemariara_FCGSLAM no CAM

Apesar da programação ser, geralmente, itinerante e circular tanto pela cidade como pelo resto do país, a associação estabelece-se na Biblioteca de Alcântara, onde têm espaço para trabalhar, criar e ensaiar. O Todo Mundo Slam, que junta artistas de poesia falada para competir em edições mensais, acontece no segundo sábado de cada mês até Outubro e é uma das maiores iniciativas da FALA que se apresenta na Biblioteca de Alcântara.

Um programa poético 

É lá que, no sábado, se vai desenrolar a programação de lançamento da associação. Além de uma edição de Todo Mundo Slam dedicada ao 25 de Abril, vão ouvir-se canções da Revolução, cantadas ao vivo. Estão também marcadas duas performances e os lançamentos dos livros Da Perda à Pedra a Queda é Livre, de Anna Zêpa, e Tinha Perigo na Curva do Seu Sorriso, de Karen David. A noite termina com o anúncio do resultado do Todo Mundo Slam.

Nos próximos meses, também já há outras iniciativas programadas. A 23 de Abril, a Casa Fernando Pessoa acolhe Ciranda: Jogo de Palavra Falada, em que Judite Canha Fernandes, Flora Lahuerta, Alice Neto de Sousa, Cynthia Perez, Saquita e Karen Davìd lêem a poesia de seis autoras lusófonas. São elas Judith Teixeira, Gilka Machado, Noémia de Sousa, Olga Savary, Deolinda Rodrigues de Almeida e Alda Espírito Santo. A entrada é gratuita. 

Todo Mundo Slam
João BarataTodo Mundo Slam

Nos dias 17 de Maio, 19 de Julho e 14 de Setembro, o CAM recebe o SLAM no CAM, um concurso em que cada um dos participantes tem três minutos para declamar um poema da sua autoria e, se passar à final, é desafiado a escrever um poema a partir de uma obra exposta na galeria, que é sorteada no momento. Para quem quiser ir ouvir, a entrada é gratuita. Para quem quiser participar, basta esperar porque as inscrições abrem em breve. 

Na Rua das Gaivotas 6, entre 29 de Abril e 3 de Maio, a FALA apresenta Viemos Roubar Vossos Maridos, criada e encenada por Maria Giulia Pinheiro. A peça de teatro segue o caso das “Mães de Bragança”, que aconteceu em 2003, quando mais de uma centena de mulheres assinou uma petição a pedir a expulsão das trabalhadoras de sexo brasileiras de Bragança. A criação cruza estes acontecimentos com as histórias reais da actriz Tati Pasquali, que sofreu com as consequências desse movimento, de Camila Cequeira, actriz que chegou a Portugal nesse ano e de Eliene Lima, que protagonizou o movimento.

Todo Mundo Slam
João BarataTodo Mundo Slam

Em Julho e Agosto, ainda sem datas específicas, Lucas França e Maria Giulia Pinheiro encenam Arqueologia de um Amor Contemporâneo, na Biblioteca de Marvila. A peça parte de 20 poemas, escritos entre os séculos XV e XXI, para narrar o relacionamento amoroso das duas personagens principais. 

No futuro, a associação procura ainda organizar acções formativas, pensadas especialmente para pessoas imigrantes. “A nossa experiência nos mostra como é difícil chegar em um novo país, sem você conhecer como as coisas funcionam, as estruturas de burocracia, as estruturas de meios de produção, as formas de conseguir fundos, patrocínios ou verbas”, remata Lucas.

Rua José Dias Coelho, 27-29 (Alcântara). 12 Abr. Sáb 17.30-21.30. Entrada livre