5 anos de Raio-X dos UX Writers Brasileiros

Entre 2020 e 2024, rodamos 5 edições da pesquisa mais esperada da comunidade de Writers do Brasil e aqui está o que descobrimos.

Cronologia das 5 edições:

1. Coleta entre 18/7 e 07/8 de 2020, publicação em novembro de 2020.
2. Coleta entre 04 e 28/8 de 2021, publicação em outubro de 2021.
3. Coleta entre 24/6 e 30/7 de 2022, publicação em outubro de 2022.
4. Coleta entre 30/6 e 14/8 de 2023, publicação em janeiro de 2024.
5. Coleta entre 28/6 a 26/8 de 2024, publicação em janeiro de 2025.

Era uma vez…

Conheci a disciplina de UX writing entre 2018 e 2019, me apaixonei e logo comecei a participar de comunidades e me aproximar de UX writers. A presença desses profissionais já me parecia mais estabelecida em interfaces conversacionais como chatbots e VUI e nessa época começou a ganhar força em times de design de produto (plataformas web e apps).

Em 2020, veio a pandemia e, a partir daí, a injeção de investimentos na área de tecnologia e produtos digitais fez os times de UX crescerem e as oportunidades para UX writers se multiplicaram. Contudo, já no segundo semestre de 2022, muitas demissões em massa começaram a acontecer e as IAs chegaram para ficar.

Nesse período, vimos a área de UX ganhando maturidade em diversas empresas do mercado brasileiro e depois passando por uma retração. Conforme o mercado amadurecia, também amadurecia a visão dos profissionais sobre a sua atuação e, assim, nossa pesquisa buscou acompanhar essa evolução, adicionando perguntas e desbravando também seus desafios.

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O mercado de UX writing evoluiu — e a pesquisa evoluiu com ele

1. A edição de 2020 foi muito focada em definir o perfil demográfico e relacioná-lo com tempo de carreira, cargos e salários. O foco maior era disseminar a média salarial desta profissão que estava começando a se popularizar entre os times de design de produto.
2. Em 2021, observamos um crescimento da área, portanto, começamos a mapear onde estavam as empresas contratando UX writers, exploramos um pouco mais as diferenças salariais incluindo também as modalidades de contratação e perguntamos que tipo de atividades estavam desempenhando, movimentações de emprego, bem como o formato das equipes de trabalho.
3. Em 2022, o mercado atingiu seu auge e tivemos o maior número de respondentes. Investigamos modelo de trabalho e expectativas de carreira. Entre encerrar a coleta de dados e finalizar a análise, percebemos uma nova movimentação no mercado e as demissões em massa começaram. E no final daquele ano o mundo conheceu o ChatGPT.
4. Em 2023, as demissões continuaram e foram um dos focos da pesquisa: queríamos entender o que estava acontecendo com as vagas e como estavam as recolocações. Também foi foco da pesquisa conhecer as expectativas sobre o uso das IAs e seu impacto no futuro da profissão.
5. Em 2024, sentimos uma retração do mercado e quisemos entender por onde andavam os writers e como estavam lidando com a espera nas recolocações. Fizemos também uma nova recalibração de expectativas para o futuro.

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E que mudanças percebemos no mercado por meio da pesquisa?

Perfil dos profissionais

• Maior reconhecimento de neurodiversidades: A pergunta usada inicialmente para identificar participantes com deficiência passou a receber, ano após ano, comentários para incluir neurodivergências, o que nos levou a ajustá-la para melhorar a compreensão desse cenário.
• Maior qualificação: A porcentagem de profissionais com pós-graduação e mestrado/doutorado cresceu, demonstrando uma busca constante por qualificação, assim como a proficiência no inglês. Em 2020, eram 44% cursando ou com diploma de pós-graduação, mestrado ou doutorado. Em 2024, esse número subiu para 59,08%.

• Tempo de experiência crescente: A média de experiência em UX Writing tem aumentado ao longo dos anos, indicando um amadurecimento da profissão. Em 2020, 7% tinham mais de 5 anos na área. Em 2024, esse número dobrou.
• Idade média crescente: A média de idade dos profissionais respondentes aumentou 3 anos, passando de 30,7 em 2020 para 33,6 em 2024.

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Mercado de Trabalho

• Contexto pós-pandemia: A pesquisa de 2023 já havia evidenciado o impacto das demissões em massa. A pesquisa de 2024 mostra uma leve recuperação, mas ainda com desafios para alguns profissionais. O percentual de pessoas que perderam seus empregos foi cerca de 20% em cada ano, mas 30,61% buscavam recolocação durante a pesquisa de 2023, enquanto em 2024 esse número caiu para 23,61%.
• Níveis de carreira: Observa-se uma tendência de crescimento no número de profissionais em níveis mais altos (sênior e gestão), subindo de 33,04% em 2020 para 39,48% em 2024.

• Modelo de trabalho: O trabalho remoto continua sendo a modalidade mais comum, mas apresentou uma queda. Em 2022, quando introduzimos a pergunta, 82,25% trabalhavam remotamente. Em 2024, esse número caiu para 69,74%.
• Salários: A média salarial geral teve um aumento ao longo dos anos acima da inflação, mas com variações significativas entre os diferentes níveis de carreira, regiões e tipos de contratação. Em 2020, a faixa salarial média foi entre R$ 5 mil e R$ 6 mil. Em 2024, a média salarial foi de R$ 8.489,00.
• Formação complementar: A busca por cursos livres aumentou bastante durante os 5 anos da pesquisa, saindo de uma média de 2,6 cursos por pessoa em 2020 para 8,5 em 2024. UX Writing, UX Design e Design Thinking se mantiveram no top 5 durante esse período. Acessibilidade e Arquitetura da Informação desbancaram SEO e Estratégia de Conteúdo. Vale destacar a relevância que o tema de Acessibilidade conquistou, apresentando um aumento de 51,54pp.

• Atividades profissionais: Esta sempre foi a parte da pesquisa mais difícil de analisar porque, isoladamente, leva a poucas conclusões. Porém, ao ser analisada em conjunto com outros dados da pesquisa, traz hipóteses interessantes. Falarei disso mais adiante. Entre 2021 e 2024, observa-se uma queda na frequência de execução das seguintes atividades: Definição de persona (-20,65pp); Definição de tom de voz (-15,88pp); Auditoria de conteúdo (-11,83pp); Modelagem de conteúdo (-8,66pp); Manual de redação (-7,27pp); Entrevistas com usuário (-6,80pp). Enquanto outras atividades apresentaram aumento: Documentação de tela e fluxo (37,9pp); Content critique (10,96pp); Copy deck (7,23pp); Benchmark de conteúdo (4,62pp); Facilitação de workshop focado em conteúdo (2,80pp).

• Expectativas de carreira: A maioria dos profissionais ainda deseja continuar na área de UX writing (cerca de 81%), mas houve uma queda no interesse por posições de gestão. Em compensação, houve um aumento de 8,33 pontos percentuais de interesse em “Trilhar outros caminhos” (excluindo outros papéis na área de UX, produto e tecnologia) e 7,03pp de pessoas que responderam não saber como se imaginam no futuro de suas carreiras.

• Inteligência Artificial: O uso da inteligência artificial está se tornando mais comum entre os profissionais de UX Writing, com diversas aplicações, como edição de texto, geração de ideias e análise de dados. O número de respondentes que utiliza a tecnologia passou de 64,16% em 2023 para 84,73% em 2024.

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Tendências e desafios

Com o mercado de UX Writing impulsionado pela transformação digital e avanços tecnológicos, profissionais da área enfrentam um cenário dinâmico com oportunidades e desafios:

• Adaptação às mudanças: Os profissionais de UX Writing precisam estar constantemente se adaptando às mudanças do mercado, como a inclusão da inteligência artificial no dia a dia de trabalho e as novas demandas das empresas.
• Amadurecimento do mercado: O mercado de UX Writing no Brasil está cada vez mais maduro, com uma maior profissionalização e especialização dos profissionais.
• Foco em estratégia: Com o amadurecimento do mercado de produtos digitais e as evoluções tecnológicas, estão ocorrendo mudanças nos papéis de PMs, agilistas, designers, assim como estruturas de time. Nesse contexto, há uma tendência crescente para que UX Writers assumam papéis mais estratégicos, com foco em decisões de negócio e impacto na experiência do usuário.

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Nichos de atuação e oportunidades

Com base nos dados, podemos observar um aumento das posições com maior senioridade e uma queda nas atividades estruturais para aplicação de UX writing no produto (como definição de persona, tom de voz e manual de redação), acompanhada de um crescimento de atividades de Ops (dado da pesquisa de 2024). A redução no número de participantes da pesquisa nos últimos anos e as pessoas em recolocação também podem indicar evasão da área devido a uma menor oferta de vagas.

Para além do que posso tangibilizar com dados, observo times de produtos mais consolidados rumando para equipes mais enxutas, em que UX writers atuam de maneira cross em squads e tribos e tem maior atuação em Content Ops, fornecendo guia, frameworks pra criação de conteúdo e treinamento técnico. Já times muito grandes, como Itaú e Mercado Livre, contam com UX writers duplando com designers e atuando em escopos mais fechados. Empresas com time de produto interno tendem a pagar salários mais elevados e buscar profissionais com mais experiência. Para elas, um júnior raramente é uma pessoa que está em seu primeiro emprego.

Por outro lado, consultorias e agências tem outros tipos de desafios. Podem alocar profissionais fixos em times de produto, com evolução contínua, ou atuar em projetos temporários, com entregas definidas. Pela variedade de projetos e escopos, tendem a ter menos manuais e guias prontos, adaptando-se à realidade de seus clientes. Esse mercado costuma pagar menos, podendo aceitar mais facilmente profissionais com menor senioridade. Além disso, podem ser mais propensos a contratar profissionais com repertórios de carreira variados, o que pode facilitar a entrada pra quem está tentando migrar de carreira.

Na pesquisa de 2024, o design conversacional foi destacado pelos participantes como cenário de oportunidades. A evolução para IAs generativas facilitou a construção de diálogos mais naturais, mas trouxe uma complexidade na gestão do conteúdo. Há uma maior demanda por personalização, uma maior necessidade de atenção a questões éticas e mais oportunidade para soluções inclusivas por meio da interação por voz. É um desafio garantir conversas relevantes, precisas e alinhadas com as marcas, já que IA “responde com autonomia”.

Estamos saturados de informação e com dificuldade de focar. As mensagens precisam ser simples, diretas, claras e persuasivas, contando histórias que façam sentido, convertendo.

Nesse contexto, o UX writing é essencial. Não basta usar IA: é preciso saber direcioná-la para criar textos com impacto, alinhados à estratégia do negócio. Nossa pesquisa mostrou que a profissão amadureceu e se especializou, mas o desafio central é criar experiências que conectem e engajem em um mundo distraído. UX Writers são arquitetos de mensagens, guias no meio do caos informacional, contadores de histórias que fazem a diferença.

Quais estratégias você tem adotado para se manter relevante e valorizado no mercado de UX Writing?

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