Zhang Shengwei: O misterioso bilionário que construiu um império sobre nuvens de vapes

Nos primórdios da cultura do vaping, quando os produtos eram escassos e a comunidade ainda se organizava em fóruns online, um nome surgia como referência: Heaven Gifts. A loja virtual era conhecida entre os entusiastas pelos seus produtos e pela atenção do seu dono, Wayne, que se revelaria mais tarde Zhang Shengwei. O empresário chinês – que se tornou bilionário – transformou um pequeno e-commerce num império global, com marcas como Geekvape, Lost Mary e Elf Bar a dominarem as prateleiras em Nova Iorque, Londres e Berlim.

Hoje, Heaven Gifts conta com mais de 30 milhões de clientes em 80 países e Zhang consolidou-se como um dos nomes mais influentes da indústria, acumulando uma fortuna de 2,9 mil milhões de dólares (cerca de 2,67 mil milhões de euros), segundo a Bloomberg Billionaires Index. Discreto e avesso às câmeras, o “padrinho” do vaping em Shenzhen evita exposição, um reflexo da preocupação de magnatas chineses com a instabilidade regulatória no país.

Apesar do sucesso, o império de Zhang enfrenta desafios crescentes, com regulamentação mais rígida a ser implementada globalmente, proibições totais em países como Tailândia e Vietnã e processos judiciais nos EUA e no Reino Unido. O procurador-geral de Nova Iorque abriu um processo contra distribuidoras de vapes, incluindo a Elf Bar, por venda ilegal de produtos aromatizados. No Congresso americano, legisladores investigam empresas chinesas do setor, e até a Comissão de Comércio Internacional dos EUA está a analisar o negócio de Zhang.

A esperança para o bilionário pode ser mesmo Donald Trump. Numa reunião com lobistas do setor, o ex-presidente prometeu “salvar o vaping de novo”, relembrando restrições que ele próprio ordenou em 2019. O apoio de Trump pode significar uma flexibilização regulatória, beneficiando empresas como a de Zhang e gerando ainda mais tensão com a Big Tobacco, que tenta competir no setor respeitando regulações.

O sucesso das marcas de Zhang reside ainda na sua estratégia: os vapes descartáveis. Práticos e acessíveis, eles representam 60% do mercado americano de cigarros eletrónicos e conquistam principalmente jovens consumidores, para desespero de pais e ativistas antitabagismo. Apesar das críticas, a expansão dos vapes segue em ritmo acelerado, impulsionada por sabores exóticos e designs atrativos.

O mercado de vaping, antes um nicho underground, tornou-se assim uma potência bilionária. No centro desta revolução está Zhang Shengwei, um bilionário que construiu um império sobre nuvens de vapor e um modelo de negócio que desafia tanto regulamentações quanto gigantes do tabaco.