Violência escolar no Brasil mais que triplica em 10 anos, mostra pesquisa

Casos de bullying, agressões letais e automutilação crescem nas escolas brasileiras. Especialistas alertam para o despreparo do Estado e a banalização de discursos de ódio no ambiente educacional

Abr 15, 2025 - 23:00
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Violência escolar no Brasil mais que triplica em 10 anos, mostra pesquisa

A violência escolar no Brasil mais que triplicou entre 2013 e 2023. Análise de dados nacionais realizada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e divulgada na segunda-feira (14/4) aponta para um avanço preocupante de casos envolvendo agressões interpessoais, bullying, automutilações e ataques letais dentro e nos arredores das instituições de ensino. Desde 2001, ao menos 47 pessoas morreram em episódios desse tipo.

Para especialistas, o fenômeno é multifatorial: passa pela desvalorização do magistério, pela fragilidade das políticas educacionais e pelo avanço de discursos de ódio naturalizados na sociedade.

O Ministério da Educação (MEC) classifica a violência nas escolas em quatro eixos principais: ataques extremos e letais, agressões interpessoais, bullying e violência institucional. Esse último tipo envolve práticas excludentes no conteúdo pedagógico e no dia a dia escolar, como o apagamento de temas ligados à diversidade. Além disso, o entorno das escolas com tráfico, assaltos e tiroteios também impacta diretamente a sensação de segurança da comunidade escolar, especialmente de estudantes e professores.

O problema tem se agravado com o tempo. Em 2013, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) registrou 3,7 mil casos de violência interpessoal em escolas. Em 2023, o número saltou para 13,1 mil. Chama atenção o crescimento da violência autoprovocada: foram 2,2 mil ocorrências, que incluem automutilações, tentativas e ideação suicida um aumento de 95 vezes.

A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) revela que 40,5% dos alunos relataram já ter sofrido bullying em 2019. Em 2009, esse índice era de 30,9%. “O radicalismo político e a relativização da violência por autoridades públicas contribuíram para tornar agressões mais comuns e aceitas”, alerta o economista Daniel Cerqueira, do Ipea.

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Uma pesquisa nacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostra que apenas 4,1% das secretarias de Educação contam com uma estrutura sólida para enfrentar a violência escolar. A maioria atua com ações pontuais, sem articulação entre saúde, segurança e assistência social.

“A pesquisa reforçou a necessidade de garantir que ações voltadas para o clima escolar sejam contínuas e interligadas a políticas públicas de segurança e justiça”, afirma a socióloga Flávia Pereira Xavier, que coordenou o estudo. Sem essa integração, as escolas seguem vulneráveis e os alunos, desamparados, completa.

*Estagiária sob supervisão de Andreia Castro