Uso de caça chinês pelo Paquistão reacende tensões e põe em xeque reaproximação entre China e Índia
O uso de uma aeronave de combate de fabricação chinesa pelo Paquistão em um recente confronto com a Índia colocou em evidência o papel da China nas disputas regionais e pode impactar o processo de reaproximação entre Pequim e Nova Déli. A tensão surgiu após autoridades paquistanesas afirmarem que utilizaram um jato J-10C chinês para […] O post Uso de caça chinês pelo Paquistão reacende tensões e põe em xeque reaproximação entre China e Índia apareceu primeiro em O Cafezinho.

O uso de uma aeronave de combate de fabricação chinesa pelo Paquistão em um recente confronto com a Índia colocou em evidência o papel da China nas disputas regionais e pode impactar o processo de reaproximação entre Pequim e Nova Déli.
A tensão surgiu após autoridades paquistanesas afirmarem que utilizaram um jato J-10C chinês para derrubar aeronaves indianas em um episódio ocorrido na quarta-feira da semana passada.
Apesar de o conflito ter sido encerrado com uma trégua no sábado, nem China nem Índia confirmaram oficialmente o envolvimento de equipamento militar chinês na operação.
Duas autoridades dos Estados Unidos, no entanto, informaram à agência Reuters que pelo menos dois caças indianos foram atingidos durante os quatro dias de confrontos. A informação repercutiu entre analistas, que veem potencial impacto no já frágil processo de normalização das relações sino-indianas.
Em outubro de 2023, os dois países haviam firmado um acordo para encerrar o impasse militar em áreas de fronteira no Himalaia.
Desde então, foram realizados encontros diplomáticos e ações pontuais de flexibilização de medidas restritivas, como a suspensão de bloqueios a aplicativos chineses na Índia. No entanto, o recente episódio envolvendo o Paquistão gerou novos questionamentos sobre a estabilidade desses avanços.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, defendeu publicamente a manutenção da trégua e pediu “calma e moderação” a Índia e Paquistão, ambos países com capacidade nuclear.
Em conversa telefônica com o Conselheiro de Segurança Nacional da Índia, Ajit Doval, Wang condenou o ataque terrorista ocorrido em 22 de abril em Pahalgam, na Caxemira, e reiterou a necessidade de preservar a estabilidade regional.
“Tanto a Índia quanto o Paquistão são vizinhos que não podem ser afastados, e ambos são vizinhos da China”, afirmou Wang, segundo comunicado do Ministério das Relações Exteriores chinês. “A China apoia e espera que a Índia e o Paquistão alcancem um cessar-fogo abrangente por meio de negociações, o que atende aos interesses fundamentais da Índia e do Paquistão.”
Em outra ligação, desta vez com o ministro das Relações Exteriores do Paquistão, Ishaq Dar, Wang declarou apoio aos “esforços do Paquistão para defender sua soberania e dignidade nacional”. Foi a segunda conversa entre os dois desde os ataques de abril. Wang também reforçou que, com a trégua estabelecida, os dois lados devem “mantê-la em conjunto para evitar novos conflitos”.
Srikanth Kondapalli, professor de estudos chineses na Universidade Jawaharlal Nehru, na Índia, afirmou que “o papel da China no conflito Índia-Paquistão ficou sob suspeita por sua amizade ‘para todas as condições’ com Islamabad”. Ele apontou que a confiança entre Pequim e Nova Déli ainda é limitada.
Lin Minwang, vice-diretor do Centro de Estudos do Sul da Ásia da Universidade Fudan, em Xangai, afirmou que a Índia tradicionalmente vê com cautela a relação estreita entre China e Paquistão. Para ele, “é provável que a Índia coloque a culpa na China, mas, no geral, a China está bastante contida desta vez”.
Lin observou ainda que o impacto do conflito sobre os laços sino-indianos deve ser limitado, uma vez que “o relacionamento continua estagnado”. Segundo ele, “é improvável que se recupere com força, e o espaço para uma deterioração ainda maior também é limitado”.
O pesquisador apontou que o movimento recente da Índia em direção à China se deve, em parte, à incerteza sobre os rumos da relação com os Estados Unidos.
“A recente abertura da Índia à China é, em grande parte, uma proteção contra o retorno de Donald Trump e os temores de uma possível interrupção nos laços da Índia com os EUA”, disse Lin.
Ele acrescentou que “com um grande acordo comercial agora no horizonte e as relações bilaterais se estabilizando, o entusiasmo de Déli em se aproximar de Pequim vem perdendo força”.
Após o acordo de outubro, diplomatas dos dois países se reuniram em janeiro, quando Wang e Doval concordaram em restabelecer os canais formais de diálogo.
Em fevereiro, a Índia suspendeu restrições a diversos aplicativos chineses, como Shein, Taobao e Youku, inicialmente bloqueados após os confrontos fronteiriços de 2020. Em março, representantes das áreas de defesa, imigração e relações exteriores participaram da 33ª rodada do mecanismo de trabalho sobre questões de fronteira.
Embora Pequim tenha sinalizado a reabertura do Monte Kailash e do Lago Mansarovar a peregrinos indianos, ainda não há definição sobre a retomada dos voos diretos.
Paralelamente, tensões persistem em outras frentes. Em janeiro, a Índia manifestou preocupação com um projeto hidrelétrico da China no Yarlung Tsangpo, temendo impactos na gestão do recurso hídrico.
Também foram relatadas medidas por parte da Índia para endurecer as normas de visto para cidadãos chineses, especialmente no setor comercial e técnico, diante do aumento de importações chinesas.
No início de maio, o Ministério do Comércio da China anunciou taxas antidumping sobre exportações indianas de cipermetrina, um insumo utilizado na fabricação de pesticidas, alegando prejuízos a empresas chinesas.
A construção de infraestrutura militar ao longo das áreas disputadas segue em curso por ambas as nações. Kondapalli alertou que a mobilização de forças chinesas na região pode comprometer os termos do acordo firmado em outubro.
Sobre o conflito mais recente entre Índia e Paquistão, Lin afirmou que uma redução das tensões entre os dois países é considerada positiva para a China. “A estabilidade nas fronteiras é uma prioridade máxima para Pequim”, concluiu.
Com informações da SCMP
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