Entrevista a Ni Amorim: balanço positivo, com destaque para o FPAK Júnior Team
A FPAK vai a eleições dentro de pouco tempo, e quando estamos prestes a chegar ao fim do segundo mandato de Ni Amorim, conversámos longamente com o homem que liderou a Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK) durante dois mandatos de fulgor e transformação. Nas próximas linhas faz-se balanço do passado recente e espreita-se […] The post Entrevista a Ni Amorim: balanço positivo, com destaque para o FPAK Júnior Team first appeared on AutoSport.

A FPAK vai a eleições dentro de pouco tempo, e quando estamos prestes a chegar ao fim do segundo mandato de Ni Amorim, conversámos longamente com o homem que liderou a Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK) durante dois mandatos de fulgor e transformação. Nas próximas linhas faz-se balanço do passado recente e espreita-se para o futuro – que se pretende promissor – do desporto motorizado em Portugal.
Sob a sua liderança, a FPAK tem vindo a plantar as sementes para um crescimento sustentável. Do sucesso retumbante do FPAK Junior Team nas diversas modalidades – Ralis, Velocidade, Montanha – ao investimento estratégico em comunicação, passando pela saúde robusta dos principais campeonatos e pelo bom equilíbrio financeiro, há muitas razões para ter confiança no futuro, embora, como sempre, com coisas para corrigir.
O número de licenciados tem crescido, mas há desafios que são complexos quanto à organização de calendários competitivos. Há ainda interesse crescente de vários quadrantes em integrar as suas provas no Campeonato de Portugal de Ralis (CPR), um tema que é delicado para a FPAK.
Falou-se um pouco de tudo…
Ni Amorim, que balanço faz deste seu último mandato? Quais são os destaques? O que é que gostava de ter feito melhor, e o que não fez e o que gostava de ter feito?
“Bem, o balanço do segundo mandato foi francamente positivo a vários níveis. O nosso principal projeto do segundo mandato foi o lançamento do FPAK Júnior Team. Estamos no terceiro ano consecutivo, começamos pelos ralis e neste momento estamos em diversas modalidades, já estamos até no Rally 2, no karting, na velocidade, estamos a apoiar um jovem a tentar internacionalizar-se no karting também.
Na Madeira, também estamos a apoiar o karting, na montanha e, portanto, agora estamos a consolidar tudo isto. A partir de este ano, vamos fazer uma modificação nos ralis, que é dar um salto, passando para os Peugeot 208 Rally4, carros de fábrica. Acabamos de fazer a seleção, que foi muito concorrida com quase 200 participantes, sendo escolhidos cinco para serem apoiadas pela FPAK, no FPAK Júnior Team.
Este trabalho feito no segundo mandato é muito importante porque se temos hoje dois pilotos com oportunidade de correr num Rally 2, foi porque investimos neles, porque as marcas não vão investir nos pilotos para que eles façam a sua aprendizagem. Se eles forem bons, eventualmente vão buscá-los. Esse trabalho alguém tem que fazer e alguém tem que investir. E foi isso que fizemos e temos feito. E temos excelentes pilotos que têm saído do FPAK Júnior Team.
Na velocidade, por exemplo, 50% dos pilotos do programa FPAK Júnior Team, de 12 pilotos que apoiamos até agora, 50% ficaram na correr no Campeonato de Portugal de Velocidade. Significa que gostaram da experiência e ficaram na modalidade. O mesmo se passa no nos ralis. Por exemplo, o Rafael Rego, que passou pelo Júnior Team, chegou à última prova em posição de ganhar, e está a fazer a Peugeot Rally Cup, e anda na frente. Na montanha é a mesma coisa, do ano passado para este ano transitaram pilotos, portanto, acho que foi, talvez, o melhor projeto que tivemos no nosso segundo mandato, e que foi apreciado por outras entidades lá fora, outras ASN. Fizemos um PowerPoint sobre aquilo que estávamos a fazer em Portugal, uma vez que o projeto foi referido a nível internacional e foi apresentado na FIA”.
Outra área que foi alvo de um forte investimento foi a comunicação. Identificada a lacuna que existia, a FPAK trabalhou para colmatar essa falha, com uma aposta crescente na comunicação: “Outra área importante que nós fizemos neste último mandato foi o aumento significativo de investimento na comunicação. Portanto, estamos com três quatro vezes mais de orçamento e 300 a 400% mais do que tínhamos no primeiro mandato. E isso também está a dar os seus frutos e os seus resultados, porque fala-se de automóveis, como nunca se falou”.
Campeonato de ralis e velocidade de nível europeu, com novidades a caminho
Portugal vive um momento muito positivo no seu Motorsport, com as principais competições nacionais a respirarem saúde. Os campeonatos de Ralis já eram elogiados há muito, juntando-se agora a velocidade que é agora um dos melhores campeonatos de GT4 da Europa:
“Temos dois campeonatos que são e neste momento dos melhores campeonatos nacionais que existem na Europa. Campeonato de Portugal de Ralis e o Campeonato de Portugal da Velocidade, para não falar do Karting que está com 180 pilotos nos dois campeonatos, o que também é um número muito significativo.
Na velocidade, o trabalho está a ser muito bem feito, muito bem gerido. O campeonato está com mais de 40 carros, que até já temos que dividir grelhas para poder, enfim, acolher toda a gente e que fiquem satisfeitos. Quando há muita gente, por um lado é bom, por outro lado, há queixas, devido às muitas bandeiras vermelhas, muitos acidentes e, portanto, nos treinos as pessoas acabam por não andar o que deveriam andar para poderem estar preparados para a corrida.
Nos ralis temos as marcas que nunca tivemos a apoiar o campeonato. Vamos ter mais no futuro, e por isso estamos a trabalhar. E acho que é um campeonato que com a vinda de estrangeiros para Portugal deu bastante nome ao nosso Campeonato Portugal de Ralis a nível internacional.
“A vinda destes dois pilotos estrangeiros estão a dar muita visibilidade”
Questionado se estava confiante da entrada de uma nova marca, Ni Amorim foi perentório: “Estou confiante. Pode ser que isso ainda ocorra neste ano de 2025. É prematuro falar, mas estou confiante. Acho que a vinda destes dois pilotos estrangeiros, obviamente, estão a dar muita visibilidade internacional ao nosso campeonato nacional.
O facto de termos um piloto espanhol do campeonato do mundo também traz mais gente, porque fazemos fronteira com Espanha e, portanto, vê-se mais espanhóis com o que se via, nomeadamente em Fafe, como este ano.Reparei que havia muitos carros espanhóis por causa da luta dos dois estrangeiros um contra o outro. E acho que isso ajuda a nivelar o campeonato por cima.
É preciso ver que nem toda a gente aceita bem que estejam cá pilotos estrangeiros a correr, mas eu lembro que em meados dos anos 2000, 2005, 2006, 2007, os pilotos continentais foram para os Açores e começaram a fazer o Campeonato dos Açores. E a referência dos Açores, o piloto que ganhava, o Horácio Franco na altura, quando começaram a ir os continentais para lá, andavam muito mais depressa e isso fez com que os pilotos evoluíssem também muito mais. Mais tarde veio o Ricardo Moura, por exemplo, para o CPR e foi Campeão, e agora temos aqui o Rúben Rodrigues, portanto, isto é o exemplo perfeito de que nivelar os campeonatos por cima vale a pena.
Por exemplo, este Gonçalo Henriques que agora chegou, e o Hugo Lopes com certeza que tem que olhar para a nossa realidade, e tem que ser o objetivo deles. Tendo em conta que há dois pilotos que se destacam, acho que eles têm que se tentar nivelar por esses pilotos e, portanto, isso pode ajudar.
O Gonçalo Henriques, se não houvesse estrangeiros, a primeira prova que tinha feito em Portugal, tinha obtido uma vitória a geral, no Algarve. E agora não sei o que poderia acontecer, mas estava a andar muito bem no Terras d´Aboboreira. E o Hugo Lopes também acho que vai andar, teve a sua oportunidade, mas numas condições dificílimas e teve muito azar. Ninguém merece estrear-se com quatro rodas motrizes pela primeira vez com aquelas condições atmosféricas. Eu estava lá, e se os pilotos mais experientes estavam com muitas dificuldades, imagino o que foi a estreia do Hugo Lopes.
Acho que os campeonatos estão com muitos inscritos. A Montanha está com números também recorde de inscritos. Os campeonatos estão a ser bem promovidos dentro das nossas possibilidades e dos nossos orçamentos. Acho que estamos no caminho certo”.
Ni Amorim também se congratulou pelo trabalho feito para equilibrar as contas da FPAK: “Estamos com as contas, do ponto de vista económico e financeiro, absolutamente equilibradas, apesar de todos estes investimentos. Fizemos também o investimento no último mandato em recursos humanos. Temos novos elementos que se estão a revelar uns bons quadros para o futuro da FPAK em áreas fundamentais, os regulamentos e na área da técnica.
Reforçamos os nossos meios técnicos, acabamos de comprar uma carrinha oficina com todos os meios.Odelegado técnico chefe, entendeu que era necessário para poder fazer o melhor trabalho de verificações, a carrinha chegou em janeiro deste ano, portanto, é algo muito recente.
Fizemos investimentos também na parte imobiliária. Compramos as instalações do Porto, pois uma parte era alugada, outra já era própria.A parte alugada foi adquirida, portanto, é um investimento que fica para o futuro da FPAK e menos uma renda a pagar ao fim do mês. Acho que o balanço, sinceramente, e modéstia à parte,é muito positivo”.
“Passamos de 4.000 para 7.000 praticantes em 8 anos”
Questionado sobre a evolução do número de praticantes em Portugal, o presidente da FPAK mostrou-se radiante com a evolução: “Temos notado um incremento. Estamos com cerca de 7.000. Passamos de 4.000 para 7.000 praticantes em 8 anos, o que é extraordinário. É um aumento brutal. E isso faz crescer o negócio para todos.Não temos só bons campeonatos, temos bons troféus também, muito bem organizados, muito bem promovidos e que também trazem muita gente. Acho que este intercâmbio que se conseguiu com Espanha é importante. Nunca se tinha conseguido nos anos anteriores porque tivemos sempre costas voltadas. Hoje temos muitas coisas em comum com Espanha. Temos uma boa relação com o meu homólogo espanhol, que por sua vez é vice-presidente da FIA e que temos conseguido abrir portas, que nos tem em trazido agradáveis surpresas até em provas que estamos a fazer a nível ibérico, nomeadamente o Rali da Água, que começa em Portugal, vai a Espanha e volta a Portugal. Temos parcerias para a área do todo terreno, por exemplo, a Baja Extremadura.
Temos a Baja do ACP de Grândola, que se não fosse a Espanha, não tínhamos área para podermos cumprir os quilómetros que o caderno de encargos obriga. Portanto, isto é possível graças também às boas relações, porque para entrar lá dentro temos que ter autorização de quem de direito. As relações são boas e isso é muito importante, porque acho que vamos continuar a ganhar com isso no futuro”.
“Grande revolução na parte informática”
A FPAK também deu passos importantes na modernização da sua estrutura: “Tivemos uma grande revolução na parte informática. Praticamente deixámos de ter atendimento ao público, porque é tudo feito inforáticamente. Foi um investimento grande, é um investimento evolutivo todos os meses, nunca para. Mas hoje já não é preciso vir de Vila Real oude Faro para vir tirar uma licença desportiva a Lisboa ou Porto. Hoje em dia faz-se em casa. É um passo gigante e isso facilita bastante toda a gente. Também contribui até provavelmente para o aumento de licenciados porque o processo é simples.
Apesar desse investimento brutal no parque informático, conseguimos manter o preço das licenças inalterado nos últimos 4 anos. Apesar de termos apanhado com anos de inflação de 6 e 7%, nem aumentamos as licenças, nem aumentamos as taxas das provas. É bom que se diga, o que aumenta é o que está à volta das taxas, no caso das cronometragens, seguros, etc., que nós não controlamos, são serviços externos que nos prestam. A Federação em si não aumenta as taxas há 4 anos, nem as licenças desportivas. Portanto, nesse aspeto também é, digamos, é bom saber que conseguimos ter as contas certas sem ter que aumentar os preços”.
Já em fim de mandato, Ni Amorim explicou as novidades nos seus órgãos estatutários: “Há no Conselho de Comissários, duas listas, mas é preciso ver que nos últimos talvez 12 anos sempre houve duas listas concorrentes para o Conselho de Comissários. Desde que eu aqui estou, sempre foi assim e antes, já assim era, portanto, não é uma grande novidade.
Em termos de órgãos estatutários, há pequenos ajustes no Conselho de Disciplina, no Tribunal de Apelação. Há uma nova lei que obriga que determinados órgãos têm que ter uma quota de 20% feminino. E nós, obviamente, temos que respeitar isso na direção, na Assembleia Geral, e no Conselho Fiscal. São órgãos em que isso é obrigatório e nós, obviamente, temos que fazer alguns ajustes. Basicamente, o que o que nós fizemos na direção foi reduzir o número de membros que eu acho que é exagerado.
Reduzimos o número de membros da Direção e vamos trabalhar cada vez mais com as comissões das especialidades, das diversas especialidades e depois a direção toma as decisões que tem que tomar baseadas nas conclusões das comissões. Acho que é a melhor forma, não estamos a inventar a roda, isto é feito em vários países da Europa com outras ASNs e funciona bem.
Deixamos de ter tanta gente e de nove, passamos para quatro membros. A Madeira e os Açores passam a ter um representante da Federação lá, em vez ser um membro da direção. Acho que vão prestar um bom serviço os representantes da Madeira e dos Açores.
Até porque a Madeira está num crescimento francamente positivo do seu parque automóvel, sobretudo os ralis e a Madeira não tem só os ralis. Tem o karting que está forte, tem as rampas e tem os ralis um dos quais muito importante que é o Vinho Madeira. É importante que os representantes das duas ilhas estejam em permanente comunicação com a direção da FPAK. É outra alteração que nós fizemos, deixam de ser membros da direção e passam a ser representantes locais.
Portanto, é uma direção mais curta. Vamos apostar mais nas comissões e nos representantes nas ilhas.E eu acho que vamos ser mais ágeis no processo de tomada de decisão. As reuniões de direção provavelmente vão ser mais rápidas porque não tem que passar por tantos membros. E acho que as modalidades têm a ganhar,nem que sejam as comissões a tomar as grandes decisões. São eles que conhecem a realidade da especialidade e, portanto, muito melhor do que nós, que estamos aqui sentados”.
“O automobilismo em Portugal está a atravessar um bom momento”
Fazendo uma espécie de Estado da Nação fez o balanço do desporto motorizado nacional:
“Em termos gerais, eu acho que está que está muito bom. Conseguimos as principais categorias da FIA, a Fórmula 1 o WEC e o WRC. E conseguimos, naturalmente, também pela questão da COVID, que nos trouxe muitos problemas no primeiro mandato, mas também trouxe oportunidades. Uma das oportunidades foi o regresso da Fórmula 1 a Portugal, que em 8 meses veio duas vezes. Estávamos a concorrer com países como Itália, e é muito difícil de ganhar o que é que seja os italianos no desporto automóvel.
E conseguimos graças ao envolvimento do Paulo Pinheiro, que teve aí um papel absolutamente fundamental. Ele com as equipas, com o Promotor, a FPAK, a FIA, com o Jean Todt, diretamente, neste caso, e com o Patrick Bayer na altura, que era o Secretário Geral da FIA, conseguimos convencê-los a que viessem para o Algarve e isso foi muito bom ao fim de 24 anos.
Foi para mim uma emoção ver, um dos Grandes Prémios foi sem público, por causa da COVID, o outro grande prémio foi com 50% de público e foi um prazer enorme ver aquela grande infraestrutura e acho que isso foi muito importante para o desporto automóvel em Portugal, porque deu muita visibilidade a Portugal. Depois da Fórmula 1 veio o WEC que ficou três anos em Portugal. Agora, obviamente, que grandes competições tão a ser deslocadas para outros pontos do mundo, nomeadamente para o Médio Oriente e para a Ásia. Mas o facto de termos tido cá a Fórmula 1, termos conseguido arranjar as verbas necessárias para fazer as obras para que o circuito tivesse homologação.
Já agora, uma coisa importante que pouca gente sabe. Quando conseguimos arranjar as verbas para que o circuito pudesse receber a Fórmula 1, o circuito foi homologado para Fórmula 1 e para o MotoGP. Que são duas homologações diferentes. E o Grande Prémio de MotoGP continua em Portugal.
Deu-se um passo de gigante em conseguir que viesse cá a Fórmula 1, porque sensibilizamos o governo, pois não havia, obviamente, budget para pagar a taxa ao promotor, mas pelo menos tínhamos que fazer as obras necessárias que o caderno de encargos nos obrigava para homologar a pista. Isso acho que deu uma visibilidade muito grande ao autódromo de Portimão e a Portugal e ao automobilismo em geral.
O WEC a seguir 3 anos, sendo a segunda categoria da hierarquia da FIA, ter cá estes construtores todos, como a Ferrari e a Porsche, a nível oficial, foi muito importante também para imagem de Portugal.Portanto, eu acho que o automobilismo em Portugal está a atravessar um bom momento. Não sei dizer se é o melhor, mas é, da minha geração, do que eu me recordo, dos melhores e, portanto, Portugal está sinceramente no bom caminho e está na moda na Europa. E acho que aí também contribui não só o que acabei de dizer, a vinda dos grandes eventos da velocidade a Portugal, mas porque os tais dos campeonatos âncora, digamos assim, os ralis e a velocidade estarem ao nível que estão.
“Todas elas têm vindo, ano após ano, a ganhar protagonismo”
Questionado sobre se alguma disciplina ainda podia levar algum empurrão, a resposta foi clara: “Temos muitas disciplinas e é um espanto porque, por exemplo, o Drift era uma coisa que há uns anos não se dava importância e está a crescer imenso. Já fui ver corridas de Drift, foi a FIA que conseguiu aqui há uns anos fazer uma final no de Drift no Japão que pôs completamente o Drift na moda. Já tinha adeptos, mas passou a ter muito mais, porque a FIA olhou para aquilo com outro interesse. Viu ali potencial e realmente tem, e nós aqui em Portugal temos crescido bastante no Drift.
E temos crescido nas modalidades todas, desde as Perícias, o Trial, o Rallycross, por exemplo. Temos aqui um conjunto de carros muito interessantes, nomeadamente os S1600, que são carros hoje em dia já muito caros, e que vão agora, dentro de poucas semanas fazer a prova do Campeonato do Mundo em Lousada, que foi também outro grande investimento que foi feito por parte da autarquia, para termos uma imagem institucional em Portugal. Portanto, sem me querer esquecer de nenhuma modalidade, acho todas elas têm vindo, ano após ano a ganhar protagonismo, importância, número de inscritos e mediatismo.”
Recentemente arrancou uma nova uma nova competição, a Rally Series. Que tem um conceito muito direcionado para os adeptos. Será que os ralis do CPR ou o CPTT, ou mesmo a Velocidade poderiam beber ideias de inspiração neste projeto e tentar arranjar formas de chamar mais gente às competições, como os Parques de Assistência? Ni Amorim acredita que há ideias a retirar desse formato
“Tive que aprovar o Rally Series para que pudesse ser realizado. E estou de acordo com o conceito, acho que leva os ralis ao público. É um conceito simples, as pessoas convivem muito, é tudo à volta de uma ou duas classificativas e de um Parque Fechado, está a ser bem promovido. Não começou muito bem, mas logo a seguir Castelo Branco já melhorou bastante. Portanto, estou convencido de que vai continuar a melhorar e acho que se vai consolidar ao longo do ano de 2025. Eu não vejo que isso choque o Campeonato de Portugal de Ralis. Desde que não saia destes moldes, que também não pode sair. Estão definidas as linhas vermelhas para o Rally Series
“Eu acho sinceramente que os clubes estão atentos a isso também. Como sabe, o CPR não tem um promotor. Porque não tem um promotor e a velocidade tem? Porque ainda não apareceu um projeto que a direção considerasse suficientemente credível e sólido para poder entregar a responsabilidade do Campeonato de Portugal de Ralis. No caso do Campeonato de Portugal de Velocidade, apareceu um projeto que nos pareceu que era a aposta certa e, veio-se a verificar que sim. E, portanto, acho que os clubes que estão a participar nos Rally Series, estão a aprender, porque são os mesmos clubes também que estão a fazer os ralis do CPR”.
“Estamos com cerca de 300 provas inscritas no portal da FPAK”
A propósito de ter falado na Velocidade, a organização dos calendários da Velocidade revela-se cada vez mais desafiante com muitas datas, e às vezes algumas sobreposições. Algumas estruturas mais pequenas podem sofrer um com isso. O presidente da FPAK abordou o tema:
“Temos feito tudo o que podemos para melhorar. Agora, nós estamos com cerca de 300 provas inscritas no portal da FPAK. Em janeiro praticamente, não há provas. Há grandes limitações de provas de estrada entre 15 de julho e o início de setembro, por causa da Proteção Civil que não permite que se façam provas de estrada, por causa dos incêndios. Isso, claro, não afeta os circuitos, mas afeta os ralis e o TT, portanto, acaba por haver uma concentração muito grande. Acaba por haver meses com muita carga, onde temos seis, sete provas por fim de semana. Isso é a causa de muitas dificuldades a todos os níveis. Do ponto de vista logístico, do ponto de vista dos oficiais de provas, do ponto de vista da sobreposição.
Depois é preciso ver que nós queremos deslocar provas, por vezes de um fim de semana, para que não coincidam tantas no mesmo fim de semana. Mas as autarquias opõem-se porque ou há a festa na região, ou éum feriado local e, portanto, dizem ou é que ou é naquela data ou não há prova. Deixa-nos sempre aqui em circunstâncias muito complicadas.
O que é que nós tentamos fazer? Para não prejudicar o trabalho das equipas, tentámos que, por exemplo, a montanha não coincida com a velocidade, e temos conseguido, que o TT não coincida com os ralis, porque há equipas dos ralis que estão a dar apoio ao todo terreno, assim como a velocidade à montanha. Olhar a tudo é impossível.
Por exemplo, no campeonato de Todo-o-Terreno deste ano. O João Ferreira está a fazer vários campeonatos. Conseguimos deslocar algumas provas para que ele pudesse pontuar no maior número possível de provas.
Agora, fazer que todas não coincidam com todos os interesses que ele tem lá fora, é impossível. Não se consegue.
Por um lado, é bom, termos muitas provas, quer dizer que há muita atividade, é bom para as equipas, é bom para o negócio, é bom para quem vende pneus, é bom para quem vende material, é bom para a comunicação, é bom para toda a gente, mas depois também tem o reverso da medalha, e o reverso da medalha é não poder agradar muitas vezes a todos.”
“A FPAK teve muito bom senso a gerir com pinças, a questão de Vila Real”
O CPV vai regressar a Vila Real. O AutoSport quis saber qual o papel da FPAK neste regresso e se as questões do passado estão resolvidas: “A FPAK teve muito bom senso a gerir com pinças, a questão de Vila Real. Houve problemas complicados no passado, com os intervenientes nos diversos campeonatos de velocidade, nomeadamente com a APCIVR, que tinha uma posição de que as corridas internacionais tinham que ter um destaque diferente das corridas do CPV. Acho que, com bom senso de todas as partes, e com a FPAK a mediar toda esta situação, e com muita diplomacia, se conseguiu chegar a um acordo que permita que Vila Real seja um dos melhores anos de sempre de corridas dado o parque automóvel que está previsto que lá se desloque nos próximos dia 16 e 17 de julho”.
Nos últimos tempos, têm surgido algumas queixas no seio dos ralis relativamente à estrutura das provas, com vários intervenientes a defenderem a necessidade de um diálogo mais eficaz entre as equipas e os organizadores. Nesse contexto, a FPAK é frequentemente apontada como entidade mediadora fundamental. É, por isso, pertinente perceber se tem conhecimento desta situação e que medidas pretende implementar para dar resposta a estas preocupações: “Não. Eu tenho participado em muitas reuniões com a ACOR, a associação que organiza as provas de ralis e não me tem chegado esse feedback de falta de diálogo entre as equipas e os clubes organizadores.
Tem havido uma aproximação positiva da ACOR e da Associação de Pilotos de Ralis. O que eu acho é que neste momento, e como eu vejo que deverá ser este ano de 25 e o próximo mandato, é justamente a ACOR, Associação de Pilotos ou as associações de pilotos, cada vez mais juntas, a conversarem, e chegarem a um consenso.
Por exemplo, ainda agora houve um problema com o fornecedor de gasolina P1, que faliu e já se reuniu com as equipas todas, para ouvir as opiniões, e vamos tomar agora uma decisão. A FPAK terá essa responsabilidade de tomar a decisão, não estamos preocupados de que seja já, porque o próximo prova que aí vem é o Rally de Portugal e é obrigatório utilizar a gasolina do mundial. Portanto, não temos um problema para este mês, mas temos um problema para Castelo Branco e aí vamos ter que tomar uma decisão, mas já fizemos uma primeira reunião e acho que vamos chegar a um consenso, e que vamos resolver, se possível tendo em conta a sustentabilidade ambiental”.
“A ANPAC tem feito um trabalho muito bom”
Depois de termos abordado o Campeonato de Portugal de Velocidade e a Velocidade em geral, importa agora olhar para tudo o que está além desse universo competitivo — nomeadamente a ANPAC, os troféus monomarca e outras competições paralelas que também fazem parte do panorama nacional:
“A ANPAC tem feito um trabalho muito bom, é uma estrutura completamente diferente do CPV. É uma estrutura com mais de 100 carros, tem sido nos últimos anos um porto seguro para o Circuito Vila Real. E, portanto, vai ter que continuar a ter o mesmo protagonismo em Vila Real que tem tido nos últimos anos. Dou-me muito bem com os dirigentes da ANPAC, e isto também ajuda às relações, e estamos a tentar melhorar e acomodar a regulamentação da ANPAC para que possa ter outro tipo de carros, e vamos fazer alguma experiência este ano para ver se em 2026 a ANPAC pode estar ainda melhor do que aquilo que está. Mas a ANPAC enquanto promotora de carros clássicos faz um bom trabalho. Sem dúvida”.
“Se a FPAK não tivesse a FPAK Júnior Team, estaria algum piloto neste momento a correr num Rally2?”
Desafiado a falar do momento do Karting, Ni Amorim reforça o bom momento da modalidade e o trabalho que tem sido feito para fomentar esta boa fase: “Eu tenho algumas ideias para o karting. Irei ter depois das eleições, reuniões no sentido de ver o que é que podemos alterar. O Karting neste momento atravessa um bom momento em termos de número de inscritos. A FPAK tem ajudado nos jovens pilotos, suportamos o budget das categorias, suportamos uma parte significativa do budget das categorias Cadete e Captação, precisamente para ajudar a trazer gente para o Karting. A primeira licença de quem quer entrar para o Karting é gratuita. Na Madeira oferecemos às categorias de iniciação os pneus para todo o campeonato. Havia quatro pilotos nas categorias de iniciação. Há 12. Isso tudo são pilotos que vão ficar para as categorias a seguir. Tem que continuar o investimento para continuar o trabalho de captação, que é o trabalho difícil. É a renovação. E é aquilo que nós estamos a tentar fazer.
Estabelecendo um paralelo com os ralis e com FPAK Júnior Team. Para haver renovação e para as marcas apoiarem, alguém tem que os formar. É isso que a FPAK está a fazer. E, portanto, estou convencido de que, os pilotos que estão na Iniciação e nos cadetes que vão continuar no Karting, e depois aqueles que estão no Karting, hão-de vir para os programas do FPAK Júnior Team, como estão na Montanha, como estão na Velocidade e como estão nos Ralis.
Tem-se notado o crescimento. É absolutamente evidente, é notório, e toda a gente o reconhece. E eu não pensava, era que ficava tanta gente que tem passado pelo FPAK Júnior Team, que ficava permanentemente a correr. Julgava que tinham essa experiência e depois que abandonava, mas não. Uma parte significativa tem ficado. O que é de louvar. Veja essa felicidade, há quatro ou cinco pilotos que estão a fazer GT e GT4. E que estavam nos Ginetta há três anos. É fantástico. O Gonçalo Henriques, estava num Kia Picanto. Hoje está a pilotar um Rally2. Um Rally2 ao fim de 3 anos. E agora eu pergunto, então e se a FPAK não tivesse a FPAK Júnior Team, estaria algum piloto neste momento a correr num Rally2?
“Tem que fazer parte da equação o campeonato voltar aos Açores”
Com a chegada de uma nova direção no Grupo Desportivo Comercial, questionamos sobre a possibilidade do regresso do Rali dos Açores ao CPR: “Temos que olhar para isso como uma forte possibilidade. Pois se o rali tiver uma boa avaliação, o Rali dos Açores é obviamente incontornável no panorama nacional.Dos melhores ralis que existem, toda a gente reconhece. O problema é que nós não temos tido nos Açores grande sorte com o GDC. Tem de haver um compromisso de que além de prova ser bem avaliada, que haja os meios financeiros para que os nossos pilotos possam ter orçamento para se poderem deslocar aos Açores com as condições mínimas.
Agora, o campeonato é uma questão difícil, e que vai ser polémica, porque eu não estou a ver que o campeonato tem a margem para crescer em número de provas. Portanto, para entrar os Açores – que é justo e legítimo – temos que ver como é que ajustamos tudo isto. Porque se o rali for bem avaliado, se houver garantias financeiras que o rali se vai fazer, como eu espero que sim, tenho que ser otimista, embora tenha tido algumas desilusões com esse clube nos últimos anos, acho que tem que fazer parte da equação o campeonato voltar aos Açores”.
A questão não se remete só ao Grupo Desportivo Comercial, ao Rali dos Açores. Há outros ralis a posicionarem-se para uma eventual entrada no CPR, como o Rali de Lisboa, o Rali Constálica Vouzela e Viseu. Poderá haver mexidas no futuro em breve? O que pode esperar cada organizador que esteja dentro, ou fora, do CPR, sobre a forma como essas mexidas eventualmente se podem fazer? Quisemos saber mais do presidente da FPAK:
“Há aqui várias hipóteses. Há provas de terra que podem passar para asfalto, há provas de asfalto podem passar para terra, há provas que podem ter que sair para entrarem outras. Agora também acho que é prematuro falar do futuro, no início de ano de campeonato e numa altura em que o Rally dos Açores ainda nem avaliado foi. Agora, estou consciente que é um desafio para o próximo mandato. E que temos que estar à altura de responder a esse desafio. Temos que arranjar uma forma, evidentemente, de haver aqui um equilíbrio e uma e uma equidade, pelo país inteiro e pelas duas ilhas.”
E como é que todo este processo do ponto de vista da FPAK se pode proporcionar? O que todos os organizadores podem esperar – os que estão dentro e fora – qual é a linha condutora que as pessoas podem esperar para saber com o que contam? Amorim revelou que é preciso encontrar esse caminho:
“Aí é que está a dificuldade! Encontrar esse caminho! O que deveria determinar tudo isto seria o relatório das provas.
Mas todos nós sabemos e, se não quisermos ser hipócritas, temos que reconhecer que sempre houve uma componente política na escolha das saídas e das entradas. Eu não estou em desacordo com essa política, se quer que lhe diga. Porque um rali, pode correr mal um ano por ter tido um azar brutal, mas ter sido um rali fantástico nos últimos 10 anos e não é por isso que deve sair nesse ano, por ter uma nota má.
Depois há ralis com mais interesse do que outros. Há ralis mais bem organizados, com mais público, com mais promoção e há ralis com menos público, menos bem organizados e com pouca gente e com pouca promoção. Portanto, tudo isso tem que ser, obviamente, equacionado.
O que é que eu gostaria? Era de acomodar toda a gente, era ter aqui uma política de inclusão de todos os clubes, mas isso não é possível, porque isso rebenta com os orçamentos das equipas e dos pilotos. E, portanto, não podemos fazer um campeonato com mais que este figurino das oito provas, que nós estamos a fazer neste momento. E na Madeira também estamos a fazer oito provas. Contam os seis melhores resultados. A Madeira tem sido uma agradável surpresa em termos de parque automóvel, este ano tem um parque automóvel notável. E portanto, estamos muito entusiasmados com o que está a passar na Madeira.”
Sendo este um tema complicado, Ni Amorim confessou que é um dossier delicado e nada fácil: “É a parte talvez mais complicada porque é muito difícil de encontrar aqui um critério que seja justo.
Temos que ver! Custa-me ver um clube que está a fazer um esforço enorme para entrar para o campeonato de Portugal de Ralis e que não tenha uma oportunidade de entrar, depois de ter feito investimentos.
Como o caso do Rali dos Açores, que está a começar do zero, não é? Porque claro que já tem uma nova direção.
Direção teve parada e inativa um ano ou dois e, portanto, estou na expectativa.
Acho que o rali tem uma boa equipa, voltou a equipa que estava do antigamente ao GDC, e isso podem ser boas notícias para a avaliação e realização da prova. Mas essa é uma componente. Outra componente é garantia financeira de que o rali vai haver os meios para que ele se possa realizar. E isso já não depende da FPAK. A FPAK pode intervir, a pedido do clube, junto das autoridades competentes, como já o fez no passado, falar com o Presidente do Governo Regional para tentar arranjar verbas para que o Europeu se mantivesse”.
“Nunca conheci tantos autarcas como conheço agora”
Ao longo destes anos as Câmaras têm sido grandes apoiantes do desporto automóvel. E Ni Amorim reconheceu que este tipo de investimento tem sido bom para os municípios que fazem essa aposta: “É bom para eles, mexe muito com a economia. Ainda agora fui a uma prova de Todo-o-Terreno, à Baja TT Norte e reparo que nas unidades hoteleiras os preços duplicam ou triplicam na altura das provas, os restaurantes aumentam os preços. Os restaurantes estão completamente lotados, as confeitarias estão lotadas, o comércio está lotado, ou seja, mexe com as economias locais. E depois, como a comunicação está mais forte que era, também, dá-se a conhecer o território onde se realizam as provas ao País através da comunicação, o que é importante e é o objetivo das autarquias.
Portanto, eu nunca conheci tantos autarcas como conheço agora, políticos de uma forma geral, e dou-me bem com a maior parte deles e com alguns até tenho uma certa proximidade, porque isto também nos une, o facto de falarmos de provas. Estive com o Dr. Ricardo Rêgo da Câmara de Braga, fiz questão de ir à apresentação da Rampa da Falperra, porque ele está no seu último mandato, deu o seu contributo para a Rampa da Falperra, que é a prova mais antiga da Europa. E, portanto, senti-me na obrigação de retribuir e ir a agradecer e até lhe pedir para que interfira de forma direta ou indireta quem vier a seguir, que continue a manter a Rampa da Falperra, uma prova que é das melhores da Europa, e que tem tanta gente. É melhor rampa do Campeonato de Portugal em termos de público. E portanto, acho que os autarcas, quer com as provas de montanha, quer com as provas de ralis, de uma forma geral, estão satisfeitos porque são dos maiores eventos que têm nas suas regiões.
No entanto, querem muito retorno com pouco dinheiro, mas tem que se habituar que os clubes têm de fazeras coisas bem feitas e com segurança. Também é importante para a imagem da Câmara que o rali corra bem, portanto, hoje em dia a segurança é uma questão que para nós e cada vez mais nos preocupa, até porque os meios de segurança cada vez estão mais caros, mais os Bombeiros, a Polícia, etc. E portanto, enfim, lamentam-se, mas, no fundo têm vindo a ser uns grandes financiadores das provas de estrada em Portugal.”
“Somos incentivados pela FIA a promover as mulheres”
Quanto à entrada das mulheres no desporto, Ni Amorim considera que o esforço feito está a dar frutos: “A Ladies Cup nos Caterham está a ser um sucesso tremendo. Acabamos de ter uma dupla portuguesa, a Maria Luís Gameiro e a Inês Ponte no Rally Jameel, fizeram muito boa figura num grupo de dezenas de carros e ficaram numa honrosa posição, e representaram muito bem a imagem de Portugal. E foram muito elogiadas. A FPAK e o desporto em Portugal saíram dignificados porque elas fizeram um bom trabalho em termos de comunicação, em termos de imagem, etc.
E, portanto, nós estamos a apoiar também no FPAK Júnior Team, o Ladies Cup, justamente para ajudar a trazer mais mulheres para o desporto automóvel, já há algumas que não tem a ver com o FPAK Júnior Team, já lá estavam, e com bons resultados e até no Karting.
Como sabemos, temos uma jovem que é guerreira, a Maria Germano Neto, e que não dependeu do FPAK Júnior Team para nada, está lá por mérito dela. Mas sim, é um projeto que tínhamos, e que somos incentivados pela FIA a promover, as mulheres, e por isso a própria FIA tem uma Comissão só de mulheres, precisamente para discutir como é que se há-de promover o desporto automóvel junto das mulheres. E nós, obviamente, em tudo que pudermos seguimos as orientações da FIA”.
“Apoiamos clubes no valor de 400.000€ para se desenvolverem”
Há três anos falou-se num programa de formações a vários níveis. Questionamos se te estado a aparecer gente nova suficientemente interessada no desporto automóvel e a resposta foi afirmativa:
“Está! Tem havido tem havido gente nova a entrar para os automóveis. Não ao ritmo que nós gostaríamos, mas isto não é um problema só de Portugal, isto é um problema transversal ao resto da Europa. Há uma Comissão de oficiais e voluntários da FIA, precisamente também para discutir só estes temas. E eu, como estou por dentro do que se passa nessa Comissão, até porque tivemos lá o Rui Marques bastante tempo nessa Comissão. Estou por dentro do problema dos oficiais, a nível internacional.
Nós temos feito um esforço grande em termos de formação. E nós fizemos um esforço grande em apoiá-los neste segundo mandato. Apoiamos clubes no valor de 400.000€ – dinheiro direto – para se desenvolverem, se modernizarem e de preferência com uma particular incidência nas próprias formações, ou seja, terem meios para poderem fazer as formações junto dos seus oficiais.
E esse dinheiro, acho que foi bem aproveitado pela maioria dos clubes. Pelo menos, o feedback foi muito positivo. Essa fase agora terminou, isto foi para fazer um refresh para que eles pudessem fazer um ‘update’ de determinados equipamentos. E que agora estarão também com mais capacidades para formação, por exemplo, que tinham antes deste programa ter sido incentivado e ativado.”
“Rui Marques está a fazer um bom trabalho e isso é um orgulho para Portugal”
Temos agora o Rui Marques como Diretor de Corrida da Fórmula 1. Olhando para o que tem acontecido, é um orgulho para Portugal, pois quase não se fala do ‘árbitro’, pouco se tem falado. Quisemos saber qual o feedback do seu trabalho:
“Está a fazer um bom trabalho! Já não é a primeira vez que temos esse cargo.Já tivemos o Eduardo Freitas antes, temos agora o Rui Marques. Temos o Eduardo Freitas com uma projeção internacional muito grande, como diretor das 24 de Le Mans, grandes eventos, o homem do WEC. E acho que está muito bem, foi um pioneiro na internacionalização da FIA, a este nível, pelo menos. E o Rui Marques está-lhe a suceder nessa parte da Fórmula 1, está a fazer com certeza um bom trabalho porque a forma como é exigente, e com este presidente da FIA, acho que se alguma coisa estivesse a correr mal, já se sabia. Portanto, eu acho que o Rui Marques está a fazer um bom trabalho e isso é um orgulho para Portugal. É um orgulho para a Federação, onde ele esteve aqui muitos anos, e daqui saiu para dar passos maiores.”
Por falar em FIA, questionamos qual é o estado da relação da FPAK com a federação internacional: “A relação da FPAK com o presidente Mohammed Bin Sulayem é boa. Falámos ao telefone algumas vezes, encontramo-nos duas ou três vezes pessoalmente. E realmente, esta gestão que ele tem feito, de entradas e saídas, estou a falar de gestão de recursos humanos, sobretudo, é evidente que não dá uma grande estabilidade, porque nós, Federação estamos a ter um relacionamento com uma pessoa, e quando as coisas estão encaminhadas para podermos dar seguimento a esse um trabalho, ele é interrompido, pois entra uma nova pessoa e temos que voltar à estaca zero. Isso não tem sido bom. Tem sido mau, essa parte. Agora, a FIA tem o seu projeto, tem os seus objetivos, mas a federação tem uma boa relação institucional com a FIA, e não só com o Presidente, mas com o Manuel Aviñó, que é vice-presidente da FIA e tem sido, digamos, um amigo de Portugal, e que tem ajudado Portugal de junto da FIA a conseguir algumas conquistas, e que são boas para a FPAK, e são boas para o Desporto em Portugal”.
“Temos tido nos últimos anos excelentes pilotos que têm sido verdadeiros embaixadores de Portugal”
Pedimos uma análise à prestação dos pilotos nacionais lá fora e o sentimento de orgulho por parte do líder da FPAK foi claro: “Bem, é outro assunto que nos enche de orgulho. Nós temos tido nos últimos anos excelentes pilotos que têm sido verdadeiros embaixadores de Portugal na área da velocidade. E nomeadamente os mais recentes, o António Félix da Costa, Filipe Albuquerque, para citar dois da última temporada, mas antes tivemos o Álvaro Parente, Pedro Lamy, tivemos o Tiago Monteiro, tivemos excelentes pilotos que representaram muitíssimo bem Portugal e também é uma preocupação e um objetivo que nós temos para o próximo mandato é tentar conseguir que haja também uma renovação internacional desses pilotos.
Têm feito um trabalho absolutamente fantástico. São pilotos que estão atualmente em equipas de fábrica e ainda têm futuro à sua frente. E obviamente que o automobilismo é uma carreira de curta duração, o tempo passa rápido e, portanto, temos que estar atentos também a isso.
A Direção da FPAK pode ajudar em muita coisa, mas não tem orçamentos para chegar à Fórmula 4, por exemplo.
Nós o que temos de fazer é preparar alguém – e é essa a nossa estratégia, no caso da velocidade – e estamos a investir no karting a nível internacional em pilotos que possam eventualmente ter talento suficiente para que algum agente internacional pegue nele ou alguma marca e diga: ‘Você é nosso piloto, assine aqui e agora vamos levá-lo´.
Portanto, a nossa fronteira está aqui. É esta. A partir daí não podemos chegar agora a um piloto, que é muito bom no karting e ir gastar 600.000€ a fazer Fórmula 4… É impensável.”
“Há um grupo de empresários no Norte que se entusiasma por eventualmente fazer um investimento”
No caso da questão do Circuito de Braga, Ni Amorim não se revela tão otimista para uma resolução: “Está tudo em tribunal e não estou muito otimista em relação a isso…Há um grupo de empresários no Norte que se entusiasma por eventualmente fazer um investimento. E eu acho que seria um investimento rentável porque na zona do Minho, um circuito apanha o Norte de Espanha e não há circuitos naquela zona. E já Braga apanhava muitas ações comerciais, sobretudo de marcas espanholas que iam fazer testes hã com carros de estrada ao circuito de Braga.
Portanto, a minha expectativa é que é mais fácil arranjar um circuito de raiz, do zero, acho eu, do que esperar que um tribunal com recursos para trás e para a frente. Claro que vai ter que ter uma solução, mas quando as soluções estão na mão do tribunal, temos que estar preparados para esperar o tempo que for necessário. Portanto, não podemos contar com isso a curto prazo.”
No entanto parece haver vontade para fazer um novo circuito no Norte: “Eu tenho tido alguns contactos de pessoas que têm vontade, e estão a fazer os seus estudos! Mas pronto, até chegar lá… Eu já conversei com pessoas que sinto estarem algo determinadas. Mas também querem alguma ajuda, querem ver se os terrenos onde o possível circuito possa ser instalado, se tem algum apoio local, ou apoio de algum Fundo Europeu, para não ser só capitais próprios, é normal que estejam a fazer esse estudo.
À pergunta, “é mais fácil surgir um circuito novo do que resolver o problema de Braga”, a resposta foi clara: “Acho que sim…”
As relações com Espanha são cada vez mais fortes e isso tem sido um ponto positivo ao longo dos últimos anos, como referiu Ni Amorim: “As relações estão cada vez melhores. São relações institucionais muito boas, e que passam até do plano institucional para o plano de amizade pessoal e, portanto, isso também facilita,obviamente, tudo e assim queremos continuar e temos esse pacto entre os dois para defendermos a Península Ibérica em conjunto junto da FIA para que possamos fazer aqui no sul da Europa o melhor possível…”
“Quem nos podia ajudar mais era a RTP”
A Cision tem medido o retorno mediático das diversas competições em Portugal, que parecem registar uma evolução positiva, mesmo se o Desporto Automóvel Nacional é notícia, em muitos casos, nas televisões, se houver provas internacionais fortes, ou incidentes/acidentes. Quisemos saber se é possível fazer mais e melhor em termos de federação para que isto mude um bocado mais:
“Eu acho que quem nos podia ajudar mais era a RTP, serviço público. Há uma grande diferença entre Espanha e Portugal. É que Espanha tem um canal público só de desporto, o Teledeportes, e nós não temos nenhum canal público de desporto. Eles têm um canal público de sinal aberto. Portanto, o retorno é muito fácil de conseguir, até porque eles querem conteúdos, porque é um canal que está 24 horas a passar desporto.
Nós aqui não temos isso, e a RTP, claro que tem dado destaque ao desporto, mas privilegia muitíssimo o futebol em detrimento de outras modalidades. Se não fosse, digamos, carolice, passe a expressão, o entusiasmo de um jornalista da RTP a fazer o que faz sobre a cobertura das nossas principais provas, então, nós tínhamos muito pouco desporto no canal público.
Eu já tentei por diversas vezes ter reuniões com o Diretor de Informação, o Subdiretor de Informação e não se consegue. Não se consegue, porque eles sabem para que é a reunião, pede-se a reunião e essa reunião não é sequer marcada. Portanto, o que nós temos que fazer, é o que temos feito, com capitais nossos, próprios, contratar uma produtora e tentarmos colocar isso nas televisões ‘chave na mão’ para termos dentro do possível o maior retorno que conseguimos. Este ano fomos mais longe. Fomos para um canal aberto.
Pois, estamos com um programa que se chama Pitlane que é todos os sábados, durante seis minutos, às 17:00 Prime Time e com um conjunto de autopromoções ao o longo da semana a chamar a atenção do programa. Vamos ver o que dá, começou agora e acho que sendo canal aberto possa vir a trazer, espero eu, pelo menos, o retorno do nosso investimento, que seja potenciado.”
“Este mandato é para partir a loiça”
Já em jeito de conclusão desafiamos Ni Amorim a delinear objetivos para o próximo mandato: “É tentar fazer no próximo mandato basicamente o dobro daquilo que foi feito no que está a terminar! (risos)
Mas vivemos num mundo muito volátil neste momento, está muito instável do ponto de vista geopolítico.
Não sabemos se o que está a acontecer nos Estados Unidos vai afetar o resto do mundo em termos de economia. Portanto, há aqui muitas variáveis e, portanto, é algo que nós não podemos dominar, mas se tudo correr como previsto, este mandato é para partir a loiça…”
“Há bons promotores, boas equipas, os pilotos são cada vez mais profissionais”
Apesar de Portugal ser um país de pequena dimensão e de muitas vezes se apontarem as dificuldades existentes, a verdade é que continuamos a ter campeonatos competitivos, boas provas e números de inscritos bastante positivos. Perante este cenário, faz sentido continuarmos a queixar-nos tanto?
“Sabe que a confiança, trazer as marcas, e tudo isso leva a que depois seja uma bola de neve, e sinceramente acho que o FPAK Júnior Team veio dar um exemplo muito grande a muita gente. Veio renovar, veio inovar, veio puxar pelas marcas. As marcas também se sentem na obrigação de, já que temos agora aqui um diamante que estava em bruto, e que está polido, fica mal não experimentarmos e portanto, se reparar, há marcas que já admitem no próximo ano repetir experiências com outros jovens.
Acho que o FPAK Júnior Team deu um grande contributo, mas acho que é um conjunto personagens que têm de ser enaltecidas. Há bons promotores, boas equipas, os pilotos são cada vez mais profissionais, os mais velhos por estarem mais velhos, têm mais experiência, cada vez trabalham melhor e todos a trabalhar e a remar no mesmo sentido, fazem com que o automobilismo esteja a atravessar um bom momento em Portugal. É que está mesmo! Basta compararmos com os outros países para vermos que estamos no bom caminho.”
“Vamos ter que atribuir o título ao piloto estrangeiro se não houver nenhuma decisão a contrário”
Quanto à questão dos estrangeiros a correr no CPR, o assunto já foi aflorado, mas é provável que possa surgir outra vez. Ni Amorim afirmou que se vai seguir o acórdão que saiu do tribunal:
“Aquilo que nós temos para já que seguir é o acórdão que saiu do tribunal, porque o tribunal sobrepõe-se a tudo e a todos. Aquilo que saiu do TAS vai continuar a valer no fim deste ano, a menos que o governo decida de outra forma. O governo tinha duas opções na altura, que era, ou mudava a lei, ou contestava a lei. Não sabemos, entretanto, porque o governo caiu. Eu acho que o governo tinha aqui uma grande hipótese para alterar a lei, pois se o acórdão diz que é inconstitucional, era uma boa altura para o governo alterar a lei, mas alterar a lei também dá trabalho. E portanto, não sei se estão nessa disposição ou se vamos continuar com esta fantochada.
Agora, a FPAK não tem culpa nenhuma disto. As leis estão feitas. É o Regime Jurídico das Federações Desportivas que o fez e nós temos que cumprir… Exceto se vier uma ordem do tribunal, como veio, um acórdão neste caso, a contrariar aquilo que a lei diz. E aí quem faz a lei, quem dita as regras, obviamente, é o tribunal. É isso que nós temos que seguir. Depois do novo governo tomar posse, vamos ter que tornar a pedir uma audiência ao senhor Secretário de Estado para lhe perguntar se recorreram, ou se vão mudar a lei. Se recorreram, vamos ter que esperar pelo recurso. Se não recorreram, então, não têm hipótese a não ser mudar a lei, do meu ponto de vista”.
Independentemente dessa conversa que eventualmente depois terá com os políticos, se chegarmos ao fim do ano com o Kris Meeke ou o Dani Sordo campeões, o que é que vai acontecer em termos de FPAK?
“Vamos ter que atribuir o título ao piloto estrangeiro se não houver nenhuma decisão a contrário, pois vale aquela decisão que houve do TAS. E depois, se houver uma contestação, um recurso ou então se o governo que entrar em funções decidir alterar a lei, aproveitando este acórdão que diz que aquela lei que é inconstitucional. Os pareceres que nós temos dos nossos consultores externos, é que a lei é inconstitucional. E eu não posso estar de acordo com a lei. Pois eu posso ir lá fora e ser campeão e depois vem cá um estrangeiro, não pode ser campeão. Isto é uma discriminação…”The post Entrevista a Ni Amorim: balanço positivo, com destaque para o FPAK Júnior Team first appeared on AutoSport.