TSMC investirá US$ 100 bilhões nos EUA, mas não deve escapar de tarifas

TSMC vai expandir produção nos EUA e investir pesado no país, mas Donald Trump deve taxar chips que saem de Taiwan mesmo assim TSMC investirá US$ 100 bilhões nos EUA, mas não deve escapar de tarifas

Mar 7, 2025 - 07:49
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TSMC investirá US$ 100 bilhões nos EUA, mas não deve escapar de tarifas

Assim como aconteceu com a Apple, a TSMC vai rever seus planos em relação aos Estados Unidos: nesta segunda-feira (3), a foundry taiwanesa fechou um acordo para investir US$ 100 bilhões (~R$ 588,44 bilhões, cotação de 05/03/2025) no país em 4 anos, para estabelecer uma fábrica de semicondutores e trazer seus processos de litografia mais modernos.

A mudança se deu graças às ameaças do presidente Donald Trump, de tarifas pesadas sobre todas as exportações de chips de Taiwan, mas segundo fontes, elas deverão ser implementadas do mesmo jeito, para garantir o compromisso da TSMC em imprimir chips localmente.

TSMC promete investir pesado nos EUA, mas importações de componentes de Taiwan deverão ser taxadas do mesmo jeito (Crédito: I-Hwa Cheng/Getty Images)

TSMC promete investir pesado nos EUA, mas importações de componentes de Taiwan deverão ser taxadas do mesmo jeito (Crédito: I-Hwa Cheng/Getty Images)

TSMC e os chips Made in USA

O acordo para o investimento bilionário foi oficialmente revelado durante uma coletiva de imprensa, e se soma aos já comprometidos US$ 65 bilhões para a construção da fábrica principal de semicondutores em andamento no Arizona. Ele deverá viabilizar pelo menos três novas instalações para impressão de chips, duas para condicionamento, e um centro de Pesquisa e Desenvolvimento.

Os planos seguem a meta de Trump para trazer os mais modernos processos de litografia para os EUA: a fábrica de Arizona já produz chips de 4 nm localmente, e segundo a TSMC, deverá estar pronta para os de 2 nm e mais modernos "até o fim da década", mas o presidente já disse que não quer esperar, e deverá continuar pressionando para que os componentes de última geração sejam produzidos o mais rápido possível.

A intenção é óbvia, Trump quer estabelecer os EUA como o primeiro e mais avançado polo de desenvolvimento tecnológico do mundo, ao invés de empresas manterem o processo atual de importação de componentes e produtos manufaturados de países como China, Taiwan e Índia; o presidente já disse que as tecnologias desenvolvidas no país foram "roubadas" por companhias como a TSMC, e o movimento visa gerar empregos internamente, fortalecer a economia, e depreciar concorrentes.

A declaração atravessada de Trump pegou mal em Taiwan, que chegou a proibir a foundry de imprimir chips de 2 nm fora do país, uma decisão revista uma semana antes da posse do atual presidente, após este ameaçar com taxas pesadas assim que assumisse o cargo.

Quando os trabalho para a construção da fábrica no Arizona começaram em 2020, a TSMC pretendia gastar originalmente US$ 12 bilhões em 10 anos, um valor reajustado para US$ 40 bilhões em 2022, e expandido para US$ 65 bilhões graças à Lei CHIPS de Joe Biden, mas os planos eram bem claros, os processos mais avançados continuariam restritos a Taiwan.

Trump não quis nem saber, e começou a apertar a companhia para que esta traga os processos mais modernos AGORA, não depois, de onde veio a acusação de que a companhia roubou o mercado de chips dos EUA ao usar suas tecnologias e processo, se valendo de mão-de-obra local mais barata, e que os americanos (especificamente os presidentes democratas, Biden e Barack Obama) foram "muito burros" ao permitir tal coisa.

Fábrica da TSMC em construção no Arizona (Crédito: Divulgação/TSMC)

Fábrica da TSMC em construção no Arizona (Crédito: Divulgação/TSMC)

A tática de Trump foi, para variar, taxar sem dó. Assim que voltou à Casa Branca, o presidente dos EUA mencionou a implementação de uma assustadora tarifa "de 25% ou mais" sobre todas as importações de semicondutores, que aterrorizou todo o Vale do Silício, ainda mais porque desta vez, NINGUÉM terá direito a subsídios. Só há duas opções, pagar muito caro para importar, ou produzir seus bens e componentes internamente, o que envolve estabelecer linhas de produção e redes ancilares, o que também sairá muito caro.

No geral, todo o setor está resignado que os preços de produção irão subir, e os valores serão repassados sem dó aos consumidores, onde a Acer, que reajustou sua linha de laptops em 10% nos EUA, e a Apple, que pesou a mão no preço final do iPhone 16e, são os exemplos mais óbvios.

Não obstante, as bolsas norte-americanas anotaram perdas acentuadas assim que as tarifas de 25% sobre México e Canadá, e de 20% (reajustada de 10%) sobre a China entraram em vigor, que pulverizaram todos os ganhos desde a posse de Trump, e também afetarão o mercado de tecnologia, de várias maneiras.

Trump e as taxas inevitáveis

Embora a TSMC esteja investindo nos EUA para fugir das tarifas, Trump estaria se preparando, segundo fontes próximas, a taxar todos os semicondutores produzidos em Taiwan e enviados aos EUA, independente do acordo firmado. O motivo é simples, a Casa Branca os classifica como "essenciais para a inovação", e companhias devem ser estimuladas a trazerem suas linhas de produção e redes ancilares para a América, de qualquer jeito.

As taxas de importação atuariam como um agente de desencorajamento das companhias para fornecer componentes a países opositores, como China e Rússia, e concorrentes como União Europeia e demais países do BRICS (Brasil, Índia, África do Sul, e agregados recentes que incluem o Irã, membro do "Eixo do Mal" e sujeito a pesadas sanções econômicas), tornando a produção fora do território americano extremamente cara (os EUA continuam sendo os principais compradores), ao ponto de se tornar inviável.

Da mesma forma, a exportação de componentes Made in USA terá que passar por escrutínio do governo, e os preços não serão nada amigáveis.

"Tarifaço" de Donald Trump não poupará ninguém. Mesmo (Crédito: Evan Vucci/AP/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

"Tarifaço" de Donald Trump não poupará ninguém. Mesmo (Crédito: Evan Vucci/AP/Ronaldo Gogoni/Meio Bit)

As tarifas seriam aplicadas a todas as formas de entrada de semicondutores taiwaneses nos EUA, incluindo os presentes em produtos prontos para o consumo, e se você pensou no iPhone, acertou. Não por acaso, a Apple vai investir US$ 500 bilhões para voltar a produzir nos EUA, aliada à TSMC e à Foxconn, que está sendo pressionada por Trump a trocar o México por Wisconsin; pelo mesmo motivo, a Nvidia está negociando com TSMC e Broadcom, a fim de imprimir localmente seus chips de IA e componentes de GPUs.

Trump também ameaçou várias vezes encerrar a Lei CHIPS, que injetaria US$ 280 bilhões no desenvolvimento local de semicondutores, mirando especialmente na Intel, que ele considera "um acordo ruim" e custoso; na sua opinião, as tarifas teriam um efeito real e imediato, ou como ele diz, "funcionam e são justas".

Segundo a rede CNBC, as tarifas sobre os semicondutores, cuja alíquota final não foi definida (mas não deve ficar abaixo de 25%), deverá ser anunciada no dia 2 abril de 2025, mas a única coisa certa disso tudo, é que o consumidor vai pagar a conta, como sempre.

Fonte: The Wall Street Journal

TSMC investirá US$ 100 bilhões nos EUA, mas não deve escapar de tarifas