Trump impede Nvidia de exportar chips para a China e dá golpe de 5,5 mil milhões na empresa

A Administração Trump decidiu proibir a Nvidia de vender livremente os seus chips H20 na China, mais uma decisão que escala a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. O H20 é um tipo de processador menos potente do que os mais avançados da empresa, que a Nvidia desenvolveu precisamente para ir ao […]

Abr 16, 2025 - 16:08
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Trump impede Nvidia de exportar chips para a China e dá golpe de 5,5 mil milhões na empresa

Nvidia estima impacto de 5,5 mil milhões no primeiro trimestre com nova decisão da Administração TrumpUnsplash

A Administração Trump decidiu proibir a Nvidia de vender livremente os seus chips H20 na China, mais uma decisão que escala a guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo. O H20 é um tipo de processador menos potente do que os mais avançados da empresa, que a Nvidia desenvolveu precisamente para ir ao encontro das restrições anteriores.

Num comunicado divulgado junto dos investidores, a Nvidia revela ter sido informada pelo Governo dos EUA, a 9 de abril, de que iria passar a ser necessário obter uma licença para poder exportar processadores H20, ou outros que atinjam as mesmas capacidades, para a China, Hong Kong e Macau, entre outras geografias. Segundo a empresa, as autoridades temem que estes produtos “possam ser usados” ou sejam “desviados” para “um supercomputador” na China.

Esta segunda-feira, 14 de abril, a Nvidia foi notificada de que a restrição passou a estar em vigor por “tempo indefinido”, de acordo com a nota da empresa. Com isso, a tecnológica liderada por Jensen Huang estima um impacto de “cerca de 5,5 mil milhões de dólares” só nos resultados financeiros do primeiro trimestre, devido a “produtos para inventário, compromissos de compra e reservas relacionadas”, que ficam agora, automaticamente, severamente condicionadas.

Nos mercados, a reação foi imediata. Ainda antes da abertura das bolsas em Wall Street, as ações da Nvidia já registavam uma forte queda de 6,3%, para 105,8 dólares. Os futuros dos principais índices também apontavam para uma abertura em queda, com os do Nasdaq a derraparem mais de 1,5%, numa altura em que os investidores também estão desapontados com a notícia de que as encomendas à europeia ASML, líder do mercado de máquinas de produção de chips, ficaram abaixo do esperado no arranque deste ano.

A decisão do Presidente dos EUA de impedir a Nvidia de vender processadores H20 na China — cada unidade custa cerca de 12 mil dólares, segundo a Bloomberg — mostra que Donald Trump deverá continuar na mesma senda do seu antecessor, apertando os controlos a uma indústria considerada estratégica e sensível. Esta semana, os EUA abriram também uma investigação que deverá conduzir à aplicação, em breve, de novas tarifas aduaneiras sobre as importações de semicondutores, evocando “segurança nacional”, conforme noticiou o ECO.

O USG [Governo dos EUA] indicou que a exigência de licença visa mitigar o risco de que os produtos abrangidos possam ser utilizados, ou desviados para utilização, num supercomputador na China. A 14 de abril de 2025, o USG informou a empresa de que esta exigência […] se manterá em vigor por tempo indefinido.

Nvidia

Comunicado à Securities and Exchange Commission (SEC)

Os processadores H20, especificamente, são menos potentes do que os H100 e H200, estes últimos os topo de gama da marca, que alimentam os mais avançados data centers focados no desenvolvimento de modelos de IA. Ainda assim, os H20 também são capazes de dar resposta, inclusivamente na inferência da IA, a parte do processamento em que os modelos são efetivamente usados para produzir resultados, depois de terem sido treinados e ajustados.

Um dos casos mais emblemáticos é o da DeepSeek, a startup chinesa que no final de janeiro desencadeou um crash nas bolsas no ocidente por, alegadamente, ter sido capaz de produzir dois modelos de IA a baixos custos — incluindo o R1, capaz de raciocinar ao nível dos modelos mais avançados da norte-americana OpenAI. Até esse momento, acreditava-se que desenvolver estes algoritmos exigia investimentos muito elevados, e apenas ao alcance das grandes tecnológicas dos EUA. Só que a criação dos modelos da DeepSeek assentou no uso de processadores da Nvidia, como o H800. Em fevereiro, a Reuters noticiou que, depois de a DeepSeek ter alcançado fama mundial, disparou a procura por placas H20 da Nvidia por parte de empresas chinesas.

Apesar de a restrição dos EUA à Nvidia ter surpreendido os investidores esta terça-feira, já se especulava há alguns meses que tal poderia ser o caminho a seguir pela Administração Trump. Só que uma notícia da NPR no dia 9 de abril fez crer que o CEO da Nvidia teria conseguido demover Donald Trump durante um jantar em Mar-A-Lago com a promessa de investir na construção de novos data centers em solo americano. O jantar de angariação de fundos terá tido um custo de um milhão de dólares por cabeça, de acordo com a rádio norte-americana.

A medida também está longe de ser inédita. Importa recordar que o anterior presidente, Joe Biden, publicou na sua última semana de mandato uma medida para limitar as vendas de chips para IA, bem como o acesso aos parâmetros de alguns modelos, para praticamente todos os países do mundo, à exceção de 18 nações consideradas “aliados e parceiros-chave” dos EUA. Entre os países isentos de restrições estão praticamente todos os vizinhos de Portugal na União Europeia, como Espanha, França e Itália.

Portugal, no entanto, não foi contemplado com uma isenção, estando integrado numa segunda lista de países. Quando esta medida, apelidada de “regra da difusão da IA”, entrar em vigor dentro de aproximadamente um mês, as entidades portuguesas ficarão limitadas a comprar até 50 mil destes processadores (como os H100 da Nvidia) pelo prazo de dois anos, com algumas exceções. Especialistas disseram ao ECO que a medida não terá impacto material no país, uma vez que não existem encomendas dessa dimensão, mas alertaram para um dano reputacional.

Esse impacto na imagem pode materializar-se de várias formas. Por exemplo, esta semana, o ECO noticiou que a associação setorial dos data centers, a PortugalDC, admite que a restrição poderá deixar Portugal em desvantagem nos esforços de atrair para o país uma das cinco Gigafábricas de IA cuja construção a Comissão Europeia pretende financiar nos próximos anos e que poderão estar equipadas com mais de 100 mil processadores avançados. Esse trabalho está numa fase “muito embrionária”.

A medida de Biden contempla ainda uma terceira lista de países, onde se inclui a China, para os quais já estava prevista a proibição da venda de certos chips para IA.

(Notícia atualizada às 13h54 com parágrafo sobre a China estar incluída numa terceira lista de países sujeitos a proibições nas exportações)