Títulos da dívida dos EUA estão virando pó com o tarifaço de Trump

Os mercados financeiros globais registraram uma das maiores liquidações de títulos de longo prazo do Tesouro dos Estados Unidos desde 2020, quando a pandemia de Covid-19 gerou forte instabilidade. O movimento ocorre após a entrada em vigor da nova tarifa global imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reacendendo preocupações sobre uma possível recessão […] O post Títulos da dívida dos EUA estão virando pó com o tarifaço de Trump apareceu primeiro em O Cafezinho.

Abr 9, 2025 - 13:34
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Títulos da dívida dos EUA estão virando pó com o tarifaço de Trump

Os mercados financeiros globais registraram uma das maiores liquidações de títulos de longo prazo do Tesouro dos Estados Unidos desde 2020, quando a pandemia de Covid-19 gerou forte instabilidade.

O movimento ocorre após a entrada em vigor da nova tarifa global imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reacendendo preocupações sobre uma possível recessão internacional e ampliando incertezas sobre a dívida pública norte-americana.

Os títulos do Tesouro dos EUA, considerados por décadas como ativos de segurança em momentos de crise, apresentaram uma elevação significativa em seus rendimentos.

Nesta quarta-feira, 9, os juros dos papéis de 30 anos ultrapassaram a marca de 5% ao ano. Segundo dados da Bloomberg, citados pelo jornal O Globo, esse patamar não era observado desde os períodos mais tensos da crise sanitária global.

A elevação dos rendimentos é interpretada por agentes financeiros como uma tentativa do governo dos Estados Unidos de atrair compradores para sua dívida diante de um ambiente de risco crescente.

Nas últimas três sessões, a taxa dos títulos de 30 anos subiu cerca de 0,4 ponto percentual, o maior avanço desde novembro de 2020. Apenas nesta quarta-feira, o aumento foi de 0,2 ponto percentual, alcançando 4,79% e, em determinados momentos, superando os 5%.

“O movimento atual não era visto desde o caos da pandemia. Trata-se de uma venda generalizada de Treasuries”, afirmou Calvin Yeoh, gestor da Blue Edge Advisors.

Analistas atribuem parte da reação ao impacto direto do pacote tarifário lançado pelo governo norte-americano, o qual, segundo especialistas, limita a capacidade de resposta do Federal Reserve a uma eventual desaceleração econômica. O aumento nas tarifas pode ainda exercer pressão sobre os índices de preços ao consumidor globalmente.

Há também indicações de que bancos centrais de grandes economias estejam reavaliando sua exposição à dívida dos Estados Unidos. Apesar da falta de confirmação oficial, registros públicos mostram que China e Japão já vinham reduzindo gradualmente suas participações nos Treasuries nos meses anteriores.

“A China pode estar vendendo como retaliação às tarifas”, avaliou Kenichiro Kitamura, do Meiji Yasuda, em Tóquio. “Os Treasuries estão sendo impactados por fatores políticos, não apenas por questões de oferta e demanda.”

Com mais de US$ 3,2 trilhões em reservas internacionais, a China detém uma parcela relevante da dívida americana. Mudanças na política de alocação de ativos do país asiático têm potencial de gerar efeitos diretos sobre a estabilidade dos mercados financeiros.

O aumento nos juros dos títulos norte-americanos repercute também entre os consumidores e empresas dos Estados Unidos.

As taxas de hipotecas, empréstimos estudantis, financiamentos de veículos e o custo do endividamento público sofrem pressão, o que compromete estratégias econômicas, como a promessa do secretário do Tesouro, Scott Bessent, de reduzir os custos de crédito no país.

A volatilidade observada nos Treasuries também teve reflexos nos mercados de dívida soberana de outros países. Títulos do Reino Unido, Austrália e Japão apresentaram elevação nas taxas de rendimento.

No entanto, o foco de atenção permanece sobre os papéis norte-americanos, cuja resposta foi considerada incomum por especialistas. Em situações de incerteza, esses ativos tradicionalmente ganham valor. Desta vez, o movimento foi o oposto.

Na véspera, o leilão de títulos de três anos realizado pelo Tesouro dos EUA obteve uma demanda inferior ao esperado. O mercado agora acompanha as próximas emissões, com destaque para a oferta de US$ 39 bilhões em títulos de 10 anos marcada para esta quarta-feira e o leilão de papéis de 30 anos agendado para quinta-feira.

Segundo operadores de mercado, há receios de que grandes instituições financeiras estejam acelerando a venda de ativos para gerar liquidez.

A movimentação de fundos de hedge, que podem estar encerrando posições com prejuízo, também tem sido observada. O acionamento automático de ordens de venda, conhecidas como stop loss, agrava a instabilidade.

“Estamos entrando em uma espiral negativa. A excepcionalidade dos EUA está sendo colocada em dúvida”, disse Sophie Huynh, estrategista do BNP Paribas Asset Management.

O conceito de “excepcionalidade americana” tem sido central na confiança dos investidores globais nos mercados dos Estados Unidos, especialmente nos Treasuries e em ativos de renda variável. Essa percepção sustenta a atratividade dos papéis norte-americanos mesmo em períodos de tensão. A recente instabilidade, no entanto, levanta questionamentos sobre a continuidade desse padrão.

“Estamos entrando em território desconhecido no sistema financeiro global”, alertou George Saravelos, chefe de estratégia do Deutsche Bank. “Se a turbulência no mercado de Treasuries persistir, o Federal Reserve poderá ser obrigado a intervir com compras emergenciais para estabilizar o mercado.”

Apesar do cenário, alguns gestores mantêm projeções favoráveis sobre os títulos norte-americanos. Leah Traub, da gestora Lord Abbett, que administra cerca de US$ 217 bilhões, avalia que os Treasuries ainda podem atuar como instrumentos de proteção em cenários de desaceleração econômica.

“No caso de uma recessão nos EUA ou global, ainda acreditamos que os investidores voltarão aos Treasuries”, afirmou Traub.

Com informações da Reuters

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