Tilda Swinton critica extremismo político em discurso no Festival de Berlim
Atriz recebeu o Urso de Ouro honorário e defendeu o cinema como espaço independente e de resistência


Discurso contundente
Tilda Swinton usou sua premiação no Festival de Berlim para criticar o extremismo político, a degradação ambiental e o crescimento do autoritarismo no mundo. Ao agradecer o Leão de Ouro pelas realizações da carreira, a atriz escocesa destacou a importância do cinema como um espaço de liberdade e resistência.
“Um reino ilimitado, inerentemente inclusivo, imune a tentativas de ocupação, colonização, tomada, propriedade ou desenvolvimento imobiliário na Riviera”, afirmou Swinton, fazendo uma referência indireta aos planos do presidente dos EUA, Donald Trump, para Gaza.
Críticas ao cenário global
Sem mencionar explicitamente a situação em Gaza ou a Palestina, a vencedora do Oscar condenou a violência estatal e a conivência internacional. “A dominação arrogante e a assombrosa selvageria da vingança, perpetrada pelo Estado e facilitada internacionalmente… isso é inaceitável para a sociedade humana”, declarou.
Apontando governos autoritários, ela continuou: “Eles precisam ser enfrentados. Então, para fins de clareza, vamos nomeá-los. O desumano está sendo perpetrado sob nossa vigilância. Estou aqui para nomeá-lo sem hesitação ou dúvida em minha mente, e para emprestar minha solidariedade inabalável a todos aqueles que reconhecem a complacência inaceitável de nossos governos viciados em ganância, que são gentis com destruidores de planetas e criminosos de guerra, não importa de onde venham.”
Conexão com a Berlinale
A atriz ressaltou sua longa relação com o festival, onde esteve pela primeira vez em 1986 com “Caravaggio”, de Derek Jarman. Ao longo de quase quatro décadas, participou de mais de 26 filmes exibidos na Berlinale, incluindo “O Grande Hotel Budapeste” (2014), de Wes Anderson, e “Ave, César!” (2016), dos irmãos Coen.
“Quando cheguei aqui pela primeira vez, tinha 25 anos e estava procurando meu lugar no mundo. Buscava solidariedade e conexão, e posso dizer que encontrei tudo isso aqui”, disse Swinton.
Trajetória no cinema
Vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Conduta de Risco” (2007), Swinton ganhou reconhecimento tanto no cinema autoral quanto em grandes produções de Hollywood, como “Doutor Estranho” e “Vingadores: Ultimato”.
Seus trabalhos incluem colaborações com cineastas como Joanna Hogg (“The Souvenir”), Bong Joon-ho (“Expresso do Amanhã”, “Okja”), Luca Guadagnino (“Suspiria”, “Um Sonho de Amor”) e Pedro Almodóvar (“A Sala ao Lado”).
Homenagem e agradecimento
O diretor alemão Edward Berger (“Conclave”) entregou o prêmio e destacou a admiração dos cineastas pela atriz. “Tilda Swinton é tão boa que muitos diretores a escalam duas vezes”, brincou Berger, que a dirigiu no vindouro filme da Netflix, “The Ballad of a Small Player”.
Swinton encerrou seu discurso agradecendo ao festival: “Por me proporcionar 40 anos de festas e revelações, por meu belo e brilhante urso. Vida longa ao cinema e sua promessa infinita, uma luz na escuridão que nunca se apaga”.