Tarifas de Trump abalam cadeia de abastecimento da indústria da moda e afetam marcas americanas

Donald Trump anunciou esta quarta-feira novas tarifas sobre todas as importações, impactando diretamente alguns dos principais centros de produção de vestuário do mundo e, em particular, a indústria da moda.

Num discurso feito no jardim da Casa Branca, o presidente dos EUA detalhou a implementação de uma tarifa básica de 10% sobre todos os bens importados, sendo que, nos países com os quais os EUA possuem um déficit comercial as tarifas são ainda mais elevadas. O Vietname, segundo maior exportador de vestuário para os EUA depois da China, foi alvo de uma tarifa de 46%, enquanto ao Camboja será aplicada uma tarifa de 49% e Bangladesh 37%. A China, que já estava a ser impactada por tarifas anteriores, verá a sua tarifa subir para 54%, enquanto a União Europeia terá um imposto de 20%.

A decisão gerou forte reação do setor. “Essa ação afetará particularmente as marcas e retalhistas de moda americanas”, declarou a United States Fashion Industry Association.

As novas tarifas, que se somam às já aplicadas sobre produtos vindos da China, México e Canadá, ameaçam elevar custos para empresas de moda e aprofundar ainda mais as dificuldades do setor. Com os EUA a importgar mais de 98% da roupa e 99% do calçado vendido no país, ou seja, praticamente todos os produtos do segmento da moda e retalho serão impactados.

O impacto na cadeia de abastecimento da moda deverá ser significativo. Com a pressão por redução de custos a aumentar, empresas como Walmart já indicaram que renegociarão com fornecedores para mitigar os aumentos. No entanto, as fábricas operam com margens estreitas, tornando difícil absorver os cortes. O efeito cascata pode atingir desde fabricantes têxteis até aos que fornecem a matéria-prima.

Outro problema com que terão de lidar as marcas é se irão absorver os custos extra ou vão passá-los para o bolso dos consumidores, aumentando os preços.

O setor de luxo também será impactado. Com os EUA a ser um dos mercados mais resilientes para este segmento, as tarifas representam um novo obstáculo numa altura em que se nota uma desaceleração global.

Poucas empresas produzem dentro do território americano, o que significa que quase todas verão os custos aumentar. A LVMH, uma das exceções, já havia investido no fabrico local ao abrir a sua terceira fábrica nos EUA em 2019. Segundo o analista da RBC Capital Markets, Piral Dadhania, essas instalações representam cerca de 50% do volume de produtos da empresa no país.