Blue Prince – Review
Na tranquila cidade de Reddington, uma mansão enigmática repousa no alto do Monte Holly. A propriedade, adquirida há décadas pelo excêntrico Herbert S. Sinclair, esconde segredos que jamais foram desvendados por aqueles que cruzaram seus portões. O mais intrigante deles: a localização da sala 46. Após a morte do Sr. Sinclair, a leitura de …

Na tranquila cidade de Reddington, uma mansão enigmática repousa no alto do Monte Holly. A propriedade, adquirida há décadas pelo excêntrico Herbert S. Sinclair, esconde segredos que jamais foram desvendados por aqueles que cruzaram seus portões. O mais intrigante deles: a localização da sala 46.
Após a morte do Sr. Sinclair, a leitura de seu testamento revela uma condição inusitada: a mansão foi deixada para seu sobrinho-neto, Simon P. Jones, mas sua posse só será garantida se ele for capaz de encontrar e abrir o quarto secreto. Essa é a premissa de Blue Prince.
No papel do jovem herdeiro, sua missão está longe de ser simples. Sempre que adentra o salão principal, três portas levam a ambientes distintos, repletos de segredos que precisam ser desvendados para permitir o avanço até a câmara que antecede o enigmático quarto 46. Como se não bastasse, um sistema de contagem de passos limita o tempo que pode ser gasto dentro da mansão. Quando a contagem chega a zero, ou quando as salas levam a becos sem saída, o dia é encerrado, forçando o início de uma nova jornada a partir da entrada principal.
O projeto original da mansão contempla quarenta e cinco aposentos, organizados em um sistema de grades com cinco linhas por nove colunas — o que torna ainda mais misteriosa a existência e localização do quarto secreto. Além disso, as áreas externas da propriedade também podem ser exploradas, ativando funções extras que concedem valiosas vantagens, algumas delas de forma permanente.
A jogabilidade com a câmera em primeira pessoa pode até parecer simples, mas o título desenvolvido pela Dogubomb e publicado pela Raw Fury, rapidamente se revela mais complexo conforme a exploração avança. Antes de tudo, trata-se de um roguelite, caracterizado pela disposição aleatória das salas e por mecanismos de progressão permanente. Além disso, Blue Prince se inspira em clássicos dos puzzles point-and-click que marcaram o início dos anos 90, como The 7th Guest e The 11th Hour, sendo uma ótima pedida para quem sente falta de jogos desse estilo.
O design gráfico remete aos antigos desenhos arquitetônicos feitos à mão, uma escolha estética que se encaixa perfeitamente com a temática do jogo. Aliás, quem é adepto da profissão, ou mesmo possui algum conhecimento prévio na área, certamente vai se sentir ainda mais atraído pelas possibilidades oferecidas para traçar o próprio caminho rumo ao objetivo final. Além disso, a decoração dos cenários em estilo vintage resulta em uma bela direção de arte.
A trilha sonora, embora não seja das mais variadas, cumpre bem seu papel ao reforçar a atmosfera de mistério sem se tornar cansativa — algo importante, considerando que a repetição é uma característica central da experiência do game.
Se tivesse que resumir Blue Prince em uma palavra, seria “intrigante”. Embora a aleatoriedade na geração das salas possa gerar frustração em alguns momentos, a busca incessante por pistas e a resolução dos mistérios mantém uma sensação constante de curiosidade. Chegar à sala 46 pode levar desde várias horas até poucos minutos, dependendo da sorte e da percepção do jogador para desvendar os segredos e traçar o melhor caminho pelo labirinto arquitetônico da mansão.
Toda vez que uma porta é aberta, três opções de salas são apresentadas. Elas possuem grupos diferentes e variações das mais criativas. Algumas atuam como corredores com portas que revelam possibilidades para explorar a mansão em outras direções, outras podem fornecer recursos e ferramentas, causar penalidades ou ainda funcionar em conjunto com mais salas para ativar funções que mudam a mansão de forma permanente, durante um período, ou somente por um dia.
Reconhecer as características de cada ambiente leva tempo, mas é essencial para aumentar suas chances de avançar pela mansão. Isso se torna ainda mais crucial à medida que recursos adicionais são necessários para abrir salas em áreas mais avançadas. Nesse sentido, moedas, pedras preciosas e chaves devem ser geridas com cautela, para evitar ficar sem recursos nos momentos mais críticos. Esses itens podem ser adquiridos ao explorar salas específicas, ao abrir baús que surgem aleatoriamente em certas áreas ou ao resolver quebra-cabeças.
Conforme mais salas são descobertas, você começará a identificar certos padrões, tornando cada jornada mais eficiente. Um bom exemplo disso é a garagem, que dá acesso a uma área externa da propriedade, onde pode haver uma sala com funções especiais. No entanto, como em Blue Prince nada vem fácil, para abrir o portão da garagem será necessário encontrar uma sala com o quadro de disjuntores e restaurar sua energia.
Essa sincronia entre ambientes valoriza ainda mais sua exploração e premia aqueles que souberem tirar vantagem das propriedades de cada sala. É exatamente essa possibilidade de continuar encontrando informações que me motivaram para persistir explorando o jogo, mesmo que muitas vezes eu tenha me decepcionado ao encontrar um beco sem saída quando estava tão próximo de alcançar o objetivo, ou quando não possuía uma mísera chave para a abrir a porta que daria acesso à antessala.
Uma das boas características do jogo, por sinal, é que ele oferece várias maneiras para concluir a campanha. Até mesmo planos extras de salas especiais e itens que aprimoram salas básicas podem ser descobertos durante a exploração. Cada dia em Blue Prince traz um novo aprendizado. O jogo até sugere que você anote em um caderno todas as descobertas feitas. E acredite, essa é uma dica valiosa, pois muitas informações podem ser cruciais para resolver um quebra-cabeça no futuro.
Mesmo os quebra-cabeças mais repetidos, e que, por isso, passam a impressão de serem simples, também contam com uma boa curva de evolução. Sempre que você solucionar o enigma matemático da Sala de Bilhar ou conseguir descobrir em que caixa estão as pedras preciosas no Parlor, a próxima vez se deparar com essas salas, encontrará versões aprimoradas de seus quebra-cabeças.
Outros puzzles exigem mais dedicação para encontrar as evidências necessárias ou até mesmo realizar tarefas em diferentes regiões da mansão para ativá-los. Seja resolvendo enigmas com uma tabela periódica de elementos químicos, observando ponteiros dos relógios, controlando o fluxo de água entre ambientes ou ajustando a posição de estátuas em salas distintas, solucionar cada mistério por conta própria proporcionará uma sensação gratificante de vitória, aproximando você cada vez mais do objetivo final.
Para aproveitar ao máximo o tempo na mansão, é essencial ficar atento à quantidade de passos restantes. Cada vez que você entrar em uma sala, seja nova ou já explorada, uma unidade de passo será descontada de sua reserva. Existem formas de recuperar esses passos, como as refeições adquiridas na cozinha ou na sala de jantar, os itens especiais e os quartos disponíveis no projeto da mansão. No entanto, abrir salas vermelhas, como a academia ou o ginásio, acarreta penalidades que podem arruinar sua jornada rapidamente.
Muitas vantagens podem ser obtidas em salas como o laboratório, onde é possível criar experimentos para definir condições específicas para ações durante o dia, ou na lavanderia, que permite converter recursos básicos. As possibilidades de salas são extensas. Para se ter uma ideia, mesmo após mais de 20 horas de jogo, ainda existem ambientes que não visitei e puzzles cujas soluções não consegui desvendar. Ou seja, mesmo concluindo o objetivo pela primeira vez, ainda haverá muito conteúdo para ser explorado.
Ao mesmo tempo, são também essas situações inesperadas que podem gerar momentos de frustração. Muitas vezes, você se verá com somente um caminho a seguir, apenas para encontrar salas que apontam para direções opostas ou que resultem em um beco sem saída. Outras vezes, a única sala disponível exigirá um recurso que você não possui no momento.
No meu caso, houve uma ocasião em que, para prosseguir explorando uma área específica da mansão, era obrigatório encontrar a sala da Piscina, para depois ter a opção de acessar a área de bombeamento de água. Só que foram necessárias várias jornadas para que essa situação se consolidasse. Até há maneiras de re-rolar a geração de salas para tentar minimizar esse efeito, mas para isso é preciso ativar algumas funções ou utilizar um item que não é achado frequentemente.
Além de informações sobre os segredos da mansão, a exploração também revela um pouco mais sobre a história dos funcionários que trabalharam nela e também sobre a cidade de Reddignton. Isso contribui para quebrar um pouco o ritmo de repetição da jogabilidade e para tornar a experiência ainda mais imersiva. O porém é que a falta de legendas em português brasileiro cria uma barreira não apenas para a compreensão desta história, mas também para a obtenção de algumas dicas importantes para ajudar na conclusão da campanha.
No fim, o grande mérito de Blue Prince está em desafiar a persistência e a criatividade dos jogadores, incentivando-os a encontrar soluções por meio de informações frequentemente escondidas em pequenos detalhes. Aqueles que conseguirem superar a frustração de encontrar portas sem saída e continuarem em busca de pistas para desvendar os enigmas da mansão provavelmente se verão imersos em um looping de gameplay viciante, característico de um dos jogos mais brilhantes lançados nos últimos anos.
Blue Prince está disponível para PS5, Xbox Series e PC. Esta análise é da versão de PS5 e foi realizada com um código fornecido pela Raw Fury.