Suspeitos de fraude no INSS gastaram R$ 35 mi em imóveis

Segundo a PF, de 2018 a 2025, os investigados compraram apartamentos e 16 salas comerciais

Mai 6, 2025 - 01:24
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Suspeitos de fraude no INSS gastaram R$ 35 mi em imóveis

Os investigados por fraude no INSS compraram, ao todo, 47 imóveis entre 2018 e 2025. Segundo a PF (Polícia Federal), os suspeitos gastaram R$ 35 milhões.

A Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) repassou R$ 5 milhões para a empresa Orleans Viagens e Turismo, segundo a PF. A corporação identificou a compra de 16 salas comerciais em São Bernardo do Campo (SP) entre março de 2020 e novembro de 2024.

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Cada espaço custou entre R$ 171 mil e R$ 320 mil, com um total de R$3 milhões. A mesma empresa teria comprado 1 apartamento em Diadema (SP) em outubro de 2020, e 11 carros desde 2021.

A PF também investiga os sócios da empresa, Silas Bezerra de Alencar e Wagner Ferreira Moita. Desde 2019, Alencar gastou R$ 5,4 milhões em 6 imóveis no Estado de São Paulo. Já Moita adquiriu apartamentos em Santos e Praia Grande por R$ 1,8 milhão.

DENTRO DA CONTAG

A Contag arrecadou mais de R$ 2 bilhões com o esquema, de acordo com a PF. O dinheiro teria vindo de descontos de mais de 1,3 milhão de aposentados e pensionistas.

O diretor da confederação, Alberto Ercilio Broch, comprou 1 apartamento em setembro de 2023. Segundo a PF, o valor do imóvel em Brasília (DF) foi de R$ 1,6 milhão.

Já Thaisa Daiane Silva, secretária-geral da confederação, adquiriu uma casa em Campo Grande e uma gleba em Bandeirantes (MS) entre 2022 e 2025. O total foi de R$ 600 mil. A secretária de políticas sociais Edjane Rodrigues gastou R$ 330 mil em 1 apartamento no Núcleo Bandeirante (DF), em 2021.

“CARECA DO INSS”

Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, é acusado de desviar R$ 53 milhões. Em 2024, adquiriu uma casa de R$ 3 milhões à vista. O imóvel fica no Lago Sul, região nobre de Brasília que tem renda domiciliar per capita superior à da Coreia do Sul.

Quatro anos antes, em 2020, havia feito outra compra à vista: pagou R$ 216 mil em um terreno e na aquisição de uma casa em Vicente Pires (DF).

Antunes também fez movimentações por meio de suas empresas. A Camilo & Antunes Limited, sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, comprou apartamentos em Brasília e São Paulo. Ao todo, depositou R$ 11 milhões em 4 imóveis em 2024.

Outra empresa da qual é sócio, chamada Brasília Consultoria Empresarial S/A, comprou uma sala comercial em São Paulo em 2023 por R$ 233 mil. No mesmo ano, sua empresa Prospect comprou uma sala comercial em Brasília por R$ 165 mil.

A mesma Prospect já havia enviado R$ 153 mil para a Jacksonville Enterprise LLC, registrada nos Estados Unidos. O dinheiro foi utilizado na compra de um imóvel no exterior.

OUTROS SUSPEITOS

O ex-procurador-geral do INSS e sua mulher também compraram propriedades. Antes da sua exoneração em 23 de abril, Virgílio Ribeiro de Oliveira Filho comprou 4 imóveis. São avaliados em R$ 4,6 milhões.

No caso de Thaisa Hoffmann Jonasson, as propriedades estão no nome da sua empresa, THJ consultoria. Entre 2022 e 2023, comprou 3 imóveis por cerca de R$ 2 milhões, localizados em Campo Largo e Curitiba (PR). Já a empresa da qual é sócia comprou 1 imóvel por R$ 230 mil em 2024.

OPERAÇÃO “SEM DESCONTO”

A PF deflagrou em 23 de abril de 2025 a operação Sem Desconto para investigar um esquema de descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS. A operação cumpriu 211 mandados judiciais de busca e apreensão e 6 mandados de prisão temporária no Distrito Federal e em 13 Estados.

De acordo com a PF, a investigação identificou a existência de irregularidades relacionadas aos descontos de mensalidades associativas aplicados sobre os benefícios previdenciários, principalmente aposentadorias e pensões, concedidos pelo INSS.

O governo informou que em 2023 a CGU (Controladoria Geral da União) deu início a uma série de apurações sobre o aumento do número de entidades e dos valores descontados dos aposentados. A partir desse processo, foram feitas auditorias em 29 entidades que tinham ACTs (Acordos de Cooperação Técnica) com o INSS. Também foram realizadas entrevistas com 1.300 aposentados que tinham descontos em folha de pagamento.

Segundo o governo, a CGU identificou que as entidades não tinham estrutura operacional para prestar os serviços que ofereciam aos beneficiários e que, dos entrevistados, a maioria não havia autorizado os descontos. A Controladoria também identificou que 70% das 29 entidades analisadas não tinham entregue a documentação completa ao INSS.

Na operação, 6 pessoas foram afastadas de suas funções. Entre elas, o presidente do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), Alessandro Stefanutto.

Eis a lista das pessoas que foram afastadas de seus cargos no INSS:

  • Alessandro Stefanutto – presidente;
  • Virgílio Ribeiro de Oliveira Filho – procurador-geral do INSS;
  • Vanderlei Barbosa dos Santos – diretor de Benefício junto ao Cidadão;
  • Giovani Batista Fassarella Spiecker – coordenador-geral de Suporte ao Atendimento ao Cliente;
  • Jucimar Fonseca da Silva – coordenador-geral de Pagamentos e Benefícios;
  • policial federal – identidade não foi divulgada.

Os crimes em investigação são:

  • corrupção ativa e passiva;
  • violação de sigilo funcional;
  • falsificação de documento;
  • organização criminosa;
  • lavagem de capitais.

A PF informou que apreendeu carros de luxo, dinheiro em espécie, joias e quadros. Os valores totais e a quantidade exata ainda estão em levantamento.

Mais cedo, às 6h30, o diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, e o ministro da CGU, Vinícius de Carvalho, se reuniram com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio da Alvorada para explicar a operação e as medidas adotadas.

Eis algumas informações esclarecidas pelo governo:

  1. como funciona o desconto de mensalidades?
    As entidades de classe, como associações e sindicatos, formalizam Acordos de Cooperação Técnica com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Esses acordos permitem que as entidades realizem descontos de mensalidades associativas diretamente na folha de pagamento dos beneficiários do INSS, desde que autorizados pelos aposentados e pensionistas.
  2. autorização do beneficiário
    Para que o desconto seja realizado, a entidade precisa da autorização expressa e individual de cada beneficiário para realizar o desconto de sua mensalidade associativa. Na investigação, foram identificadas, porém, a ausência de verificação rigorosa dessa autorização e a possibilidade de falsificação de documentos de filiação e autorização.

Medidas adotadas

O governo determinou a suspensão dos Acordos de Cooperação Técnica das entidades associadas ao INSS e, consequentemente, dos descontos feitos nas folhas de pagamentos de aposentados e pensionistas.

De acordo com o governo, 11 entidades associadas foram alvo de medidas judiciais. Leia abaixo quais são e o ano em que o acordo com o INSS foi firmado: 

  • Ambex (2017);
  • Sindinap/FS (2014);
  • AAPB (2021);
  • Aapen (anteriormente denominada ABSP) (2023);
  • Contag (1994);
  • AAPPS Universo (2022);
  • Unaspub (2022);
  • Conafer (2017);
  • APDAP Prev (anteriormente denominada Acolher) (2022);
  • ABCB/Amar Brasil (2022);
  • Caap (2022).

Segundo o governo, os aposentados e pensionistas do INSS que identificarem desconto indevido de mensalidade associativa no extrato de pagamentos (contracheque) podem pedir a exclusão do débito de forma automática pelo aplicativo ou site “Meu INSS”.


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