Singapura reage com indignação: primeiro-ministro critica tarifa de Trump como “ação que não se faz a um amigo”

A relação comercial entre Singapura e os Estados Unidos sofreu um abalo diplomático nesta terça-feira, quando o primeiro-ministro singapurense, Lawrence Wong, criticou duramente a nova tarifa de 10% imposta por Donald Trump ao país. Em discurso firme no Parlamento, Wong afirmou que essa decisão “não é algo que se faz a um amigo”, e representa […] O post Singapura reage com indignação: primeiro-ministro critica tarifa de Trump como “ação que não se faz a um amigo” apareceu primeiro em O Cafezinho.

Abr 8, 2025 - 17:42
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Singapura reage com indignação: primeiro-ministro critica tarifa de Trump como “ação que não se faz a um amigo”

A relação comercial entre Singapura e os Estados Unidos sofreu um abalo diplomático nesta terça-feira, quando o primeiro-ministro singapurense, Lawrence Wong, criticou duramente a nova tarifa de 10% imposta por Donald Trump ao país. Em discurso firme no Parlamento, Wong afirmou que essa decisão “não é algo que se faz a um amigo”, e representa uma rejeição ao sistema de comércio global que os próprios EUA ajudaram a construir.

Segundo Wong, a tarifa aplicada ignora os laços comerciais históricos entre os dois países e desconsidera o fato de que, em 2024, os EUA tiveram superávit de US$ 2,8 bilhões no comércio de bens com Singapura. “Se as tarifas fossem de fato recíprocas e voltadas a países com superávit comercial, a alíquota para Singapura deveria ser zero”, afirmou.

A tarifa universal de 10% anunciada por Washington no sábado gerou alarme internacional e levou Singapura a reavaliar suas previsões econômicas para 2025. De acordo com o primeiro-ministro, os efeitos da medida serão sentidos diretamente na economia do país, com menor geração de empregos, aumento da pressão inflacionária e possível realocação de investimentos para os EUA.

Wong destacou que os EUA não estão promovendo uma reforma do comércio global, mas sim rejeitando o sistema que outrora defenderam. “O que os Estados Unidos estão fazendo agora não é reforma. É a rejeição do próprio sistema que criaram”, disse. Ele defendeu que disputas comerciais, como a que envolve a China, devem ser resolvidas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), cuja capacidade de arbitragem está paralisada e necessita de reformas urgentes.

Durante seu discurso de 22 minutos, Wong reafirmou a posição de Singapura de não retaliar com tarifas equivalentes, destacando que isso apenas aumentaria os custos para os cidadãos. Ainda assim, alertou: “Uma vez que as barreiras comerciais sobem, elas tendem a permanecer. Reduzi-las depois é muito mais difícil.”

Além dos impactos imediatos, Wong ressaltou os riscos estruturais à arquitetura do comércio global, como o enfraquecimento do princípio de nação mais favorecida da OMC, que garante tratamento igualitário entre os países. “Se mais nações seguirem o exemplo dos EUA, o sistema comercial baseado em regras será desmantelado”, alertou.

O primeiro-ministro também disse que Singapura pretende manter sua relação de décadas com os EUA em outras frentes, como segurança e tecnologia, mas afirmou que buscará ampliar parcerias comerciais com países do Oriente Médio, América Latina e outros mercados promissores.

Diante das novas tarifas, algumas empresas locais e multinacionais já começaram a adiar projetos e revisar planos de expansão, temendo queda na demanda global. Wong reconheceu que Singapura está entrando em um período de crescimento mais lento, com menos demanda por bens e serviços — e que a eficiência econômica passará a ser secundária diante de interesses políticos e de segurança.

Ele anunciou a criação de uma força-tarefa liderada pelo vice-primeiro-ministro Gan Kim Yong, que contará com representantes do setor empresarial e sindical, para ajudar empresas e trabalhadores a se adaptarem ao novo cenário.

Ao responder se a tarifa de 10% colocaria Singapura em vantagem sobre seus vizinhos da Ásia, Wong foi enfático: “Não encontro nenhum consolo em estarmos no nível mais baixo. Precisamos nos preparar para tempos muito mais turbulentos.”

Wong encerrou seu discurso afirmando que Singapura buscará se unir a países com visão semelhante, comprometidos com o livre comércio, para preservar partes essenciais do sistema multilateral. “Os EUA podem ter optado pelo protecionismo. Mas o resto do mundo não precisa seguir esse caminho.”

Na semana passada, Wong conversou com o primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, e ambos concordaram em acelerar os esforços de integração econômica da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). Ministros da Economia da Asean se reunirão na quinta-feira para discutir o impacto das tarifas e formular uma resposta regional conjunta.

Por Kimberly Lim
Kimberly Lim é repórter da editoria Ásia no South China Morning Post, cobrindo temas sociais, política e economia em Singapura e região. Formada pela Universidade Tecnológica de Nanyang, com dupla especialização em Políticas Públicas e Literatura Inglesa, trabalhou anteriormente nos jornais TODAY e The New Paper.
Publicado em 08/04/2025
Fonte: South China Morning Post (scmp.com)

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