Quando uma startup deixa de ser uma startup

Startupi Quando uma startup deixa de ser uma startup Recentemente realizei uma pesquisa prática para compreender melhor a percepção do mercado sobre o momento em que uma startup deixa de ser considerada startup. Teve um total de 355 participantes e quatro opções foram colocadas para votação, refletindo diferentes perspectivas de profissionais, investidores e empreendedores sobre o amadurecimento dessas empresas. A opção mais escolhida pelos [...] O post Quando uma startup deixa de ser uma startup aparece primeiro em Startupi e foi escrito por João Kepler

Abr 29, 2025 - 15:01
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Quando uma startup deixa de ser uma startup

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Quando uma startup deixa de ser uma startup

Recentemente realizei uma pesquisa prática para compreender melhor a percepção do mercado sobre o momento em que uma startup deixa de ser considerada startup. Teve um total de 355 participantes e quatro opções foram colocadas para votação, refletindo diferentes perspectivas de profissionais, investidores e empreendedores sobre o amadurecimento dessas empresas.

A opção mais escolhida pelos respondentes, com 32% dos votos, foi quando uma startup realiza uma operação de fusão e aquisição ou uma oferta pública inicial. Isso demonstra, na prática, que a mudança para um status mais robusto está diretamente ligada à entrada em mercados maiores e à captação expressiva de capital através desses eventos. E sim, faz sentido, porque nesse momento pode existir um evento de liquidez para os fundadores e também para quem investiu nas rodadas anteriores.

A segunda alternativa mais votada, com 29%, foi quando a empresa passa a pagar dividendos aos seus sócios. Essa visão reflete uma percepção relevante no mercado, pois uma startup deve reinvestir todos os recursos para estruturar e acelerar seu crescimento. Ao começar a distribuir dividendos, sinaliza uma transição para uma fase mais madura, focada também em resultados financeiros estáveis e sustentáveis. Em tese, se isso acontece, poderia começar a retornar o capital do investidor ou deixar de fazer novas rodadas de captação.

A opção que destaca a receita acima de R$ 16 milhões por ano ficou muito próxima da segunda colocação, com 28% dos votos. Esse valor não é arbitrário, já que é o limite estabelecido pelo Marco Legal das Startups no Brasil para classificar empresas nessa categoria. Esse dado reforça a compreensão do mercado sobre critérios objetivos e legais para determinar o momento de transição. Mas, na minha opinião, esse critério sozinho não é suficiente para determinar que uma companhia deixou de ser uma startup.

Por outro lado, apenas 11% dos participantes acreditam que completar 10 anos de existência é um fator determinante. Isso sugere que, na prática, o mercado vê o fator tempo como menos relevante do que o desempenho financeiro, o crescimento e os eventos estratégicos relevantes. Mesmo assim, é interessante observar que a mediana dos exits no mercado mundial geralmente acontece dentro desse período.

Mesmo que se utilize como critério um prazo de 10 anos de operação ou uma receita superior a R$ 16 milhões, esses marcos não representam, por si só, gatilhos de saída ou retorno para o investidor. Até porque, na prática, esses eventos não estão descritos nos contratos de investimentos como pontos de liquidez. O investidor investe na multiplicação de valor futuro, e não em critérios com juros fixos baseados em tempo ou de gatilhos de faturamento.

Na pesquisa, deixei livre nos comentários para que as pessoas pudessem escrever “nunca” ou expressar outras opiniões além das opções mencionadas. Essa abertura trouxe contribuições ricas e visões complementares, reforçando a diversidade de interpretações que esse tema provoca.

Agora, deixando clara a minha opinião sobre quando uma startup deixa de ser uma startup:

Para mim, esse momento acontece quando a startup começa a pagar dividendos aos sócios, se transforma em um lifestyle business ou deixa de realizar novas rodadas de captação.

Um Lifestyle business acontece quando a startup passa a sustentar o estilo de vida dos fundadores, em vez de buscar crescimento. O empreendedor foca em gerar lucro suficiente para garantir liberdade financeira e equilíbrio pessoal ou de conquistar grandes fatias de mercado. O negócio se torna mais enxuto, sustentável e previsível. Não há problema em ser um lifestyle business, mas SE a empresa captou investimento anteriormente com a promessa aos investidores de crescimento e depois mudou de postura, estamos diante de uma empresa tradicional de tecnologia, e não mais de uma startup.

O Fundraising, no universo das startups, é a prática de buscar investimentos para financiar fases específicas do crescimento, desde a validação de produto até a expansão internacional. Não há problema em ser Bootsrapping, mas SE já captou em algum momento e a empresa parar de buscar novas rodadas, o investidor perde a oportunidade de acompanhar a valorização progressiva da empresa através dessas rodadas. Sem fundraising, a lógica de retorno via valorização de equity fica comprometida.

Quanto aos Dividendos, se a startup passa a gerar caixa e opta por não reinvestir todo o resultado no crescimento, deixando de captar e focando em distribuir lucro, o cenário muda completamente. Ela deve remunerar proporcionalmente os investidores (na conversão) ou oferecer a recompra das participações. Sem isso, o investimento perde sentido. Afinal, investir não é apenas fazer parte da história, mas buscar retorno financeiro proporcional ao risco assumido. Caso contrário, a alternativa poderia até ser o write-off daquele ativo.

Apesar de saber que nem tudo é “one size fits all”, se estiver enquadrado no que eu entendo como deixar de ser uma startup, eu deixo aqui uma recomendação para fundadores e investidores:

Para os fundadores, o caminho ideal é abrir diálogo direto com os investidores para realinhar expectativas, propondo se for o seu caso, alternativas como a recompra das participações, a criação de uma política clara de conversão e dividendos ou a organização de uma liquidez secundária. Para os investidores, o melhor é reavaliar o potencial de retorno no novo contexto e buscar acordos que permitam a saída parcial ou total, ou então, se fizer sentido, adaptar a estratégia para ser remunerado via distribuição de lucros.

O pior movimento, para ambos os lados, seria ignorar a mudança de perfil e manter uma relação travada, gerando frustração e conflitos no futuro. Agir cedo e com maturidade é o que preserva o relacionamento e o valor construído até ali. Mas para ambos os lados, o prazo de vencimento do contrato de investimento (mútuo, partipação e etc) e sua respectiva renovação, é fundamental.

Então, cidadão, os resultados da pesquisa evidenciam que, na prática, a percepção sobre o fim do ciclo de uma startup varia bastante. Mas, para mim, pela experiência como investidor, fundraising interrompido, transformação em lifestyle business e distribuição de dividendos são os sinais mais claros de que uma startup deixou de ser uma startup.

O mercado está amadurecendo e o conhecimento sobre essas fases está sendo ampliado. Por isso, é fundamental ouvir quem vive essa realidade para entender as melhores práticas.


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