Projeto “Marginália Metropolitana” lança luz sobre a cena eletrônica de Porto Alegre e região
“Marginália Metropolitana” contempla uma coletânea de músicas, um livro e uma festa de rua – tudo com foco geográfico na produção de Porto Alegre e região metropolitana.

texto de Homero Pivotto Jr.
Muito se fala sobre o rock gaúcho, rótulo que, ao mesmo tempo, serve como selo de qualidade pra uns e como designação genérica sem muito apelo para outros. Mas o estado mais ao sul do Brasil também tem outras cenas musicais correndo à margem. E não é de hoje. Uma delas é a eletrônica, mote do projeto “Marginália Metropolitana”, que tem financiamento da Lei Paulo Gustavo e contempla uma coletânea de músicas, um livro e uma festa de rua – tudo com foco geográfico na produção de Porto Alegre e região metropolitana. A organização da iniciativa é do produtor cultural Wender Zanon, de Canoas, que tem um trabalho voltado a colocar a própria aldeia em evidência fora das fronteiras da capital gaúcha e seus municípios satélites. Com ele na batida deste corre estão o produtor cultural Vitor Cunha (produção), o produtor musical Marcelulose (curador e produtor musical responsável pela mix e master da compilação sonora) e o psicólogo/DJ Gabriel Bernardo (vulgo GB, organizador do livro).
A rave a céu aberto, que marca oficialmente o lançamento da empreitada, rola dia 3 de maio, na saída da estação Mercado do Trensurb, em Porto Alegre, tendo como atrações os sete artistas que integram a coletânea. A produção do evento é do Coletivo Plano, um agrupamento da galera do rolê eletrônico porto-alegrense que tem se destacado. Wender pontua que o local escolhido retoma o paradeiro de algumas festas (do Coletivo Arruaça) que foram marcantes para o nicho. Segundo ele, o espaço não é usado há algum tempo para celebrações, e dialoga com a proposta do projeto sobre a rotina numa região metropolitana. Além disso, o lugar é de fácil acesso e um ponto tradicional da cidade, bem na frente do Mercado Público – um dos tantos endereços afetado pela enchente de 2024.
“Fazer na rua vai ao encontro de um espaço de circulação da musica eletrônica. Pra mim, a música eletrônica obteve essa conquista, renovou a música brasileira contemporânea, propôs coisas novas, e muito disso se dá a partir da ocupação do espaço público. É na rua onde tudo acontece, as coisas inusitadas. É um espaço democrático, aonde todo mundo chega e curte. Quem é do meio, quem não é… quem tá de passagem. Faz muito sentido que uma atividade do projeto, a festa, seja num espaço publico também” , explica Wender.
De acordo com ele, a intenção de “Marginália Metropolitana” como um todo, é “evidenciar e registrar um momento dessa história viva, que está sendo constantemente escrita, por muitas mãos, pés, cabeças, fígados e corações, apesar das limitações materiais e das realidades das nossas cidades.” Além disso, o trabalho faz um uma homenagem póstuma a Matheus Miranda Ribeiro, o Tabu (DJ, produtor musical e cultural e articulador que foi referência na música eletrônica local).
Conforme o organizador, o trampo não pretende ser a verdade sobre a cena. Mas, sim, um registro baseado na ficção que cada envolvido no projeto cria para si.
“É um trabalho de registro, de memória. Não só de olhar para o passado, mas de captar o agora. Faltava uma documentação que não fosse acadêmica disso”, avalia Wender.
A coletânea do projeto apresenta composições de Marcelulose, Pianki, PV5000, Nog4rya, Turva, Faylon e DJ Mtn9090 – cada um contribuindo com duas faixas e mostrando vivências e experiências oriundas da região metropolitana de Porto Alegre.
Marcelulose aponta que os escolhidos são artistas que expressam uma sonoridade local e única, mesmo com suas singularidades. Em sua curadoria, ele avaliou questões estéticas e o quanto significa pra cada um a música local. “O critério foi basicamente a importância das produções musicais para o cenário daqui. Artistas emergentes e historicamente marginalizados. Também busquei incentivar a surgir novos produtores a partir do suporte monetário, com isso conseguiram investir em estudos de produção. E gerar recursos para os produtores que já estão sólidos em suas composições”, pontua o curador.
O livro, que serve como documento histórico do movimento de música eletrônica no Rio Grande do Sul, traz relatos assinados por Leo Felipe (comunicador e antigo dono do lendário Garagem Hermética), Eduarda Heineck Fernandes (cientista social e pesquisadora), Bruno Barros (produtor cultural), Mariana Gonçalves Silva (socióloga e DJ) e Tom Nunes (agente cultural), além do GB. São seis escritas reflexivas, nas quais os autores se deixaram afetar pela escuta da coletânea e produziram artigos, ensaios e devaneios sobre o cenário da música eletrônica na grande Porto Alegre. Cada um trazendo a perspectiva de seu meio de atuação. O material conta ainda com uma grande entrevista coletiva que revela a história das pessoas que produziram as faixas que compõem o registro musical, bem como a apresentação do coletivo Plano.
Gabriel “GB”, que ficou responsável pelo conteúdo textual, diz que a seleção dos autores teve como um dos critérios o recorte territorial, a familiaridade com a cena que é mote do projeto, bem como a diversidade. “Fomos levantando os nomes e percebendo que essas pessoas davam conta de diferentes visões que poderiam ser produzidas. Tem gente do campo da comunicação, do jornalismo, que poderia dar a contribuição a partir dessa perspectiva. Tem pessoas que têm um estudo mais acadêmico, no campo das ciências humanas, sociologia, antropologia. Há, ainda, a galera da literatura. Tínhamos, também, a tarefa de reunir um grupo que fosse diverso do ponto de vista dos vários marcadores sociais (pessoas pretas, LGBTQIAPN+), para que não ficasse só em figuras que ocupam posições de privilégio na nossa sociedade”, destaca GB.
A publicação está disponibilizada gratuitamente em pdf no site www.marginaliametropolitana.com.br e tem tiragem de 500 exemplares impressos, sendo que 20% das cópias devem ser doadas para bibliotecas públicas, comunitárias e escolas do Rio Grande do Sul. A obra tem ainda uma versão em audiolivro. A identidade do projeto todo é da artista visual e produtora cultural Amanda de Abreu Assma, já a diagramação do livro é da também artista visual Ana Cândida Sommer. Ouça a coletânea e conheça os artistas que participam do registro:
Pianki – a.k.a Leo Pianki é produtor musical, produtor cultural e DJ. Co-produz os coletivos Turmalina e ZonaEXP. Desde o início da sua carreira artística, foca em trazer novas perspectivas da música eletrônica de pista à tona. Ingressou na cena frequentando festas de rua de música eletrônica, como Arruaça e Vorlat, por volta de 2014. Na época, estudava arquitetura e tinha interesse na influência destes eventos no urbanismo da cidade. O ritmo sempre fez parte da sua vida: chegou a tocar violão quando era mais novo, e arriscava na percussão nos sambas que rolavam na casa dos avós. Em 2016, vendeu sua guitarra e comprou uma controladora Akai, depois de assistir algumas apresentações em live act e decidir baixar o Ableton Live. A partir daí, começou a produzir música eletrônica de maneira despretensiosa e em 2018 já estava tocando.
Suas produções e DJ sets exploram um ambiente hipnótico porém balanceado, alinhando sua estética com vertentes do house e techno. Se apresentou em diversos eventos locais e do Brasil, como ODD (SP), 1010 + Boiler Room (BH), Rádio Veneno (SP), Caldo Love (SP – em edição especial no RJ), Comuna (RJ). Como produtor musical, teve seus primeiros releases pela label ZonaEXP, participou da coletânea Escape from São Paulo, do selo In Their Feelings e Anexo Projeto, além, de lançamentos pela Nice & Deadly (BSB) e XXIII (Portugal). Atualmente desenvolve seu projeto @dance.report e, junto ao coletivo Turmalina, realizou em 2021 a Feijoada Turmalina, imersão criativa com o objetivo de compartilhamento dos conhecimentos de produção multimídia, mixagem DJ e estratégias de comunicação dos integrantes do coletivo, contemplando artistas periféricos de Porto Alegre e da região metropolitana – projeto financiado pelo Natura Musical de imersão artística e fomento de cenas.

Marcelulose – a.k.a Marcelo Silva é natural de São Leopoldo, mas foi adotado por Canoas, região metropolitana de Porto Alegre. Em 2013, entre sintetizadores, hardwares e timbres analógicos, iniciou seu trabalho na música. É fascinado por ferramentas de captação de áudio e também inspirado em bandas psicodélicas e experimentais setentistas. Arrancou sua caminhada musical por meio desses estilos, e somente após alguns anos decidiu mergulhar no cenário da música eletrônica. Antes disso, passou pelo violão, guitarra e teclado, e terminou tocando synth em uma banda de rock experimental – já na nóia dos timbres eletrônicos. Autodidata, estudava lendo os manuais.
Em 2017, foi impactado por um set da Kika no Soundcloud, e decidiu ir ver o que rolava com seus próprios olhos. Seu primeiro rolê de rua de música eletrônica foi uma Cerne, embaixo do Aeromóvel, onde ouviu a música da Saskia e do Tabu, que se apresentavam ao vivo. Depois disso, começou a colar direto nos rolês, se enturmando com a galera da produção musical. Era conhecido como “o guri dos plugins”, porque fazia a mão de passar dicas de VSTs. Ao mesmo tempo, formou com Luísa Muccillo o duo chamado banKu, um live act sincero como seus sentimentos em relação à cena. Apoiados por Tabu, lançaram tracks em selos independentes e tocaram em algumas festas. Em breve, entraria na ZonaEXP, núcleo verdadeiramente underground de Porto Alegre.
Hoje, considera-se ex-DJ, sendo notável produtor musical, engenheiro de mixagem e masterização, além de articulador cultural. Começou a ganhar espaço na cena logo que entrou, lá em 2017, apresentando seu conhecimento amplo e freestyle sobre sonoridades eletrônicas urbanas, o que passou a ser a essência de sua criação como produtor. Já lançou tracks pelas gravadoras DSRPTV Rec, T REC, Piratão Rec, Trinka, ZonaExp, Raio-X, Goma Rec, Fazedores de SOM, Neurokat Records e CLAN DESTINE RECORDS. Marcelo é fechamento no circuito underground de Porto Alegre, e além da ZonaEXP, participou do selo GOMA rec., outro expoente da cidade. Hoje compõe o núcleo do selo Raio-X, além de também ser curador e mediador do programa “É Track ou Beat?”, produzido em conjunto com Mtn9090 na Senso Rádio, plataforma online sediada em Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre. Além de ter produzido duas tracks para este VA, Marcelulose foi o curador musical e masterizador da coletânea que compõe este projeto, ponto de partida deste livro.

Nog4yra – a.k.a Una Akan é DJ, produtor musical e integrante do coletivo T (@ttt.tt.ttt). Baterista desde a infância, aprendeu a tocar vários instrumentos de percussão, como atabaque, agogô, tamborim, surdo, afoxé, bongô, conga… Atualmente mora em Salvador (BA), mas nasceu no Rio Grande do Sul. Até os 18 anos morou na região metropolitana de Porto Alegre. Em 2016, diretamente de Guaíba City, mudou-se para a capital. A partir de então, foi presença confirmada nos fronts e nas pickups da cidade.
Por volta de 2014, quando ainda morava em Guaíba, começou a frequentar com os amigos alguns rolês de rua em Porto Alegre, como o Largo Vivo. A partir daí, conheceu a cena de música eletrônica, principalmente nas festas de rua, como Cerne e Arruaça. Depois, conheceu Base, Vorlat, Plano e outros coletivos que foram surgindo. Tornou-se agitador do front por anos antes de começar a tocar. Nessa época, vendia salgados veganos e cachaça nos rolês. Em uma destas festas de rua, ouviu uma voz cantar no microfone, dramática e experimental: era Saskia. Passou a procurar por aquelas músicas, que transgrediam os limites tradicionais, cheias de metáforas, pensamentos inusitados… Ficou obcecado: que tipo de construção sonora é essa? A partir de então, pesquisou sobre produção musical, baixou o Ableton Live e, finalmente, em 2019, matriculou-se em um curso, ainda sem intenção de ser DJ. Queria botar algo pra fora por meio da música, ver até onde poderia chegar. Queria criar viagens sonoras e mundos internos. O interesse na produção musical despertou a vontade de aprender a tocar, na mesma intenção, de criar suas próprias trips.
DJ e produtor musical desde 2019, em 2020 passou a integrar o Coletivo T. Com três álbuns lançados e mais de 16 lançamentos em gravadoras pelo Brasil, Holanda, Sérvia e França. Seu foco de pesquisa assemelha-se à sua produção musical: baterias intensas, kicks marcantes, synths envolventes e samples brasileiros. Mescla gêneros como Electro, Techno, Jungle, Bass, Breaks, House e Eletrofunk.

Mtn9090 – a.k.a Marcos Martinelli é natural de Itaqui, cidade no interior do Rio Grande do Sul, no extremo oeste do estado, fronteira com a Argentina. Passou a infância e a juventude em Viamão, na região metropolitana de Porto Alegre, mais tarde mudando-se para a capital. Moldado por essas vivências, com seus trânsitos e deslocamentos, destaca-se no cenário local com uma abordagem sonora disruptiva, em que batidas quebradas, ritmos acelerados e músicas intensas criam uma narrativa que distorce e provoca a pista de dança. Ao longo de sua trajetória, brincou com muitos instrumentos: das cordas à percussão, chegando nos sintetizadores, sequenciadores, samplers e drum machines.
Sua jornada na “cena” começa em 2016, quando descobriu a experiência de pista, apaixonando-se pela cultura DJ. A partir de então, frequentou festas, explorou novas sonoridades e conectou-se com DJs e a comunidade ao redor. Esse envolvimento o levou a produzir eventos e a trabalhar diretamente com amigos DJs, com seus bookings e agendas. Paralelamente, atuou como artista visual e designer gráfico, criando artes para as festas. Com o tempo, o interesse pela discotecagem cresceu, e dedicou-se à pesquisa musical e também à apresentar sua curadoria. Esse mergulho natural na música acabou levando-o, por fim, à produção musical. Começou a tocar como DJ em 2016: sua primeira apresentação foi no “Garagismo”, festa que ocorria literalmente na garagem de uma casa, episódio que contou até com a polícia para acabar com o rolê. Em 2018, começou a criar seus primeiros experimentos de som – utilizando uma Electribe ESX-1 e conhecimentos básicos de Ableton Live – para, em 2020, lançar seus primeiros projetos como produtor musical. Apesar de já ter produzido milhares de tracks, ainda se vê, acima de tudo, como DJ.
Atualmente morando em São Paulo, Mtn9090 é integrante do Coletivo Arruaça, curador do catálogo sonoro da label independente Raio X, além de mediar, ao lado de Marcelulose, o programa “É Track ou Beat?” transmitido pela Senso Rádio, de Novo Hamburgo, região metropolitana de Porto Alegre. Atuando em meio a um circuito de produção independente e com recursos limitados, sua pesquisa tem como base o house e o techno clássicos de Detroit e Chicago, mas também passa por gêneros como juke, drum’n’bass, jungle e breakbeat. Como produtor musical, Mtn9090 já teve produções lançadas em selos brasileiros como Gop Tun Records, Bicuda Rec, T REC, Raio X, ZonaEXP e Trinka BR. Também teve produções lançadas pelos selos internacionais Acid85 (Japão), Juke Bounce Werk (Estados Unidos), Boukan Records (França), Trampa, Muakk (Colômbia) e Choccy Biccy (Reino Unido).

PV5000 – a.k.a Petrus Vargas é DJ, produtor musical e agitador cultural, trabalhando na área da música há 10 anos. Nasceu em Porto Alegre, morou durante a infância em São Francisco de Paula, na Serra Gaúcha, e voltou para Porto Alegre, onde desenvolveu a maior parte de sua trajetória. Atualmente, vive em São Paulo. Cofundou a label T REC., a festa Boiler Baile e é idealizador do projeto Rewind BR. PV tem como objeto de pesquisa a música popular brasileira, sempre explorando suas sonoridades e samples. Por ter uma vivência trans, traz muitos elementos urbanos e barulhentos, aprecia misturar gêneros musicais – suas criações estéticas remetem ao subjetivo, às memórias e experiências do seu dia a dia.
Por volta de 2014, começou a frequentar festas de música eletrônica, tendo como referências Arruaça e Vorlat. Em 2015, já se apresentava como DJ. Começou a produzir no Ableton Live no final de 2019, evoluindo seus estudos de produção em 2020, principalmente durante a pandemia. Mas, seu percurso com a música é mais antigo: começou a tocar piano aos cinco anos de idade e, com treze anos, após a crisma, entrou para o CLJ – grupo eclesial de jovens. Aprendeu a tocar cordas na banda da igreja de sua comunidade, evoluindo depois seus estudos para percussão.
Nessa época, trocou seu skate por um violão com uma colega de escola.
Seu primeiro single, “Tiro no cu”, foi lançado em janeiro de 2020, e seu primeiro álbum, “PIVETE2000”, foi lançado em outubro de 2021. Apesar de já ter inúmeros lançamentos em labels do Brasil e do mundo, prefere lançar suas tracks de forma independente em sua página no Bandcamp. Sua curadoria como DJ vai do electro, cravado por samples em português, ao garage, dub, drum’n’bass, jersey club, 2 step, speed garage e outros estilos que valorizam as linhas de baixo. Os gêneros são utilizados como inspirações laterais, sem que se detenha em nenhum deles.
Já circulou pelas pickups mais destacadas de Porto Alegre, além de festas e festivais em Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Montevideo (UY) e Valisas (UY). Teve singles autorais lançados pela teia (SP), AMIG (BH), Megazord Rec. (POA), T REC. (POA), Sauce Traxx (Austrália), DRILL (Sérvia), Bubble Bath Berlin (Alemanha), XXIII (Portugal), CAF? LATINCORE (Porto Rico), Dark Heaven (Chicago), Bad Tips (França), AUX1 (Barcelona), Trampa (Colômbia) e Jadeo (Uruguai), incluindo um lançamento em vinil. Tem 4 EP’s autorais lançados por sua label pessoal, além de sets para França, Canadá, Coréia, EUA, Alemanha e Japão.

Faylon Silva Lima é multiartista, DJ, ator, modelo e produtor cultural, com uma década de trajetória dedicada à cena cultural de Porto Alegre. Sua família tem origem quilombola, vindos do Quilombo do Areal, na Cidade Baixa. Viveu sua infância no bairro Cavalhada, na Zona Sul de Porto Alegre e, mais tarde, durante a adolescência e início da vida adulta, morou em Viamão, na região metropolitana. Atualmente vive na Cidade Baixa.
Desde 2015, atua como DJ, trazendo uma abordagem única, que rompe com as fronteiras entre gêneros musicais e BPMs, sempre conectada à sua ampla pesquisa musical, produzindo experiências intensamente dançantes. Nas festas de batuque que aconteciam em sua casa, teve os primeiros contatos com os instrumentos musicais, como tambor, agogô, ajê e sineta, algo propiciado por sua relação com a religiosidade de matriz africana, vivenciada desde criança.
Conheceu a “cena” por volta de 2013 ou 2014. Morando em Viamão, não sabia exatamente onde acontecia a efervescência da cidade, aproximando-se de maneira intuitiva de casas noturnas como Cabaret e Beco. Ao mesmo tempo, durante este período, vivenciou um movimento de ocupação festiva da rua, puxado pelo coletivo Arruaça. Curiosamente, sua primeira aproximação com a discotecagem foi em uma festa de aniversário de sua mãe. Observando o Virtual DJ aberto, ficou fascinado: era um jovem negro que estava tocando. Baixou o software, e foi atrás. Começou a brincar, muito despretensiosamente. Nessa época, ainda frequentava o eixo de casas noturnas voltadas à música pop. Tornou-se divulgador das festas, e logo estava tocando nos rolês. Começou a produzir música eletrônica em meados de 2020, durante a quarentena da covid-19. Um amigo conseguiu um mini curso online, que nunca foi terminado, mas garantiu os primeiros contatos com o software, o que deu acesso a mais uma dimensão do multiartista que é.
Em 2021, lançou o álbum Modupé, uma obra que celebra suas raízes e explora sonoridades afro-diaspóricas com profundidade e autenticidade. O álbum reafirma sua versatilidade e sensibilidade artísticas. Também lançou uma faixa em colaboração com VSCH no VA independente Megazord, produzido por artistas da cena de Porto Alegre e região metropolitana. Além disso, tem sets gravados para selos como Cereal Melodia, Sabará Records e outros. Nestes trabalhos, destaca-se pela sua capacidade de transitar por diferentes vertentes musicais, criando narrativas sonoras potentes.

TURVA a.k.a. Taty Rosa é DJ, produtora musical e integrante do Coletivo Turmalina. Natural de Novo Hamburgo, do bairro Roselândia, atualmente é radicada em Porto Alegre, onde atua como DJ desde 2017. Ao longo da vida teve contato com violão, pandeiro, chocalho, teclado, gaita… Como DJ e produtora musical, compõe estilos como drum’n’bass, funk, electrofunk, ghettotech, footwork e jungle, sempre na busca de trazer artistas pretes e a cultura da música eletrônica preta e periférica para suas apresentações.
Conheceu a cena no momento em que saiu de casa, em Novo Hamburgo, indo para Porto Alegre. Começou a frequentar casas noturnas, principalmente de música pop e funk, e, consequentemente, foi conhecendo as festas de música eletrônica, como Plano, Vorlat, CERNE, Base, Arruaça, Turmalina… No entanto, aproxima-se desse eixo de forma mais íntima somente em 2018. Ainda assim, em 2017, já havia se apresentado como DJ na Casa Frasca, um centro cultural que também funcionava como bar e recebia festas – importante ponto de circulação da arte alternativa da cidade, tido como local mítico da união dos artistas que hoje integram o Coletivo Turmalina.
Começou a experimentar-se na produção de música eletrônica em 2019, mas assumiu de fato o ofício em 2023. As músicas entregues nesta coletânea são seus primeiros lançamentos. Tem alguns rascunhos de outros projetos, mas nada que já tenha concluído. Nunca lançou por labels, e pensa em, inicialmente, distribuir seu som através do SoundCloud e Bandcamp, de maneira independente. Sua meta, enquanto alguém que trabalha com música, é elevar a autoestima de quem ouve, tentar fazer quem está presente vibrar e se identificar, tanto visualmente quanto sonoramente. Já tocou em algumas das principais festas eletrônicas da cena de Porto Alegre, como Arruaça, Goma Rec, Coletivo Plano, Turmalina e Nite Savage. Também já fez parte do line das festas Grau e Neurokat, labels de São Paulo.
– Homero Pivotto Jr. é jornalista, vocalista da Diokane e responsável pelo videocast O Ben Para Todo Mal.