Produtividade em períodos difíceis
Há dias em que tudo flui. Em que o corpo responde, a mente acompanha, as tarefas se alinham umas às outras como se soubessem o caminho. Mas há também os outros dias. Os dias pesados. Aqueles em que cada pequeno movimento parece exigir um esforço descomunal, como se o tempo estivesse denso, grudando nos ossos. … Continue lendo "Produtividade em períodos difíceis"

Há dias em que tudo flui. Em que o corpo responde, a mente acompanha, as tarefas se alinham umas às outras como se soubessem o caminho. Mas há também os outros dias. Os dias pesados. Aqueles em que cada pequeno movimento parece exigir um esforço descomunal, como se o tempo estivesse denso, grudando nos ossos.
Durante crises ou transições de vida, a produtividade muda de forma. O que antes era simples passa a ser complexo, o que antes era automático se torna um fardo. O mundo continua girando no mesmo ritmo, mas por dentro algo se quebra, e seguir em frente parece um desafio que ninguém explicou como enfrentar. Há um luto por aquilo que já não funciona, um desapego forçado das estruturas que antes davam segurança.
Não é possível insistir nos mesmos sistemas quando o corpo pede outra coisa. Há momentos em que o planejamento precisa ceder lugar ao improviso, em que a disciplina precisa ser substituída por compaixão. Às vezes, a produtividade não é sobre otimizar, e sim sobre sobreviver. Fazer o mínimo possível. Reduzir expectativas. Aceitar que a régua do que é suficiente mudou, e tudo bem.
Adaptar-se não é um ato de fraqueza, mas de respeito pelo que está acontecendo. Talvez seja preciso reescrever listas, diminuir prazos, abrir espaço para pausas que antes pareciam impensáveis. Talvez a produtividade precise ser apenas silenciosa: uma xícara de café no meio da tarde, um email respondido, um compromisso desmarcado sem culpa. Pequenos gestos que seguram as pontas enquanto a tempestade passa.
E ela passa. Pode levar mais tempo do que gostaríamos, mas passa. E então, pouco a pouco, os sistemas voltam ao lugar, mesmo que nunca da mesma forma. Porque crises deixam marcas, transições nos transformam. Depois de períodos difíceis, a produtividade não volta a ser o que era – ela se torna algo novo. Mais real, mais humana. Algo que respeita os ciclos e entende que a vida, no fim das contas, nunca foi sobre fazer mais, e sim sobre continuar seguindo, do jeito que for possível.