“Portugal tem tido um desempenho excecional”: Peter Windischhofer, CEO da refurbed, revela como a plataforma se adaptou ao mercado português

A refurbed, empresa austríaca especializada na venda de tecnologia recondicionada e sustentável, anunciou esta terça-feira que atingiu um volume de negócios global de dois mil milhões de euros, consolidando-se como um dos principais players europeus no setor.

Presente em doze mercados, incluindo Portugal desde julho de 2024, a marca já contabiliza cerca de dez mil encomendas no país, com destaque para o domínio dos smartphones, smartwatches, consolas e MacBooks.

Em entrevista à Marketeer, Peter Windischhofer, cofundador e CEO da refurbed, fala sobre este marco, a visão circular da empresa e os desafios e conquistas da operação em solo português.

Atingir dois mil milhões de euros em volume de negócios é um marco impressionante. Quais foram os principais fatores que contribuíram para este sucesso?

Peter Windischhofer (PW): O facto de um mercado que é sustentável e até circular atingir um marco como este num período tão curto é um feito enorme, pois demonstra a relevância e o poder da sustentabilidade em toda a Europa. Além disso, Portugal sendo um mercado novo, pois só chegamos há menos de um ano, já contribuiu para este crescimento. O que é um sinal claro de que os consumidores nacionais estão cada vez mais conscientes de que comprar repetidamente novos dispositivos não é sustentável.
Estamos orgulhosos por ver que estamos num caminho sólido, a construir uma relação de confiança com o mercado. Criámos uma marca em que os consumidores confiam, que sabem que lhes oferece qualidade a um preço justo.

Nada disto seria possível sem a nossa equipa, que se dedica diariamente a garantir que os nossos produtos chegam aos consumidores com os mais elevados padrões de qualidade e a preços acessíveis. Tudo isto se baseia nos nossos valores de sustentabilidade – que, para nós, não são apenas uma tendência, mas parte integrante da nossa identidade. E os consumidores reconhecem isso e estão a responder muito positivamente. A ter consciência de que é fácil ter um impacto positivo, e poupar dinheiro, sem abdicar de ter produtos que estão na moda e são desejáveis.

A refurbed está presente em 12 mercados europeus. Como avaliam o desempenho da empresa em Portugal desde a sua entrada em julho de 2024, portanto, há quase um ano?

PW: Portugal tem tido um desempenho excecional. Dez mil encomendas em menos de um ano é um resultado extraordinário, que demonstra claramente o apetite dos consumidores portugueses por tecnologia mais sustentável. Estamos muito satisfeitos com a tração inicial e confiantes de que existe um enorme potencial de crescimento neste mercado. Alguns dos produtos mais populares são o iPhone 13, os AirPods Pro 1, a PlayStation 4 e o Apple Watch Ultra.

Os smartphones lideram as vendas em Portugal. Que estratégias têm para expandir a oferta e atrair novos segmentos de consumidores?

PW: Os smartphones são, sem dúvida, a porta de entrada, isto porque são dispositivos que são substituídos com maior frequência: quando avariam, ficam desatualizados, ou por outros motivos. Mas não nos ficamos por aqui. Estamos constantemente a expandir a nossa gama de produtos – portáteis, eletrodomésticos ou e-bikes – porque queremos tornar o consumo sustentável possível, e queremos que seja a escolha preferencial dos consumidores. Isto só é possível com produtos atrativos. Queremos que todos saibam que a refurbed existe e está aqui para responder às necessidades dos consumidores, sejam eles estudantes, profissionais, pessoas ecologicamente conscientes, famílias ou interessados em tecnologia.

O estudo de 2024 revelou que 61% dos consumidores portugueses consideram comprar produtos recondicionados como prenda de Natal. Como interpretam esta tendência e como pretendem capitalizá-la?

PW: O Natal é sempre uma excelente oportunidade — e estes resultados mostram-nos que os consumidores estão cada vez mais à vontade com a ideia de oferecer produtos recondicionados como presentes. Isto reflete também uma mudança de mentalidades, assim como na própria sociedade, que valoriza cada vez mais escolhas conscientes e sustentáveis. Vamos intensificar os nossos esforços de marketing durante esta época festiva, e destacar não só o valor, mas também o impacto positivo de escolher soluções mais responsáveis. Estamos a preparar guias de presentes, promoções especiais e talvez até algumas embalagens festivas. Temos como objetivo tornar a redurbed a escolha ideal para o consumidor consciente.

A sustentabilidade é um dos pilares da refurbed. Que medidas concretas a empresa implementa para garantir um impacto ambiental positivo?

PW: Para a refurbed ‘sustentabilidade’ não é apenas uma palavra que está na moda, — é algo que está no centro de tudo o que fazemos.

Por esse motivo trabalhamos com parceiros de recondicionamento certificados, que cumprem rigorosos padrões de qualidade, e oferecemos garantias alargadas para prolongar o ciclo de vida dos produtos. Queremos fazer uma diferença real, ter um impacto positivo e duradouro.

Somos membros de várias associações, incluindo European Refurbishment Association EUREFAS, a Right to Repair Campaign, o Circular Economy Forum Austria e a Federal Association for a Sustainable Economy na Alemanha. A nossa visão sobre o ambiente vai além da sustentabilidade intrínseca de sermos um negócio circular: inclui investigação científica para quantificar o impacto ambiental do recondicionamento; um portfólio de impacto para alargar ainda mais o nosso impacto positivo e por cima de tudo isso, um esforço de relações públicas – para que a mensagem chegue mais longe e a todos.

O crescimento da empresa tem sido acompanhado por rondas de financiamento bem-sucedidas. Há planos para novas captações de investimento ou expansão para outros mercados?

PW: Estamos sempre atentos a oportunidades que impulsionem o nosso crescimento. Neste momento, o foco está em consolidar a reburbed nos mercados onde já operamos, mas estamos sempre a observar o potencial de novos territórios.
Em relação ao financiamento, permanecemos abertos a conversas com investidores que partilhem a nossa visão e os nossos valores — porque acreditamos que o crescimento sustentável começa com parcerias alinhadas.

Que desafios encontraram ao adaptar-se ao mercado português e como se adaptaram?

PW: Cada mercado tem as suas próprias particularidades — e Portugal não é exceção. Um dos principais desafios foi adaptar a nossa comunicação para criar uma ligação real com os consumidores portugueses. Tivemos de ajustar o tom das nossas campanhas, investir em conteúdo mais educativo sobre o que é um produto recondicionado e porque não é o mesmo que um produto em segunda mão. Num mercado novo, precisamos de conquistar e ganhar a confiança dos consumidores.

Outro ponto essencial foi estabelecer parcerias locais, tanto ao nível da logística como no apoio ao cliente, para garantir uma experiência de compra fluida e eficiente. Por exemplo, garantimos prazos de entrega competitivos e um serviço pós-venda em português, com resposta rápida e apoio próximo.

Acreditamos que a chave é ouvir ativamente os consumidores e adaptarmo-nos de forma ágil. Continuamos a aprender com o feedback do mercado e a ajustar a nossa abordagem — seja através de campanhas mais relevantes, melhorias no processo de devolução ou até sugestões para novos produtos. Esta flexibilidade tem sido essencial para o crescimento sustentável da refurbed em Portugal.

A concorrência no setor da tecnologia recondicionada tem vindo a aumentar. O que diferencia a refurbed de outras empresas do setor?

PW: Estamos sempre atentos ao que nos rodeia, mas o que realmente nos diferencia é o nosso compromisso inabalável com a qualidade, a transparência e a sustentabilidade. Não vendemos apenas dispositivos usados — oferecemos uma experiência recondicionada premium.

Os consumidores da refurbed têm 30 dias para avaliarem os produtos que compram e, subsequentemente, 12 meses de garantia. E um excelente serviço de apoio ao cliente caso algo não corresponda às expectativas dos clientes.

Todos os nossos produtos são sujeitos a testes rigorosos, para que os consumidores os possam comprar com total confiança. Além disso, somos totalmente transparentes sobre o nosso impacto ambiental: desde a pegada de carbono evitada e reduzida até às árvores que plantamos por cada venda.

Mais do que uma marca, estamos a construir uma comunidade de consumidores conscientes, que partilham a nossa paixão por um consumo mais responsável e sustentável.

A refurbed acredita que “o futuro da tecnologia é circular”. Que iniciativas estão a ser desenvolvidas para reforçar este modelo?

PW: Acreditamos que a economia circular é, sem dúvida, o futuro — simples e direto. Portanto, estamos a desenvolver iniciativas que tornam mais fácil e acessível para os consumidores reciclar ou devolver dispositivos antigos, e, assim, prolongarem o ciclo de vida da tecnologia. E somos, como negócio, um negócio circular.

Não estamos apenas a falar sobre economia circular; estamos a construí-la. É por isso que estabelecemos uma parceria com a Minimise, no Gana, para combater a crescente crise do lixo eletrónico (e-waste). Juntos, estamos a capacitar as comunidades locais para recolher, reciclar e dar nova vida aos materiais eletrónicos, a desviá-los dos aterros sanitários e a criar um sistema verdadeiramente circular.

O nosso objetivo é claro: contribuir para um sistema verdadeiramente circular, onde nada se perde e tudo pode ser reutilizado com qualidade. A parceria com a Minimise é um exemplo poderoso do nosso compromisso em tornar essa visão uma realidade.

Que expectativas têm para o futuro da refurbed em Portugal e na Europa nos próximos anos?

PW: Nos próximos anos temos expectativas de crescimento no mercado português, pois acreditamos que cada vez mais consumidores reconhecerão as vantagens da tecnologia sustentável. Queremos tornar-nos o principal fornecedor de dispositivos eletrónicos recondicionados no país.

A nível europeu, estamos numa missão ambiciosa — tornar os dispositivos recondicionados no ‘novo normal’, redefinir o que significa ‘novo’ e mudar a forma como consumimos. Acreditamos que todos devem ter acesso a tecnologia de alta qualidade, de uma forma mais acessível e com menor impacto ambiental.

Estamos a trabalhar com determinação para transformar essa visão em realidade, através da inovação constante, de parcerias estratégicas e do fortalecimento da nossa comunidade de consumidores conscientes. O futuro será circular — e queremos estar na vanguarda dessa mudança.