Por que o agricultor está penando, apesar da safra recorde

As máquinas já foram ligadas nas fazendas de norte a sul do País para a reta final da colheita da soja, que este ano promete um novo recorde.  A Conab agora estima uma safra de 167,4 milhões de toneladas, 13,3% a mais que no ciclo anterior – e parte do mercado suspeita que o número […] The post Por que o agricultor está penando, apesar da safra recorde appeared first on Brazil Journal.

Mar 24, 2025 - 07:33
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Por que o agricultor está penando, apesar da safra recorde

As máquinas já foram ligadas nas fazendas de norte a sul do País para a reta final da colheita da soja, que este ano promete um novo recorde. 

A Conab agora estima uma safra de 167,4 milhões de toneladas, 13,3% a mais que no ciclo anterior – e parte do mercado suspeita que o número pode ainda ser maior. 

Somando a soja ao milho, algodão e outros grãos, o Brasil pode atingir pela primeira vez o número extraordinário de 328 milhões de toneladas — quase três vezes a produção de 20 anos atrás.

Mas a colheita farta não significa necessariamente festa na fazenda.

Esta é a terceira safra em que as margens seguem apertadas para os produtores de grãos. A XP estima que nesta safra o lucro líquido com a soja deve ser de R$ 1.695 por hectare, considerando a produção em terras próprias. Se for uma área arrendada, sobram menos de R$ 300 por hectare. 

SOJA GRAFICO

No caso dos produtores alavancados, a conta já ficou no vermelho – mas ainda assim a situação está bem melhor se comparada à safra 2023/2024, quando o prejuízo líquido por hectare foi de R$ 465 na soja e de R$ 577 no milho.

“Os últimos anos têm sido desafiadores para os agricultores brasileiros, sobretudo em função da alta da taxa de juros,” Aurélio Pavinato, o CEO da SLC Agrícola, disse a um grupo de investidores estrangeiros numa reunião organizada pelo Citi. “Assim como no ano passado, muitos agricultores estão com dificuldades para gerenciar o fluxo de caixa nas fazendas neste ano.” 

O sentimento geral no agronegócio é de que o ciclo de baixa está próximo do fim, mas uma parcela dos agricultores segue enfrentando tempos difíceis. 

“Não importam os desafios na produção ou na logística que temos enfrentado nos últimos anos. A instabilidade na previsão das margens é um dos principais desafios dos grandes e médios produtores,” disse Ana Paula Zerbinati, a head de RI da BrasilAgro, no mesmo evento de que participou Pavinato. 

No ciclo das commodities agrícolas, 2025 é o terceiro ano de baixa. Um cenário bem diferente do período entre 2018 a 2022, em que os agricultores viveram uma bonanza graças à guerra comercial promovida no primeiro Governo Trump, a desvalorização do real em 2020 e o boom das commodities pós-pandemia. 

Desde então o cenário se inverteu: primeiro com safras recordes no Brasil e Estados Unidos derrubando os preços, e depois, um ciclo de quebra por fatores climáticos aqui no País. 

A renda negativa na safra 2023/2024 acabou atrasando o início do plantio e, por consequência, da colheita do ciclo atual, levando a um efeito dominó que engargalou a logística de escoamento e fez o frete disparar.

“Quem não tem silo para fazer armazenagem ficou naquela situação de pegar Uber na chuva,” diz André Mazini, que cobre o setor no Citi.

Há rotas em que o preço do frete aumentou em mais de 50% desde janeiro. 

“Apesar de ter dinâmica de custos altos, o grande vilão dessa história é o acesso ao crédito. E isso afeta o produtor que está muito alavancado, que tem muita dívida, que está dependendo muito de financiamento para fazer sua lavoura rodar,” disse Samuel Isaak, o analista de commodities agrícolas da XP. 

Paulo Dantas é produtor de soja no Piauí há 28 anos e esperava no início da safra que, na melhor das hipóteses, as contas iriam empatar este ano. Originário do Paraná, ele e a família produzem em uma área de 15 mil hectares em Sebastião Leal, mas a antecipação do fim das chuvas (que era esperado para março mas aconteceu em fevereiro) provocou uma quebra em parte da lavoura.

“A produtividade média da fazenda deve cair pra metade,” conta Dalto, que está em plena colheita. “Com os custos aumentando, produção caindo e o preço da soja que não está grande coisa, a situação ficou bem mais difícil para os produtores daqui.” 

A solução para Dantas agora tem sido buscar novas fontes de crédito para além das que ele já usa, como crédito oficial subsidiado à agricultura e linhas de exportação dos bancos privados.

Resta ao produtor sonhar com a próxima safra, que começa a ser plantada em outubro. “Essa vai ser bem melhor. Tenho certeza.”

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