Para revista americana, vitória de “Ainda Estou Aqui” teria mais impacto que qualquer outra no Oscar 2025

The Hollywood Reporter diz que reconhecimento do filme e da atriz Fernanda Torres pode influenciar a política e a justiça no Brasil e no mundo

Fev 28, 2025 - 15:32
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Para revista americana, vitória de “Ainda Estou Aqui” teria mais impacto que qualquer outra no Oscar 2025

Filme ganha relevância política

A possível vitória de “Ainda Estou Aqui” no Oscar pode extrapolar os limites do cinema e ter implicações políticas no Brasil e talvez no mundo, segundo reportagem desta quinta (27/2) da revista The Hollywood Reporter. O filme, dirigido por Walter Salles e baseado na história de Eunice Paiva, tem sido citado como um dos fatores que impulsionam debates sobre os riscos à democracia mundial. A publicação aponta que o reconhecimento do longa e da atuação de Fernanda Torres podem impactar o clima político.

A revista destaca que o filme tem gerado repercussão desde sua estreia e provocado discussões sobre a ditadura e suas consequências. No caso do Brasil, a reportagem cita o contexto da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Jair Bolsonaro e mais 33 militares por tentativa de golpe. “Se ganhar um prêmio em 2 de março, isso poderia ajudar a levar o Supremo Tribunal Federal a se pronunciar sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro, e potencialmente até mesmo anular o renascimento de um movimento de extrema direita [no Brasil]”, afirma a publicação.

O peso de um Oscar para mudar o mundo

Especialistas ouvidos pela reportagem apontam que “Ainda Estou Aqui” já vem desempenhando um papel significativo ao reavivar o debate sobre os perigos do autoritarismo. Rafael Ioris, professor da Universidade de Denver, reforça essa visão: “[Esse] filme já é único em como ajudou as pessoas a entender os perigos das ameaças à democracia no Brasil de uma forma muito pessoal”. Ele avalia que uma vitória no Oscar ampliaria esse efeito. “Se [esse filme] ganhar um Oscar, poderia impulsionar mais o debate e até mesmo ser propício para que o STF tome decisões contra a extrema direita [brasileira]”.

A reportagem destaca que a história de Eunice Paiva e sua luta por justiça se tornou um símbolo do combate à impunidade. O julgamento de Bolsonaro pelo STF e as investigações sobre os atos de 8 de janeiro de 2023 ocorrem paralelamente à repercussão do filme, que teria reforçado a percepção de setores do judiciário sobre o papel de figuras públicas no incitamento a ataques à democracia.

Outros países também tem identificado semelhanças em movimentos extremistas locais que tentam chegar ao poder para suprimir direitos. O próprio governo de Donald Trump nos Estados Unidos ecoa as sombras do autoritarismo.

Fernanda Torres e a mobilização pública

O texto da The Hollywood Reporter destaca a crescente visibilidade de Fernanda Torres, que se tornou um fenômeno tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. A publicação sugere que sua presença na temporada de premiações e sua postura crítica a Bolsonaro podem ter influência sobre o momento político do país. “Embora o STF tome suas decisões baseadas em fundamentos legais, ter Fernanda Torres no centro das atenções e sua vontade de se manifestar contra as agendas da [extrema] direita poderia intensificar o ‘zeitgeist’ político de maneira sutil [para uma] decisão”, aponta a reportagem.

A mobilização gerada pelo filme e sua estrela principal ocorre em um momento em que o Brasil discute a possibilidade de reverter ou reinterpretar a Lei da Anistia de 1979, que concedeu imunidade a militares envolvidos em crimes cometidos durante a ditadura. Flávio Dino, ministro do STF, já mencionou o impacto da produção no debate sobre essa revisão.

Reflexos além do cinema

A reportagem reforça que, mesmo sem efeito direto sobre decisões jurídicas, a projeção internacional de um filme como “Ainda Estou Aqui” pode influenciar a percepção pública sobre o fortalecimento de discursos democráticos. “Neste momento, no Brasil, os apoiadores de Bolsonaro são estimados entre 20% e 30% do eleitorado nacional. Isso mostra a necessidade de reeducar as pessoas sobre a importância de uma sociedade democrática”, conclui Rafael Ioris.

Não por acaso, o filme é atacado por bolsonaristas e chegou a sofrer tentativa de boicote. Mesmo assim, já vendeu mais de cinco milhões de ingressos no Brasil, tornando-se a quinta maior bilheteria da história do cinema nacional.

Favoritismo e possível surpresa no Oscar

A revista aponta que a produção brasileira está entre as favoritas a Melhor Filme Internacional e que Fernanda Torres tem chances reais de vencer como Melhor Atriz.

Segundo a publicação, a ausência de um superfavorito na categoria de Melhor Filme aumenta a possibilidade de que “Ainda Estou Aqui” possa surpreender e levar até o prêmio máximo da noite. A revista destaca que a produção tem conquistado grande apoio entre os votantes da Academia.