Os brasileiros não estão preparados para a poesia de Memphis Depay
No último dia 27 de março, enquanto Corinthians e Palmeiras disputavam a final do Campeonato Paulista, o holandês Memphis Depay – camisa 10 do alvinegro – tomou uma decisão inusitada. Ele dominou a bola perto do corner, mas, em vez de chutá-la, colocou um pé em cima dela. Depois, botou o outro. Por meio segundo, pairou a 20 cm do chão, como que levitando. “Ih, rapaz, o Depay subiu na bola!”, berrou o narrador Dudu Monsanto, do Canal Uol. A atitude, de tão rara, não tem nem nome. Logo que o atacante desceu da pelota, a defesa palmeirense o derrubou brutalmente. Exaltados, os reservas corintianos invadiram o campo. O clima de porradaria se instaurou, com direito a pontapé de goleiro e tapa de volante. “Era exatamente o que o Memphis queria: arrumar uma treta para fazer o tempo passar”, explicou Monsanto, em tom de crítica. O juiz distribuiu cartões amarelos e vermelhos. Quando o jogo recomeçou, o Palmeiras não conseguiu se reorganizar, e o placar ficou em 0 a 0, o que garantiu o título ao Corinthians. The post Os brasileiros não estão preparados para a poesia de Memphis Depay first appeared on revista piauí.

No último dia 27 de março, enquanto Corinthians e Palmeiras disputavam a final do Campeonato Paulista, o holandês Memphis Depay – camisa 10 do alvinegro – tomou uma decisão inusitada. Ele dominou a bola perto do corner, mas, em vez de chutá-la, colocou um pé em cima dela. Depois, botou o outro. Por meio segundo, pairou a 20 cm do chão, como que levitando. “Ih, rapaz, o Depay subiu na bola!”, berrou o narrador Dudu Monsanto, do Canal Uol. A atitude, de tão rara, não tem nem nome.
Logo que o atacante desceu da pelota, a defesa palmeirense o derrubou brutalmente. Exaltados, os reservas corintianos invadiram o campo. O clima de porradaria se instaurou, com direito a pontapé de goleiro e tapa de volante. “Era exatamente o que o Memphis queria: arrumar uma treta para fazer o tempo passar”, explicou Monsanto, em tom de crítica. O juiz distribuiu cartões amarelos e vermelhos. Quando o jogo recomeçou, o Palmeiras não conseguiu se reorganizar, e o placar ficou em 0 a 0, o que garantiu o título ao Corinthians.
Antes de Memphis, o venezuelano Yeferson Soteldo, atacante do Santos, ousou a mesma travessura. Em outubro de 2023, o time da Vila Belmiro ganhava do Vasco quando o atleta saltou com os dois pés juntos e aterrissou magistralmente sobre a bola inerte. O gesto também durou menos de um segundo, mas a reação vascaína assumiu proporções desmedidas: o jogador Sebastián Ferreira correu para cima de Soteldo e desferiu algo parecido com um soco. Os reservas santistas ocuparam o campo, e o juiz interrompeu a partida por oito minutos.
Devido à galhofa de Memphis, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) publicou um ofício pedindo aos árbitros que punam com cartão amarelo o ato de subir na bola. O motivo? A artimanha provocaria “transtorno no ambiente de jogo” e produziria “confrontos generalizados”. O holandês se tornou, assim, o último jogador a cometer a empáfia de desafiar tanto a defesa adversária quanto as leis da física. Nunca mais, no Brasil, um atleta vai escalar a bola impunemente.
Na edição deste mês da piauí, o humorista Gregorio Duvivier reflete sobre o deboche de Memphis e Soteldo. Diz que a atitude de ambos – teatral, insólita, absurda – não deixa de ser uma expressão poética e pergunta por que os brasileiros reagem tão mal à diabrura. Os jogadores “colocaram a bola onde não fazia sentido. A inevitabilidade da pancadaria prova que não estamos prontos para esse tipo de arte”, escreve Duvivier. Confira a íntegra do texto aqui.
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