Operadores de telemarketing usam empregos fictícios para vender seguros ilegais a milhares de famílias

Joe Strohmenger, um trabalhador por conta própria em Rocky Point, Nova Iorque, procurava o seu primeiro seguro de saúde quando foi apanhado numa armadilha.

Mai 6, 2025 - 20:24
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Operadores de telemarketing usam empregos fictícios para vender seguros ilegais a milhares de famílias
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Joe Strohmenger, um trabalhador por conta própria em Rocky Point, Nova Iorque, procurava o seu primeiro seguro de saúde quando foi apanhado numa armadilha. Tudo começou com uma pesquisa no Google que o levou a um site de simulações gratuitas. Minutos depois, o telemóvel não parava de tocar: centenas de chamadas de vendedores ansiosos por fechar negócio.

Acabou por contratar, com a mulher Sarah, um plano que acreditava cobrir todas as necessidades básicas, incluindo hospitalizações e consultas de emergência. O agente garantiu até que o seguro cobria o acompanhamento do tumor cerebral benigno de Joe. Ao fim de um ano, e depois de pagarem 8.734 dólares, o casal descobriu que o plano não cobria praticamente nada – era tão básico que, em circunstâncias normais, a sua venda seria ilegal nos EUA.

A explicação veio mais tarde: o vendedor inscreveu Joe num emprego falso numa empresa de tecnologia da Geórgia, sem o seu conhecimento. Esse “emprego” permitiu contornar a regulação dos seguros, ao fazer parecer que o contratante tinha acesso a benefícios corporativos.

Sem cobertura real, os Strohmenger passaram a evitar cuidados médicos. Sarah tentou reaver o dinheiro, sem sucesso. E os reguladores estatais não conseguiram ajudá-los. “Como é que alguém pode tirar-nos tanto dinheiro e ninguém faz nada?”, questiona.

Este esquema é apenas um entre muitos. Segundo uma série de dados recolhidos pela Bloomberg News, mais de 100 mil lares americanos compraram seguros associados a empregos fictícios nos últimos anos. E o problema é agravado pela dificuldade em responsabilizar os autores: os planos são vendidos por empresas obscuras, como Socios Buenos ou Vitamin Patch, sem ligação a seguradoras tradicionais, escapando muitas vezes à fiscalização.

A origem desta nova vaga de “seguros-lixo” (junk insurance) está na Florida, onde centenas de call centers operam num modelo agressivo e, muitas vezes, enganador. Os vendedores, atraídos por comissões elevadas, utilizam nomes falsos e apresentam-se como representantes de seguradoras conhecidas. As promessas incluem cobertura total por preços baixos – uma oferta irresistível, mas ilusória.

O plano dos Strohmenger foi vendido pela Quick Health, uma agência que já tinha sido banida em quatro estados e investigada pelo FBI. Apesar disso, continuava a operar, promovendo planos de baixa cobertura com promessas enganadoras.