O que influencia o aumento no preço dos alimentos?
A renda atual é suficiente para manter armários e geladeira abastecidos? Qual a solução para conter o aumento do preço dos alimentos? Ir ao mercado fazer as compras do mês ou da semana é uma situação cotidiana, mas que nos últimos meses vem testando o planejamento da renda familiar dos brasileiros. Contudo, o cenário não […]

A renda atual é suficiente para manter armários e geladeira abastecidos? Qual a solução para conter o aumento do preço dos alimentos?
Ir ao mercado fazer as compras do mês ou da semana é uma situação cotidiana, mas que nos últimos meses vem testando o planejamento da renda familiar dos brasileiros.
Contudo, o cenário não é novo. Em 2008, ao analisar a crise econômica no Brasil, o ex-Diretor Geral da Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO-ONU), José Graziano da Silva, pontuou reflexões importantes sobre o consumo dos alimentos que ajudam na compreensão do quadro atual:
“O que pagamos hoje por um alimento na realidade é resultado de uma definição que ocorreu no passado, baseada na especulação sobre a provável oferta e demanda futura, os resultados do próprio plantio e a demanda efetivado presente” (2008, p.68).
Apesar das mudanças que ocorreram no mundo após sua análise, os apontamentos de Silva direcionam para o quadro brasileiro atual. O aumento dos alimentos não é incomum e responde a políticas internas e externas, mas quais são os fatores que estão pesando nos preços dos alimentos hoje?
Vamos entender melhor sobre isso!
Por que os alimentos estão mais caros?
Itens básicos da alimentação brasileira, estão mais caros. No entanto, múltiplos fatores influenciam o aumento dos preços.
Em 2025, os preços observados nas prateleiras do mercado subiram em resposta a desvalorização do real, aumento da inflação, alta do dólar, mudanças climáticas, dentre outros fatores.
Em entrevista a Politize!, em 2021, Patrícia Costa, economista e coordenadora da Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), já havia explicado a questão:
“O real desvalorizado é um fomento para exportação. Na pandemia, o Brasil assumiu uma posição de continuar exportando, enquanto outros países seguraram o estoque de suas produções. E, ainda tínhamos o auxílio emergencial de R$ 600 circulando, dando um maior poder de comprar as famílias. Com pouca oferta para muita demanda o preço subiu, impactando na inflação”.
A alta dos valores é um problema antigo. Em 2020, os preços subiram como resultado da pandemia da Covid-19, no qual houve o isolamento social e a criação do auxílio emergencial. Nesse contexto, isso contribuiu para o aumento da demanda e a alta dos preços.
Em 2021, a crise hídrica afetou a agricultura e a geração de energia. Já em 2022, a guerra entre Rússia e Ucrânia levou a um aumento das commodities.
2023 foi um ano mais tranquilo, em que houve trégua na elevação de preços, pois a inflação dos alimentos foi contida por uma safra recorde e não teve efeitos climáticos fortes, o que auxiliou a manter uma oferta regular de alimentos.
Em 2024 o aumento se intensificou por fatores como a desvalorização cambial, bom mercado do mercado de trabalho no qual a taxa de desemprego se manteve baixa (6,2%) e, em função disso, aumento da demanda. Além disso, foi um ano de muitos desafios climáticos, principalmente com o El Niño provocando chuvas que inundaram o Rio Grande do Sul e a La Niña trazendo seca em algumas regiões e chuva excessiva em outras.
Em 2025, o quadro não é muito diferente. Por isso, vamos entender como cada fator está influenciando o aumento do preço dos alimentos no país.
Alta do dólar e desvalorização cambial
Um elemento que influencia nos preços é a desvalorização do real brasileiro em comparação ao dólar. No entanto, o impacto do aumento do dólar não é imediato, ele demora a chegar no bolso do consumidor, cerca de 6 a 9 meses, ou até mesmo 1 ano.
A taxa de câmbio chega primeiro no preço de commodities e, no médio/longo prazo, chega no preço do consumidor. Assim, a valorização do dólar aumentará, principalmente, o preço dos produtos influenciados pela moeda, como produtos importados e os insumos usados na produção local.
A alta no preço dos alimentos também vem da pressão causada pelo aumento da exportação, consequência da alta do dólar. Isso porque, a cotação do dólar influencia a quantidade da produção brasileira que ficará no país e o quanto será exportado.
Este é o caso dos produtos que se compram no mercado interno, mas que possui viabilidade de venda no exterior, as chamadas commodities. Quando a nossa moeda (o real) desvaloriza, parece que tudo no Brasil entra em promoção e, assim, exportamos mais.
Portanto, com o dólar alto, exportar tende a ficar mais lucrativo para o produtor. Assim, as commodities exportadas geram lucro por serem cotados em dólar, mas ficam mais caras quando importadas, afetando também o preço para o consumidor final.
Para compensar a falta de produto no mercado interno, é preciso complementar com a agricultura familiar, o que eleva os custos de produção.
Por isso, produtos como pão francês, que depende do trigo importado, tende a ficar mais caro. Além de frutas, legumes e carne que serão afetados indiretamente pelo aumento do custo de transporte.
Mudanças climáticas
As mudanças climáticas também estão impactando o preço dos alimentos. Isso porque os eventos climáticos extremos no Brasil e no mundo prejudicaram lavouras, reduziram safras e, com isso, encareceram os alimentos.
A emergência climática causada pelo fenômeno do El Niño, por exemplo, que impulsionou o aumento das temperaturas globais e as condições climáticas adversas no mundo, além de eventos como as enchentes no Rio Grande do Sul, secas severas e incêndios florestais, são responsáveis pela baixa produção de produtos.
O resultado dessas mudanças são as variações nas estações, o aumento da frequência de desastres naturais e a proliferação de pragas, o que eleva os custos de cultivo, energia e transporte de insumos. Por isso, as mudanças climáticas surgem com um fator importante na determinação dos preços dos alimentos em todo o mundo.
Saiba mais: O que são mudanças climáticas?
O efeito da inflação
Para compreendermos o efeito da inflação, primeiro precisamos entender o impacto da alta nas commodities, produtos que servem como a matéria-prima para fabricação de terceiros – como o milho, que serve de insumo para o leite e para carne – e são cotadas em dólar.
De acordo com Patrícia Costa, com a alta das commodities se privilegia o lucro que o agronegócio pode gerar com a exportação dos produtos em detrimento do mercado interno do país.
Ela pontua que o equilíbrio entre a exportação e o armazenamento de alimentos para o consumo da população local é um dos fatores que ajudam a estabilizar os preços dos alimentos. Entretanto, um cenário de crise torna todo o processo, desde a produção até o consumo final, mais caro, chegando aos preços observados nos mercados.
“É uma política que privilegia a exportação sem estabelecer políticas agrícolas que controlem o consumo interno, seja estimulando um aumento da produção ou exportando menos; era o que a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) deveria conseguir fazer neste cenário. Existem outros elementos que se somam a conta, como a alta da gasolina e da energia elétrica que fazem parte do processo de distribuição e armazenamento dos alimentos”.
Segundo o IBGE, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial de inflação no Brasil, fechou 2024 ficou em 4,83%, acima do teto da meta estipulada para o ano, de 3% e tolerância de até 4,5%. O grupo de alimentos e bebidas encerrou o ano com aumento de 7,69%. Em 2023, o grupo havia subido 1,03%.
Assim, com a inflação em alta, os custos dos produtores aumentam, considerando gasto com energia, combustível e logísticas, o que reflete no preço final dos alimentos.
Veja também nosso vídeo sobre inflação!
Alta demanda para pouca oferta
Além do efeito da inflação nas commodities e a desvalorização da moeda, outro fator que impacta no aumento dos preços é a Lei da Oferta e Demanda, desenvolvida por Adam Smith.
De acordo com Smith, o preço de uma mercadoria seria regulado com base na “quantidade efetiva colocada no mercado (oferta) e a demanda daqueles que estão dispostos a pagar pelo preço total do produto, considerando o trabalho para a sua produção e o lucro a ser pago para colocá-lo no mercado”.
O conceito, criado ao longo do século XVIII, ainda se mostra atual. Em 2024, houve uma queda no desemprego, que marcou a faixa de 6%. Embora seja um índice positivo, isso também contribui para o aumento do preço dos alimentos, conforme afirma André Braz, coordenador de Índices de Preços da FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas). A maior busca por alimentos, associada a uma oferta menor, tende a elevar os preços.
Quais alimentos estão mais caros?
Dentre os alimentos que mais puxaram a inflação em janeiro de 2025, estão alimentos como:
- Abobrinha;
- Maracujá;
- Cenoura;
- Tomate;
- Melancia;
- Café;
- Laranja;
- Cebola;
- Azeite de oliva;
- Abacate;
- Óleo de soja;
- Peixe;
- Frango;
- Diversos cortes de carne bovina.
Como apresentado acima, fatores climáticos, desvalorização do real e aumento da demanda interna são os principais fatores para a alta no preço desses produtos.
O aumento do preço da carne, por exemplo, pode ser explicado pela menor oferta dos produtos, pois devido ao clima seco, menor quantidade de animais abatidos para o mercado interno e o aumento das exportações. O clima seco, afeta o pasto necessário para engordar o gado, logo, gera escassez na cadeira produtiva do alimento, levando ao cenário de redução de mercadoria disponível.
O que é possível fazer para baratear os alimentos?
Apesar de fatores externos influenciarem a dinâmica de preços, o governo estuda algumas medidas para mitigar o problema. Dentre eles estão a redução de juros para produtores e o controle de tarifas de importação/exportação, além de possíveis mudanças nas regras do vale-refeição e do vale-alimentação.
Não há consenso sobre a eficácia ou ineficácia dessas medidas, no entanto, a tendência de alta no preço dos alimentos não deve melhorar no curto prazo, principalmente em meio ao avanço das mudanças climáticas. Por isso, defende-se que é preciso tomar iniciativa quanto antes.
“Não existe uma fórmula mágica para baratear o preço dos alimentos, isso vai depender de políticas em diferentes segmentos, e mais de médio e longo prazo”, diz André Braz, em entrevista à BBC News Brasil.
O economista também sugere medidas como:
- Barateamento do custo de transporte da produção agrícola;
- Aproveitar melhor as safras e evitar desperdícios;
- Incentivar o pequeno produtor rural, que produz culturais fundamentais como feijão.
E aí, entendeu o que influencia o aumento no preço dos alimentos? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!
Publicado oficialmente em 10/08/2021, atualizado em 10/02/2025.
Referências:
- Agência Brasil – Clima, dólar e preço da carne explicam inflação acima da meta em 2024
- Aos Fatos – Por que o preço dos alimentos está subindo no Brasil?
- BBC News Brasil – Medidas para baratear comida demoram e não beneficiariam Lula neste mandato, diz economista
- Bora Investir – Como a alta do dólar afeta o bolso do brasileiro no dia a dia?
- CNN Brasil – Inflação de alimentos dói mais no bolso das famílias mais pobres; entenda
- CNN Brasil – Inflação: preço das carnes sobe 5,8% em outubro; entenda por que alimento está mais caro
- CNN Brasil – Quando a alta do dólar vai afetar o bolso dos brasileiros? Veja principais pontos
- Folha de S.Paulo – Preço dos alimentos ofusca aumento da renda no Brasil e trava poder de compra
- SILVA, J. G. da; TAVARES, L. Segurança alimentar e a alta dos preços dos alimentos: oportunidades e desafios
- Terra – Custo do alimento: veja quais itens tiveram maior aumento de preço no País
- Uninter – Mudanças climáticas e o aumento do preço dos alimentos.