O que diz a linguagem corporal dos líderes das três maiores forças políticas? O perfil de Luís Montenegro, Pedro Nuno Silva e André Ventura
Três figuras, três perfis: O de quem tem medo de "perder o controlo" ou de "ser percebido como ignorante ou inferior", o que "decide por impulso" e aquele que exibe um "comportamento sedutor e aparentemente amigável" que não é inocente.


A comunicação vai muito além daquilo que dizemos ou da forma como nos apresentamos. Por vezes, há pequenas mensagens escondidas na nossa forma de comunicar, ou seja, na nossa linguagem corporal. A pensar nestas nuances da comunicação, e no âmbito das eleições legislativas marcadas para dia 18 de maio que se aproximam a passos largos, a Marketeer recorreu ao conhecimento de Alexandre Monteiro, especialista em linguagem corporal e profiler, de forma a traçar o perfil de cada um dos líderes partidários com assento parlamentar.
Antes de conhecermos o perfil de cada um deles, neste artigo focamo-nos primeiro nos líderes das três forças políticas com maior representação política na Assembleia da República: Luís Montenegro, Pedro Nuno Santos e André Ventura.
Mas como se elabora um retrato destes? De acordo com Alexandre Monteiro, “a forma mais eficaz de conseguir traçar um perfil comportamental é fazer uma leitura multidisciplinar”, que abrange a “linguagem corporal, comunicação não verbal e verbal” e, só depois, “perceber o perfil comportamental predominante”. Tudo isto é lido pela postura da pessoa a observar, “pelos gestos, expressões faciais, tom de voz, verbos e adjetivos que usa no dia a dia e como reage em stress”.
Alexandre Monteiro, autor de livros como “O Poder de Conquistar e Influenciar Pessoas” ou “Torne-Se Um Decifrador De Pessoas”, revela que é possível “prever quais os valores fundamentais, motivações, objetivos e quais os maiores receios”.
“O avaliar do comportamento normal ou o piloto automático revela muita informação sobre essência da pessoa. O método é simples e consiste em conhecer a pessoa pela forma como ela se comporta em contextos profissionais e sociais e online pelo que coloca nas redes sociais. Em comportamentos que pensamos ser normais, podemos descobrir muito sobre a pessoa”, afirma o especialista.
Vamos aos perfis?
Luís Montenegro: o medo de “perder o controlo” e de “ser percebido como ignorante ou inferior”
Comecemos pelo primeiro-ministro e presidente do PSD desde 2022, Luís Montenegro. Alexandre Monteiro destaca o “discurso claro, conciso e breve” que “revela pragmatismo”.
“Quer exibir uma postura dura e fechada, no entanto tem uma comunicação emocional pela quantidade de expressões faciais que faz quando confrontado ou quando não concorda, não conseguindo manter a compostura”, detalha.
A linguagem verbal usada afirmativa, fazendo mais afirmações do que questões: “Inclina-se para a frente, entra nos locais com o queixo levantado, sorri ao falar, tem tendência a mover a mão na vertical, faz movimentos como se fosse cortar o ar ou com as palmas das mãos para baixo, faz contacto visual firme e intenso, postura direita e pés afastados, enruga a testa frequentemente, fala a uma velocidade constante e faz pausas, não inclina a cabeça para o lado, nem acena ao ouvir. Em tensão aumenta o volume da voz para controlar.”
Outra característica da comunicação não verbal de Montenegro é o falar “com as mãos voltadas uma para outra de forma a vincar a sua opinião e não aceitar as dos outros”. Além disso, usa com frequência o gesto de precisão feito com os dedos, unindo o indicador e polegar com os restantes dedos fletidos. Este gesto é feito “normalmente por pessoas que gostam de certeza e precisão”.
O “sorriso irónico porque começa rápido e acaba rápido” também é destacado assim como o “relógio grande e analógico, punhos específicos para as camisa” que são “sinal de que se preocupa com status e poder”.
“Mais do que dois terços do tempo da conversa é sobre ele ou sobre os seus feitos”, afirma Alexandre Monteiro. No que respeita à imagem, “a forma como se veste e as cores que usa nas gravatas indica que está a ser acompanhado por consultoria de imagem”.
“Para transmitir uma impressão de confiança, confiabilidade e calma usa a verde, vermelho para o poder e azul para credibilidade. A mais habitual é azul que é predominante de forma a emitir confiança e credibilidade”, remata o especialista.
Tudo isto resulta num perfil “racional, objetivo e procura poder” em que denota que “prefere falar a ouvir” e “pode parecer rude ou agressivo, no entanto é devido a querer emitir autoridade de forma compensada”.
Segundo o profiler, o presidente do PSD é “contundente e valoriza muito as suas próprias opiniões”, focado na tarefa, podendo “ser impaciente e direto”.
“A sua franqueza é percebida como tendo falta de empatia, falta de sensibilidade, pouco interessado devido às conversas curtas e que os seus comentários rápidos revelam rudez e frieza. Focam-se em resultados, não se interessando tanto com a ligação humana”, afirma o especialista.
Alexandre Monteiro afirma ainda que o maior medo do líder social-democrata “é perder o controlo, podendo ter um comportamento mais agressivo com o outro, acusando-o e confrontando”, ainda que, “passado pouco tempo, atua como se não tivesse acontecido nada”.
“Gosta de reconhecimento, ter o poder e adora ganhar mais do que qualquer outra coisa. Sente-se importante e confiante e é vaidoso. Sarcástico, inferioriza a inteligência da outra pessoa. Gosta de corrigir com a intenção de rebaixar, mas não gosta de arriscar e tem dificuldades de adaptação às mudanças. Tenta ser rigoroso e demora muito a tomar decisões. Controla as emoções visto ser uma pessoa mais expansiva que se gosta de mostrar. Atrai a atenção para fora do problema, foca-se noutras coisas”, descreve ainda.
Por fim, o “decifrador de pessoas”, aponta que Montenegro “não quer confrontos a não ser que se sinta seguro ou superior” e caso “isto não aconteça fica em silêncio ou tende a sabotar”. Outros pontos fracos do primeiro-ministro são o “medo de ser percebido como ignorante ou inferior”, sentindo-se ameaçado quando tal acontece. O presidente do PSD é ainda “inseguro com pessoas mais poderosas, visto ter posturas de submissão quando está perante as mesmas, como baixar a cabeça, posições cruzadas e colocar as mãos as frente dos genitais, especialmente com outros lideres mundiais”, conclui Monteiro.
Sendo este o perfil de Luís Montenegro, é de destacar que a sua linguagem corporal mudou desde as últimas eleições. O primeiro-ministro apresenta-se agora “mais calmo, mais seguro e a resguardar-se mais” comparativamente com o período de campanha para as eleições legislativas de 2024.
Pedro Nuno Santos: “O seu maior medo é não agradar” e “decide por impulso”
Passando à oposição, Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS também é visto à lupa por Alexandre Monteiro que destaca como o socialista “fala muito rápido, com uma entoação demasiado melódica”.
“Faz muitos gestos com as mãos e os braços, partilha e manifesta emoções, e muitas expressões faciais de alegria e de tristeza, o tom de voz é alto, o diálogo é focado nas pessoas e nas relações, ri e sorri, faz movimentos rápidos, não fica quieto por muito tempo no mesmo sítio, entra nos locais com o queixo levantado e tenta cumprimentar o maior número de pessoas”, começa por apontar o especialista.
Já o “contacto visual é inconstante, ilustra com as mãos o que está a dizer, as posturas são quase sempre abertas, acena muito com a cabeça ao ouvir e quando está tenso grita” e fala com as “mãos na zona do peito e cabeça”, tudo “comportamentos de pessoas mais emocionais”.
Outro detalhe da comunicação do “enfant terrible” do PS – como chegou a ser denominado – é o apontar com o dedo indicador com frequência o que indica um perfil mais autoritário, o querer “mais elogios e agradecimento do que normalmente a situação requer” e “quando faz qualquer coisa quer ser elogiado ou gratificado, mais do que é necessário”.
Quanto à imagem, destaca-se a “forma como se veste e as cores que usa nas gravatas”, com a verde, castanha e vermelha a serem usadas “nas ocasiões em que quer mostrar poder”. Outro apontamento é o facto de não usar relógio regularmente o que indica uma “fraca gestão de prioridades e tempo”.
“Sorri de forma verdadeira quando interage com as pessoas, toca, abraça o que revela que gosta de interação com pessoas”, conclui Alexandre Monteiro.
Todos estes comportamentos e sinais revelam o perfil de uma pessoa emocional, sendo que pessoas com este perfil “agem por impulso, não gostam de repetir tarefas, de burocracia ou de delegar, querem decidir rápido e estão dispostos a correr riscos”. Pedro Nuno Santos é entendido por Alexandre Monteiro como “consciente do tempo”, que ´”confia nos seus instintos e não tem receio de conflitos”, mas “tem necessidade acima do normal por atenção”.
“Gosta de ser o centro das atenções. Adora ser ouvido, por este motivo gosta mais de falar do que de ouvir. Quando fala sobre as outras pessoas ou temas que não são do seu interesse, fica frustrado, raivosos, fala alto, muda o tema repentinamente e acusa”, detalha o especialista. Por outro lado, “gosta de inovar, é espontâneo, criativo e entusiasta”.
O especialista descreve ainda este perfil como de alguém que “toma as decisões guiado por instintos ou por sentimentos, não tem tendência a seguir regras rígidas, aceita bem as exceções”, mas é impaciente. “Tende a ser distraído e não gosta de detalhes, preferindo arrepender-se”, afirma, revelando que Pedro Nuno Santos “demonstra rebeldia” e “só tem uma forma de resolver os problemas: a sua”.
Além disso, tem “pensamento rápido, mas não analítico” e “descarta responsabilidades”. Monteiro afirma ainda que “não deixa o outro falar com medo de perder a atenção e perde o foco analítico, ficando facilmente emocional”.
“Gosta que os outros sejam emocionalmente honestos, amigáveis, tenham senso de humor e, acima de tudo, reconheçam as suas conquistas”, detalha o especialista acrescentando a “necessidade de holofote e ser popular, ser supersticioso e costuma exagerar”.
No caso de Pedro Nuno Santos, o “maior medo é não agradar”, acabando por decidir “por impulso e porque gosta da pessoa”. O secretário-geral do PS é ainda descrito como “comunicativo” e “interessado em desenvolver ótimos relacionamentos”, é “agradável e prefere temas pessoais a profissionais”, e “em situação de stress, tende a culpar o outro e a usar emoções extremas para reagir, criando dramatizações”.
Notas finais: Pedro Nuno Santos, com base na linguagem corporal, é “extrovertido, fanfarrão, competitivo, superficial, mas com um ótimo senso de humor, espontâneo, gosta de rir e conversar”.
Comparativamente com as legislativas de 2024, Monteiro destaca que a linguagem corporal do socialista mudou, apresentando-se “menos agressivo, menos energético e menos confiante” numa versão “mais derrotada” em relação há um ano.
André Ventura: O “comportamento sedutor e aparentemente amigável” que não é inocente
Chegamos ao líder do Chega, um homem entendido por Alexandre Monteiro como “o mais inteligente de todos os líderes” na forma como comunica, tanto “verbal como não verbal, seja em discursos, seja no parlamento”. Esta comunicação não é, no entanto, genuína: “é consciente, trabalhada”.
Em relação ao último ano André Ventura “tem uma estratégia diferente”, mesmo em relação aos jornalistas. Antes “era mais combativo e rebelde, interrompendo múltiplas vezes, e agora deixa-se interromper para se vitimizar e servir de mártir”, dando a ideia de que não o deixam falar.
Quanto à linguagem corporal, o líder do Chega “exibe comportamento sedutor e aparentemente amigável, usando o nome da pessoa com uma frequência acima do normal”. Usa ainda a serenidade controlada e as emoções “para conquistar, técnica chamada de familiaridade excessiva, um comportamento manipulativo”.
“Quando conhecemos alguém, tendemos a ser mais retraídos e mais reservados, a familiaridade excessiva não é normal numa fase inicial”, destaca o especialista. Alexandre Monteiro aponta ainda para as sobrancelhas horizontais que revelam “uma pessoa que não gosta de conflitos de forma natural” e que “a energia de confronto que emite é trabalhada e não natural”.
Outro detalhe da sua comunicação é o Wtoque repetitivo na cara e nas articulações das mãos [que] revela ansiedade” e “ao falar, coloca mão na mesa”, revelando um “comportamento de poder e necessidade de controlo”.
“O interromper frequentemente, não sendo uma técnica para destabilizar os adversários e quebrar os raciocínios, revela que não se sente seguro da sua competência ou valor. Ao falar projeta a língua com frequência, um comportamento manipulador: pessoas que o fazem tendem a aumentar, distorcer e ocultar a verdade”, afirma o profiler.
No que respeita à imagem, usa gravatas de cor amarela e laranja: “As pessoas que usam laranja são alegres, otimistas, enérgicas e abertas a mudança, também são ambiciosos e prudentes. A amarelo está associado à felicidade e ao rir. Aqueles que o usam são sonhadores, exploradores, ativos.”
Todas estas características resultam num perfil de alguém que é “direto, que vai direto ao assunto, duro, agressivo ou dominador e empreendedor e alguém que faz as coisas acontecerem”. Monteiro destaca ainda que este perfil é “muito competitivo”, que tem “raciocínio rápido e no seu processo de decisão tem boa autoestima e sente que está em domínio e controlo”.
“É racional, mas usa as emoções. Gosta de confrontar e pressionar na tomada de decisões, além de ser criativo e obsessivo, pronto para explorar e conquistar novos desafios”, descreve o especialista.
Por outro lado, “recusa responsabilidades quando está a discutir sobre algo que correu mal ou sobre as próprias ações”. No conteúdo verbal procura ser “especial, único e salvador moral pelos temas emocionais a que se refere”, sendo que a propaganda apela aos sentimentos, competência e apela às soluções técnicas”.
Destaque ainda para o facto de muitas vezes fugir “a boca opara a verdade com ‘eu vou’; ‘eu decidi’ e só depois corrige para ‘nós'”.
Quem detém este perfil, quando contrariado, responde “com raiva ou até com violência verbal ou não verbal”, é alguém que “vai à luta e confronta emocionalmente”.
“Tem sentimentos de superioridade o que o faz desdenhar regularmente as coisas ou situações. Não gosta de ser pressionado, mas gosta de pressionar. Critica muito o outro, especialmente com explosões emocionais e gosta de ser o centro das atenções, tendo tendência para o egocentrismo”, afirma Alexandre Monteiro.
A terminar, concluir que o perfil de André Ventura aponta para alguém com “necessidade de admiração exagerada”, alguém que “responde mal quando perde”, procurando “antecipar o futuro” e “provocar mudanças radicais para controlar”. O líder do Chega é entendido como alguém que não gosta de perder tempo, “tudo é urgente e para já”, que “quer controlar todas as atividades” e “não deixa o outro falar com medo de perder a atenção”.
“Está mais interessado em chegar à sua solução do que à melhor solução e mente mais para parecer bem. Dizer-lhe que está mal, não sabe ou não percebe, é o seu maior medo”, remata o especialista.