O que bebês reborn ensinam sobre pertencimento e estratégia digital
Fui tomar café com dois amigos semana passada. Começamos falando de trabalho, passamos pelas fofocas do algoritmo do mercado e, no segundo baldinho, já estávamos rindo alto sobre um assunto que parecia piada: licença-maternidade para quem cuida de bebê reborn. Rimos. Muito. Mas no caminho de volta pra casa, ainda rindo em pensamento, me peguei pensando: por que isso viralizou tanto? O que esse comportamento revela sobre a gente e sobre o nosso tempo? Acredito... O post O que bebês reborn ensinam sobre pertencimento e estratégia digital apareceu primeiro em Meio e Mensagem - Marketing, Mídia e Comunicação.


(Crédito: Reprodução/Instagram)
Fui tomar café com dois amigos semana passada. Começamos falando de trabalho, passamos pelas fofocas do algoritmo do mercado e, no segundo baldinho, já estávamos rindo alto sobre um assunto que parecia piada: licença-maternidade para quem cuida de bebê reborn.
Rimos. Muito. Mas no caminho de volta pra casa, ainda rindo em pensamento, me peguei pensando: por que isso viralizou tanto? O que esse comportamento revela sobre a gente e sobre o nosso tempo? Acredito que muito e resolvi trazer esse triplex de pensamentos para a coluna desse mês.
Baldinho 1: o parto reborn e a viralização de um post antigo
Antes de tudo, bora deixar todo mundo na mesma página. Se você não viu, te atualizo rapidinho. Em abril, uma influenciadora fez uma live com mais de 80 mil pessoas assistindo ao parto simulado de um bebê reborn. Com direito a maca, batimentos cardíacos falsos e aplausos. O vídeo virou meme, notícia e, claro, virou audiência.
O vídeo que reacendeu tudo, antes, veio da influenciadora Sweet Carol, que simulou um parto de bebê reborn com jaleco, trilha sonora dramática e uma maternidade cenográfica. A publicação viralizou agora, mas na verdade foi gravada há quase um ano, como ela mesma contou aqui.
O vídeo explodiu depois que foi resgatado por páginas de entretenimento e perfis de memes. A criadora ficou surpresa com o tom dos comentários, muitos debochados, mas também surpresa com o volume de gente que se identificou, compartilhou e defendeu a maternidade reborn como um “ato de afeto”.
E aí entramos em outro ponto importante: a força dos encontros e das comunidades reborn. No mês passado, aconteceu em São Paulo o Encontro Nacional de Mães Reborn, reunindo cuidadoras, colecionadoras e interessadas nesse universo simbólico. Teve desfile de bebê no colo, carrinhos, fraldas RN, roupinhas combinando, lembrancinha de maternidade e até “certidão de nascimento”.
Tem mais: na mesma semana, a Câmara de Vereadores de Nova Iguaçu (RJ) aprovou o projeto que cria o “Dia da Cegonha Reborn”, com o objetivo de valorizar a maternidade simbólica e a inclusão das cuidadoras reborn. Não é brincadeira, tá no Diário Oficial.
Se antes parecia uma piada de internet, agora fica claro: é uma comunidade organizada, com rituais, linguagem própria e pertencimento. E comunidade é influência com lastro. O bebê pode até ser de silicone, mas a conexão entre as pessoas é absolutamente real.
Baldinho 2: o algoritmo é o novo útero
Se um vídeo antigo viraliza um ano depois, é porque o algoritmo está respondendo a um desejo coletivo não atendido. Hoje, os reborns ocupam um espaço entre o lúdico e o terapêutico, quase como uma simulação de vínculo num mundo em que o afeto anda cada vez mais instável e escasso. Nota mental: Talvez o fenômeno reborn não seja um surto, mas um jeito de inventar cuidado em tempos duros (cabe mais um artigo de reflexão aqui nesse ponto).
Não é só sobre brincar de boneca. É sobre rotina, cuidado, controle e, acima de tudo, pertencimento a um grupo que não julga e que valida a experiência simbólica.
E se isso acontece com um boneco, imagina o que não pode acontecer com uma marca que entende onde mora o afeto? Esse comportamento ensina muito para quem trabalha com marca, influência e cultura digital. Porque no final do dia, o que engaja não é só entretenimento, é a comunidade. Ou seja, o valor não é só sobre o produto, mas sobre o ritual que ele ativa. Se tem rotina, símbolo e afeto, tem muito potencial de narrativa.
Talvez seja a hora das marcas pararem de perguntar apenas “qual é o meu público?” e começarem a se questionar também: “quem me reconhece como parte da sua rede de afeto?”
Porque no mundo do reborn, e fora dele, o que fideliza não é a oferta, é o vínculo.
E no fim das contas, quem não entende de afeto não entende de influência. E quem não constrói pertencimento só ocupa espaço.
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