Norma para saúde no trabalho é atualizada: a NR1 trará impactos muito além da legislação

Lives e eventos sobre a atualização da Norma Regulamentadora Nº1 estão acontecendo por toda parte. Advogados, médicos e psicólogos orientam profissionais de RH sobre a nova exigência legal, que entra em vigor no próximo dia 25 de maio.

O foco regulatório e o olhar psicossocial do tema fazem sentido. Mas, quando a poeira baixar, a verdadeira mudança estará em outros dois campos de conhecimento: o fortalecimento da cultura organizacional e o desenvolvimento das lideranças.

NR1: obrigação ou oportunidade?

A nova versão da NR1 adiciona ao gerenciamento de riscos ocupacionais o cuidado com fatores psicossociais do trabalho. Em outras palavras, as empresas precisarão adotar práticas para prevenir o adoecimento mental dos funcionários. Quem não cumprir pode sofrer penalidades que vão de multas até a interdição das atividades.

Mas o que está por trás de casos de burnout, estresse, depressão e ansiedade? Ambientes tóxicos, sobrecarga de trabalho, assédio, discriminação, preconceito e outras práticas de gestão. A nova norma obriga as empresas a enfrentarem esses problemas de forma mais direta.

Mas, quando surge uma regulação, muitas organizações seguem um caminho comum: fazer apenas o mínimo necessário para evitar punições. Criam controles e relatórios que funcionam para auditorias, mas não mudam a realidade do dia a dia.

Há, no entanto, um outro caminho. Encarar a NR1 como um impulso para mudanças reais e investir nos dois fatores que verdadeiramente constroem um ambiente de trabalho saudável: o fortalecimento da cultura organizacional e o desenvolvimento da liderança.

A cultura organizacional é a raiz do problema – e da solução

A cultura de uma empresa define os comportamentos aceitos e os não tolerados. Mas pode haver um grande abismo entre os valores declarados e a realidade das organizações.

Muitas empresas pregam discursos inspiradores, mas, na prática, reforçam ambientes altamente competitivos, que pressionam os profissionais a fazer mais com menos. O resultado? Sobrecarregam equipes, aumentam a rotatividade e, inevitavelmente, contribuem para o adoecimento mental.

Soluções com foco exclusivo em eficiência frequentemente ignoram os impactos sobre as pessoas. Crescer 10% ao ano com menos orçamento e equipes reduzidas pode parecer uma estratégia lucrativa no curto prazo, mas é insustentável.

Uma máxima da cultura organizacional diz: “Quando o que é dito e o que é praticado divergem, a prática sempre vence”. Se não houver um trabalho contínuo para transformar a cultura, qualquer controle ou iniciativa será superficial.

A liderança está preparada para esse desafio?

A cultura organizacional se materializa no dia a dia por meio da liderança. E não é preciso uma análise profunda para perceber que os principais fatores que impactam a saúde mental nas empresas – sobrecarga, assédio, falta de reconhecimento – estão diretamente ligados à forma como líderes conduzem suas equipes.

O que dizem os dados?

Relatório Top 5 Priorities for HR Leaders in 2025 – Gartner

• 75% dos líderes de RH afirmam que gestores estão sobrecarregados com aumento de escopo e responsabilidades.
• 70% acreditam que os líderes atuais não estão preparados para desenvolver sucessores de forma efetiva.
• Apenas 36% acham que os atuais programas de desenvolvimento de liderança realmente preparam os gestores para os desafios futuros.

Relatório Tendências Gestão de Pessoas 2025 – Great Place to Work

• Desenvolvimento de lideranças é a principal prioridade das áreas de Gestão de Pessoas em 2025, citado por 40% dos respondentes.
• Saúde mental aparece em segundo lugar, com 31% das menções.

Pesquisa Tendências da Comunicação Interna 2025 – Ação Integrada & Aberje

• Para 59% dos entrevistados, engajar lideranças como comunicadores é o principal desafio das áreas de Comunicação Interna – uma dificuldade que persiste há nove anos consecutivos.

Os números revelam uma realidade preocupante: a maioria dos líderes não está preparada para lidar com a complexidade dos desafios atuais, que envolvem entregar resultados cada vez mais desafiadores e gerenciar equipes diversas e multidisciplinares.

Se queremos ambientes mais saudáveis, as empresas precisam capacitar suas lideranças não apenas para transmitir cultura, mas para criar espaços de confiança e segurança psicológica. Isso envolve desenvolver habilidades de comunicação, inteligência emocional e influência – aspectos essenciais para o engajamento e bem-estar dos times.

Que caminhos empresas e líderes vão adotar?

Por trás do aumento dos casos de adoecimento mental, há uma epidemia silenciosa de culturas tóxicas e lideranças despreparadas.

No entanto, é plenamente possível uma organização ter resultados extraordinários e sustentáveis a partir de uma cultura saudável de alta performance, com líderes de excelência e colaboradores engajados, felizes e satisfeitos.

A legislação pode até estabelecer diretrizes, mas são componentes como o grau de maturidade de executivos, capacidade de leitura do ambiente e vontade política para realizar as mudanças necessárias que vão definir os resultados que teremos no futuro a respeito do bem-estar mental.

Se as empresas enxergarem a NR1 apenas como uma obrigação legal, perderão uma oportunidade valiosa de transformação.

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