Não havia mais ninguém?
(créditos: Expresso) Dez meses passados sobre a data em que Luís Montenegro tomou posse como primeiro-ministro do XXIV Governo Constitucional, e os seus membros investidos em funções (02/04/2024 e 05/04/2024), os portugueses tiveram direito à primeira mini-remodelação, assistindo à saída de seis secretários de Estado e à entrada de outros tantos para as vagas abertas. Não me debruço aqui sobre as razões para a saída desses e a permanência de outros, nomeadamente ministros, cujo desempenho anda paredes-meias com o sofrível. Esse é por agora problema dele e do seu partido. Dos portugueses sê-lo-á ao longo do tempo que aí virá, mas sobre isso, para valer, só se poderão pronunciar em futuras eleições. Em democracia é assim que as coisas funcionam, independentemente da crítica a que o Governo esteja exposto na sua actividade diária. Confesso, porém, que me faz muita espécie, numa altura em que acabou de ser conhecida a acusação do processo Tutti-Frutti, cujo número de arguidos atinge as seis dezenas, na maioria gente do PSD ou da sua esfera de acção – com excepção de uns laparotos tresmalhados do socratismo que continuam a ter refúgio no Largo do Rato –, e que vão de dirigentes a deputados, de autarcas a pseudo-empresários e empresários, e mais alguns peões, e sabendo-se que o tempo é implacável no desgaste da acção governativa, que o primeiro-ministro não tenha conseguido arranjar mais ninguém para substituir o empreendedor Hernâni Dias, digo, ex-secretário de Estado e ex-autarca, que não fosse o homem que, também numa autarquia, e no curto período em que nas últimas décadas não esteve como deputado, fez [Error: Irreparable invalid markup ('ajustes directos de mais de 200 mil euros à sociedade de advogados de que era sócio. Presumo que, embora a acusação do processo Tutti Frutti tivesse sido notificada ao PSD, que o primeiro-ministro não tenha tido tempo para ler o que lá está. Acredito, porém, que haverá alguém na sede do PSD que o terá feito. E certamente que lhe disseram que grande parte dos factos constantes da acusação, e que se reportam às moscambilhas e crimes imputados aos arguidos, pessoas com percursos político-partidários em tudo semelhantes ao dele, se reporta exactamente a ajustes directos em autarquias geridas pelo PSD (com excepção de uma junta de freguesia do PS, salvo erro). Verdade ou não, e da culpa ou não de cada um saber-se-á mais tarde, está lá tudo abundantemente descrito e suportado em múltiplas provas que serão carreadas para julgamento. Escutas, mensagens telefónicas, emails, tudo numa linguagem tão colorida e com tantos erros que fiquei com dúvidas se aquela gente que dirigiu a JSD, que ajudou Passos Coelho e Montenegro a chegarem à liderança e ao Governo, a Moedas a ser presidente do município lisboeta, e entrou no Conselho Nacional do PSD, em assembleias municipais, na Assembleia da República, presidindo a juntas de freguesia, ocupando lugares em vereações, chegou algum dia a concluir a escolaridade obrigatória. Dúvidas que aumentaram ontem quando soube da posição assumida pelo deputado e autarca da Junta de Freguesia da Estrela, Luís Newton, que certamente não terá compreendido o que consta da acusação do processo Tutti-Frutti. Bem sei que quase toda esta rapaziada das "jotas" nunca trabalhou na vida, andando sempre encostada aos partidos para sobreviver, e que desta vez o Presidente da República não se apressou a "meter veneno" e a pedir a cabeça dos arguidos, como fez noutras situações, só que a acusação não é mera “percepção” e o sujeito está acusado da prática em co-autoria de 4 crimes de prevaricação e 1 de corrupção passiva, e da prática em autoria de mais 1 crime de corrupção passiva agravado, de 3 crimes de corrupção passiva e de 1 crime de prevaricação. Só por iliteracia e manifesta incompreensão sobre a importância e o papel inerente aos cargos que desempenha, e o seu relevo para a confianca pública nas instituições e nos actores políticos, é que se pode compreender que ao fim de mais de uma semana da acusação ser conhecida se mantenha em funções, não tendo ainda apresentado a renúncia ao mandato de deputado na AR e continue como presidente da Junta de Freguesia da Estrela. Com uma suspeição desconcertante, crescente, diária e quase permanente sobre a classe política e os autarcas – já se sabe que pelo pecador paga o justo –, sobre a integridade dos actores políticos e com múltiplos processos e investigações em curso, será legítimo perguntar se o primeiro-ministro não tinha mais ninguém para escolher para a Secretaria de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, expondo-se de forma tão pouco inteligente à crítica? Todos podemos acreditar que não há ali qualquer troca ou pagamento de favores antigos. Nem vagamente. E que o escolhido tem qualificações para o lugar, sendo política e tecnicamente competente, pessoa da sua confiança e do ministro para assumir as funções do “dispensado”. Mas não havia mesmo mais ninguém que pudesse ser nomeado pa

(créditos: Expresso)
Dez meses passados sobre a data em que Luís Montenegro tomou posse como primeiro-ministro do XXIV Governo Constitucional, e os seus membros investidos em funções (02/04/2024 e 05/04/2024), os portugueses tiveram direito à primeira mini-remodelação, assistindo à saída de seis secretários de Estado e à entrada de outros tantos para as vagas abertas.
Não me debruço aqui sobre as razões para a saída desses e a permanência de outros, nomeadamente ministros, cujo desempenho anda paredes-meias com o sofrível. Esse é por agora problema dele e do seu partido. Dos portugueses sê-lo-á ao longo do tempo que aí virá, mas sobre isso, para valer, só se poderão pronunciar em futuras eleições. Em democracia é assim que as coisas funcionam, independentemente da crítica a que o Governo esteja exposto na sua actividade diária.
Confesso, porém, que me faz muita espécie, numa altura em que acabou de ser conhecida a acusação do processo Tutti-Frutti, cujo número de arguidos atinge as seis dezenas, na maioria gente do PSD ou da sua esfera de acção – com excepção de uns laparotos tresmalhados do socratismo que continuam a ter refúgio no Largo do Rato –, e que vão de dirigentes a deputados, de autarcas a pseudo-empresários e empresários, e mais alguns peões, e sabendo-se que o tempo é implacável no desgaste da acção governativa, que o primeiro-ministro não tenha conseguido arranjar mais ninguém para substituir o empreendedor Hernâni Dias, digo, ex-secretário de Estado e ex-autarca, que não fosse o homem que, também numa autarquia, e no curto período em que nas últimas décadas não esteve como deputado, fez
(créditos: Expresso)
Dez meses passados sobre a data em que Luís Montenegro tomou posse como primeiro-ministro do XXIV Governo Constitucional, e os seus membros investidos em funções (02/04/2024 e 05/04/2024), os portugueses tiveram direito à primeira mini-remodelação, assistindo à saída de seis secretários de Estado e à entrada de outros tantos para as vagas abertas.
Não me debruço aqui sobre as razões para a saída desses e a permanência de outros, nomeadamente ministros, cujo desempenho anda paredes-meias com o sofrível. Esse é por agora problema dele e do seu partido. Dos portugueses sê-lo-á ao longo do tempo que aí virá, mas sobre isso, para valer, só se poderão pronunciar em futuras eleições. Em democracia é assim que as coisas funcionam, independentemente da crítica a que o Governo esteja exposto na sua actividade diária.
Confesso, porém, que me faz muita espécie, numa altura em que acabou de ser conhecida a acusação do processo Tutti-Frutti, cujo número de arguidos atinge as seis dezenas, na maioria gente do PSD ou da sua esfera de acção – com excepção de uns laparotos tresmalhados do socratismo que continuam a ter refúgio no Largo do Rato –, e que vão de dirigentes a deputados, de autarcas a pseudo-empresários e empresários, e mais alguns peões, e sabendo-se que o tempo é implacável no desgaste da acção governativa, que o primeiro-ministro não tenha conseguido arranjar mais ninguém para substituir o empreendedor Hernâni Dias, digo, ex-secretário de Estado e ex-autarca, que não fosse o homem que, também numa autarquia, e no curto período em que nas últimas décadas não esteve como deputado, fez ajustes directos de mais de 200 mil euros à sociedade de advogados de que era sócio.
Presumo que, embora a acusação do processo Tutti Frutti tivesse sido notificada ao PSD, que o primeiro-ministro não tenha tido tempo para ler o que lá está. Acredito, porém, que haverá alguém na sede do PSD que o terá feito. E certamente que lhe disseram que grande parte dos factos constantes da acusação, e que se reportam às moscambilhas e crimes imputados aos arguidos, pessoas com percursos político-partidários em tudo semelhantes ao dele, se reporta exactamente a ajustes directos em autarquias geridas pelo PSD (com excepção de uma junta de freguesia do PS, salvo erro).
Verdade ou não, e da culpa ou não de cada um saber-se-á mais tarde, está lá tudo abundantemente descrito e suportado em múltiplas provas que serão carreadas para julgamento. Escutas, mensagens telefónicas, emails, tudo numa linguagem tão colorida e com tantos erros que fiquei com dúvidas se aquela gente que dirigiu a JSD, que ajudou Passos Coelho e Montenegro a chegarem à liderança e ao Governo, a Moedas a ser presidente do município lisboeta, e entrou no Conselho Nacional do PSD, em assembleias municipais, na Assembleia da República, presidindo a juntas de freguesia, ocupando lugares em vereações, chegou algum dia a concluir a escolaridade obrigatória.
Dúvidas que aumentaram ontem quando soube da posição assumida pelo deputado e autarca da Junta de Freguesia da Estrela, Luís Newton, que certamente não terá compreendido o que consta da acusação do processo Tutti-Frutti.
Bem sei que quase toda esta rapaziada das "jotas" nunca trabalhou na vida, andando sempre encostada aos partidos para sobreviver, e que desta vez o Presidente da República não se apressou a "meter veneno" e a pedir a cabeça dos arguidos, como fez noutras situações, só que a acusação não é mera “percepção” e o sujeito está acusado da prática em co-autoria de 4 crimes de prevaricação e 1 de corrupção passiva, e da prática em autoria de mais 1 crime de corrupção passiva agravado, de 3 crimes de corrupção passiva e de 1 crime de prevaricação. Só por iliteracia e manifesta incompreensão sobre a importância e o papel inerente aos cargos que desempenha, e o seu relevo para a confianca pública nas instituições e nos actores políticos, é que se pode compreender que ao fim de mais de uma semana da acusação ser conhecida se mantenha em funções, não tendo ainda apresentado a renúncia ao mandato de deputado na AR e continue como presidente da Junta de Freguesia da Estrela.
Com uma suspeição desconcertante, crescente, diária e quase permanente sobre a classe política e os autarcas – já se sabe que pelo pecador paga o justo –, sobre a integridade dos actores políticos e com múltiplos processos e investigações em curso, será legítimo perguntar se o primeiro-ministro não tinha mais ninguém para escolher para a Secretaria de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território, expondo-se de forma tão pouco inteligente à crítica?
Todos podemos acreditar que não há ali qualquer troca ou pagamento de favores antigos. Nem vagamente. E que o escolhido tem qualificações para o lugar, sendo política e tecnicamente competente, pessoa da sua confiança e do ministro para assumir as funções do “dispensado”. Mas não havia mesmo mais ninguém que pudesse ser nomeado para esse lugar sem levantar uma onda de desconfiança, e fazendo de novo pairar a nuvem do clientelismo, do compadrio e do favorecimento?