Multinacionais em Portugal pagam salários 61% mais altos que restantes empresas. Produtividade é superior em 57%

A produtividade e os salários médios são mais elevados nas multinacionais a operar em Portugal face às restantes empresas. A conclusão é de um estudo publicado pelo Banco de Portugal, que revela ainda diferenças nestes indicadores entre as multinacionais estrangeiras e portuguesas em alguns dos principais setores económicos. Um estudo publicado na Revista de Estudos […]

Abr 22, 2025 - 08:07
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Multinacionais em Portugal pagam salários 61% mais altos que restantes empresas. Produtividade é superior em 57%

A produtividade e os salários médios são mais elevados nas multinacionais a operar em Portugal face às restantes empresas. A conclusão é de um estudo publicado pelo Banco de Portugal, que revela ainda diferenças nestes indicadores entre as multinacionais estrangeiras e portuguesas em alguns dos principais setores económicos.

Um estudo publicado na Revista de Estudos Económicos do Banco de Portugal (BdP), com base em dados de 2014 a 2022, conclui que as multinacionais, em média, pagam salários médios quase 61% mais elevados, são cerca de 57% mais produtivas, utilizando a produtividade do trabalho, e 65% utilizando a receita por trabalhador.

Ana Cristina Soares e Tiago Serrano, autores do estudo, assinalam também que o prémio salarial médio das multinacionais tende a ser “mais pronunciado” nos principais setores de outros serviços, do comércio a retalho e por grosso e da construção, atingindo valores superiores a 65%.

No caso da indústria transformadora e da eletricidade, água e transportes, estes valores são inferiores a 42%, “o que sugere que os trabalhadores podem beneficiar relativamente menos nestes setores com a presença de multinacionais”.

Prémio salarial das multinacionais tende a ser “mais pronunciado” nos principais setores de outros serviços, do comércio a retalho e por grosso e da construção, atingindo valores superiores a 65%.

Já o prémio de produtividade associado às multinacionais situa-se entre 35 e 73% e tende a ser mais elevado na construção, enquanto na indústria transformadora é um dos mais baixos.

Embora ambas registem desempenhos superiores na produtividade e nos salários face à outras empresas, existem diferenças consoante a detenção do capital. Os autores do estudo indicam que as multinacionais portuguesas pagam salários médios cerca de 48% mais elevados do que aqueles pago por empresas não multinacionais e são 39% mais produtivas. No entanto, o prémio das estrangeiras chega aos 68%, sendo 73% mais produtivas do que as empresas não multinacionais.

“Este resultado sugere que as EMNs [multinacionais] estrangeiras podem ter um desempenho superior ao das EMNs portuguesas”, consideram.

Multinacionais portuguesas pagam salários cerca de 48% mais altos do que aqueles pago por empresas não multinacionais, contra prémio das multinacionais estrangeiras de 68%.

Os economistas indicam que os prémios das multinacionais estrangeiras e portuguesas são estatisticamente diferentes a 1% para a produtividade do trabalho, os salários por trabalhador e a receita por trabalhador. Contudo, advertem que “este resultado não se verifica de forma uniforme para todos os principais setores económicos, dependendo antes da variável de interesse e do setor económico considerado“.

“Do ponto de vista de política económica, as conclusões deste estudo sugerem que as políticas industriais, fiscais ou de comércio internacional que afetem diretamente as EMNs a operar em Portugal e, em particular, as EMNs estrangeiras, podem ter implicações agregadas importantes”, defendem.

Duas em cada três multinacionais são estrangeiras

O número de multinacionais presentes em Portugal “tem vindo a aumentar de uma forma regular” entre 2014 e 2022, sobretudo estrangeiras, destacam os economistas, apontando que cerca de 3% das empresas a operar em Portugal são multinacionais, sendo dois terços detidas por entidades estrangeiras e as restantes por entidades portuguesas.

Espanha, França e Alemanha destacam-se como os países de origem predominantes das empresas-mãe das multinacionais estrangeiras, tanto em termos de número de empresas como em termos de receita correspondente”, indicam.

No retrato, os autores apontam ainda que as multinacionais estão relativamente mais presentes em setores económicos específicos, como a indústria transformadora, a eletricidade, água e transportes e também os outros serviços.

“Embora o número de EMNs com atividade em Portugal seja reduzido, estas empresas representam uma parte desproporcional da atividade económica, sobretudo nos fluxos comerciais internacionais (mais de 60% para as exportações, cerca de 60% para as importações, 50% da receita, 40% da massa salarial e 30% do emprego)”, referem.