Morreu José Brandão, “uma referência no design e na cultura em Portugal”

Criador da identidade gráfica para a melhor música de intervenção, o designer deixou também a sua marca nos livros, no cinema e no ensino. Tinha 81 anos.

Mar 28, 2025 - 18:02
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Morreu José Brandão, “uma referência no design e na cultura em Portugal”
Morreu José Brandão, “uma referência no design e na cultura em Portugal”

Desenhou a capa de alguns dos mais importantes artistas da música portuguesa, de José Afonso, Sérgio Godinho, Fausto, de filmes que marcaram a história do cinema nacional, como Kilas, o Mau da Fita ou Crónica dos Bons Malandros. O designer José Brandão, figura incontornável da cultura visual portuguesa, morreu esta quarta-feira aos 81 anos, avançou a Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, instituição onde era professor emérito desde 2017.

Nascido em Nova Iorque, em 1944, o designer tinha arte no sangue e na família, uma vez que era neto do compositor e pianista José Vianna da Motta. Começou a trabalhar cedo, em 1961, e não tardou a entrar no atelier de Daciano da Costa, um dos berços do design moderno português. Depois foi para Paris e Londres, onde aprofundou a sua formação. Regressou a Portugal em meados da década de 1970, encontrando um país a fervilhar em criatividade.

Da sua mente surgem capas de discos memoráveis como Por este rio acima (1982), de Fausto, Pano-Cru (1978), de Sérgio Godinho, e Coro dos Tribunais (1974), de José Afonso, mas também de livros – Os Passos em Volta, de Herberto Helder, ou O Triunfo dos Porcos, de George Orwell – e cartazes para o cinema português, assinando a identidade gráfica de Deus Pátria Autoridade ou Sem Sombra de Pecado.

Em 1976, foi um dos fundadores da Associação Portuguesa de Designers, organismo crucial na defesa e promoção do design nacional. E em 1982, ao lado da sua mulher, Salette Brandão, criou o B2 Atelier de Design, responsável por projectos para algumas das mais prestigiadas instituições do país, da Presidência da República aos CTT ou à Fundação Calouste Gulbenkian.

Também no ensino, deixou um importante legado uma vez que foi um dos responsáveis pela consolidação do design como disciplina académica estruturada em Portugal, tendo fundado o mestrado em Design de Comunicação na Faculdade de Arquitectura.

A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, já expressou publicamente o seu pesar, sublinhando que José Brandão “deixou uma marca profunda no design gráfico” e foi “uma referência no design e na cultura em Portugal”.

O designer foi condecorado Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2006.