Mercados aguardam dados de emprego dos EUA, após balanços das big techs e retração do PIB norte-americano; veja os destaques desta sexta-feira (2)
Brasil volta do feriado digerindo a queda de ativos brasileiros no exterior e no aguardo do Copom da próxima semana. Leia mais. O post Mercados aguardam dados de emprego dos EUA, após balanços das big techs e retração do PIB norte-americano; veja os destaques desta sexta-feira (2) apareceu primeiro em Empiricus.

Os mercados globais despertam nesta manhã em compasso de espera pelos dados de emprego dos EUA, depois de uma bateria intensa de resultados corporativos. Microsoft (MSFT34) e Meta (M1TA34) animaram o mercado na quarta-feira (30), com números robustos, mas o entusiasmo perdeu força após os balanços de Apple (AAPL34) e Amazon (AMZO34), divulgados ontem à noite (1º), que decepcionaram e continuam pressionando as ações no pre-market desta sexta-feira (2).
Curiosamente, essa fraqueza não se reflete nas demais praças globais (ou impedem alta dos futuros americanos). Os índices europeus operam em alta, amparados pela expectativa de alívio nas tensões comerciais entre Washington e Pequim. Autoridades chinesas afirmaram estar “avaliando” uma proposta americana para retomar negociações sobre tarifas — sinalizando, ainda que timidamente, que a porta para o diálogo está entreaberta. Poderia ser um dia mais expressivo nos mercados asiáticos, não fosse o fechamento de várias bolsas na região por conta de feriados locais.
Diante desse cenário, resta ao payroll americano a missão de medir o pulso real da economia. O dado ganha ainda mais relevância após a contração do PIB dos EUA no primeiro trimestre, a primeira desde 2022, impulsionada quase exclusivamente por efeitos do comércio exterior — com empresas correndo para antecipar importações antes da entrada em vigor das novas tarifas impostas por Trump. Ou seja, o mercado está atento: a foto do emprego pode dizer muito sobre a futura trajetória dos juros.
· 00:52 — Difícil acreditar
No Brasil, o mercado retorna do feriado digerindo a queda dos ADRs brasileiros, inclusive do ETF EWZ — Petrobras (PETR4), por sua vez, nadou contra a corrente — e voltando suas atenções para a decisão do Copom na próxima quarta-feira (7). A alta da Selic está contratada, o que resta saber é o tamanho do ajuste: 25 ou 50 pontos-base, e, principalmente, se será o último do ciclo ou apenas mais um movimento em direção ao desfecho. O último dado do Caged, divulgado na quarta-feira (30), mostrou uma desaceleração expressiva na criação de vagas em março, ao passo que a PNAD Contínua apontou aumento da taxa de desemprego para 7%. Esses números reforçam a percepção de que o ciclo de aperto monetário está próximo do fim, abrindo espaço para que o debate sobre corte de juros ganhe corpo — possivelmente já no final de 2025. Isso, como era de se esperar, anima os investidores. Pena que não se possa dizer o mesmo das perspectivas fiscais, que seguem se deteriorando a olhos vistos.
Na quarta-feira (30), Fernando Haddad afirmou que o governo poderá adotar novas medidas para “fortalecer o arcabouço fiscal”, caso necessário — uma fala genérica, feita ao ser confrontado com os riscos de paralisia da máquina pública em 2027, com base no que está sendo desenhado pela LDO de 2026. O governo até ensaia endurecer a execução dos gastos para 2025, mas, sejamos francos: não é nem de longe suficiente. É difícil de acreditar no ministro. A saída de Sergio Firpo, secretário responsável pela agenda de revisão de gastos no Ministério do Planejamento, é sintomática. Se até ele percebeu que o “spending review” não vai sair do PowerPoint, é porque a ideia já nasceu moribunda neste governo. E o problema, como sempre, é o tempo. Quanto mais adiarmos o ajuste, mais doloroso ele será. O filme é velho: lembra muito o fim do primeiro mandato de Dilma Rousseff. Agora, não haverá dinheiro para tudo: emendas, benefícios, crédito subsidiado, aumento real para o salário mínimo. A Constituição vai engolir o orçamento, transformando toda despesa em obrigatória, sem margem para decisões discricionárias. O cenário extremo? Um país paralisado, com gasto público travado em torno de si mesmo, sem espaço para política pública.
Nessas condições, um ajuste fiscal e orçamentário severo passa a ser, paradoxalmente, um gesto de preservação democrática. Porque se nada for feito, não importará quem vença as eleições — direita ou esquerda, todos serão meros passageiros do orçamento, condenados à inércia. O país precisará reorganizar as contas públicas de forma profunda. Ou isso, ou enfrentaremos o pior dos mundos: queda de PIB com inflação. O governo sabe disso, mas finge não saber, obcecado pelas urnas de 2026. E assim, mais uma vez, o Brasil vai sendo conduzido pela velha cartilha do populismo latino-americano, versão esquerda tradicional brasileira. 2027 será um ano de ajuste. A pergunta que fica é se 2026 trará alguém disposto a fazê-lo.
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· 01:47 — Queda de PIB
Nos EUA, os mercados começaram o mês com o pé direito: os três principais índices fecharam em alta na quinta-feira (1º), mesmo após a queda do PIB no primeiro trimestre. Parecia, ironicamente, que a fraqueza dos dados econômicos seria justamente o gatilho para interromper a sequência de perdas registrada na véspera. A economia americana contraiu 0,3% entre janeiro e março, frustrando as expectativas de crescimento de 0,4%. Mas a leitura merece nuances: o recuo foi puxado por um salto nas importações, à medida que empresas anteciparam compras para evitar o impacto das tarifas impostas pelo governo Trump. Enquanto isso, os gastos dos consumidores seguem firmes, com alta de 1,8%, sustentando o núcleo da atividade doméstica.
A reação dos mercados veio com a estabilidade do núcleo do PCE, a métrica inflacionária favorita do Federal Reserve, que se manteve inalterada em março. Isso trouxe algum alívio e devolveu tração aos ativos. Vale lembrar que, na métrica da demanda, o comércio exterior é o componente mais volátil — e o menor entre os quatro pilares do PIB. Portanto, a contração do trimestre pode (e deve) ser lida com cautela, ainda sujeita a revisões futuras. Mesmo assim, o recuo na atividade carrega uma assinatura clara: é um efeito colateral das políticas comerciais da atual administração.
Por isso, o payroll desta sexta-feira assume papel central. Não se trata apenas de mais um dado — é um termômetro de onde, exatamente, os EUA estão na cronologia típica do impacto tarifário. A lógica é conhecida: i) deterioração do sentimento; ii) retração no emprego em setores como portos e transporte, seguida pela paralisação de contratações em cadeia; iii) aceleração da inflação, corroendo o poder de compra; e iv) resposta das empresas ao enfraquecimento da demanda. Hoje, os EUA parecem estar em algum ponto entre o estágio 1 e o 2 — ainda no terreno da antecipação, mas já sentindo os primeiros sinais do impacto real. Isso, naturalmente, limita o que o relatório de emprego pode mostrar hoje, mas não o que ele antecipa sobre os trimestres seguintes. Afinal, o custo de guerras tarifárias raramente aparece de uma vez só — ele vai se infiltrando, silenciosamente, nas entranhas da economia.
· 02:33 — E os resultados?
A alta dos mercados ontem também foi impulsionada pelos fortes resultados divulgados após o fechamento de quarta-feira por duas integrantes das chamadas “Magnificent 7” — Microsoft e Meta. As gigantes da Big Tech dobraram suas apostas em investimentos estratégicos, reacendendo o entusiasmo em torno do crescimento da inteligência artificial e reforçando a tese de que o ciclo de capex em tecnologia ainda tem fôlego. Na outra ponta, os números de Apple e Amazon, divulgados ontem à noite, trouxeram um contraponto e devem pressionar os papéis no pregão de hoje, contratando uma correção. No caso da Apple, as tarifas da administração Trump podem representar um impacto de até US$ 900 milhões no próximo trimestre — uma ameaça que reforça a necessidade da empresa em acelerar sua já iniciada diversificação geográfica, como temos destacado, com a Índia ganhando protagonismo como nova base de produção.
O curioso é que a correção se dá mesmo após a Apple ter reportado seu melhor desempenho entre janeiro e março dos últimos dois anos: as vendas cresceram 5%, ultrapassando os US$ 95 bilhões. Mas nem isso impediu a frustração do mercado. O problema está nos detalhes — a receita na China veio quase US$ 1 bilhão abaixo das expectativas, o que acende um alerta sobre a perda de tração da marca no segundo maior mercado da empresa. A ascensão da Huawei e de outras fabricantes locais começa a se refletir diretamente nas linhas de receita da Apple, num momento em que a guerra comercial só amplia as incertezas. No fim das contas, o que mais chamou a atenção não foram apenas os números, mas sim o comportamento das empresas diante da incerteza global: Microsoft, Amazon e outras estão, de fato, dobrando suas apostas em nuvem e infraestrutura de TI — ou recuando? O mercado quer saber quem está apostando alto em meio ao caos, e quem está preferindo se esconder. Para hoje, o foco se volta aos próximos nomes do dia: Chevron, DuPont e Exxon Mobil.
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· 03:21 — Talvez tenhamos um caminho…
A China declarou estar “avaliando” as sucessivas aproximações dos americanos para iniciar um novo ciclo de negociações comerciais — mas deixou claro que qualquer conversa só começará se Washington remover as tarifas em vigor. A resposta de Pequim vem no momento em que o custo crescente da guerra comercial para as empresas americanas começa a ficar cada vez mais evidente, como mostrou o caso da Apple ontem. Mesmo companhias que estão tentando repatriar ou expandir sua produção nos EUA enfrentam dificuldades, devido às tarifas sobre máquinas e equipamentos importados da China. Mais de 180 empresas — incluindo Ford e Tesla — já protocolaram mais de mil pedidos individuais de isenção tarifária, o que evidencia a dissonância entre o discurso protecionista e a realidade industrial americana.
A única nota levemente positiva veio dos corredores da Casa Branca, que confirmou estar engajada em negociações comerciais com “cerca de 200 países”, lideradas pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent. A quantidade de países — que muda todo dia e nunca vem acompanhada de qualquer verificação crível — parece mais um número lançado ao vento do que um dado concreto. Mas, ao menos, é Bessent quem está à frente, e não alguém da ala mais ideológica e maluca do governo, o que já ajuda a amenizar os temores de novas rodadas de imprevisibilidade (como no começo de abril). No fim, tudo pode depender dos primeiros acordos comerciais firmados pelo governo Trump 2.0. Eles funcionarão como termômetro da racionalidade tarifária — e, se bem conduzidos, podem até servir de modelo para o que ainda está por vir. Ou, ao menos, evitar que o mercado precise precificar mais um ciclo de tiro no pé.
· 04:16 — O acordo saiu…
Ucrânia e Estados Unidos assinaram um acordo estratégico sobre minerais raros, dois meses após o constrangedor episódio de tensão pública entre autoridades dos dois países na Casa Branca. O chamado “acordo de parceria econômica” concede aos EUA acesso preferencial aos minerais de terras raras ucranianos, além de estabelecer um fundo de investimento conjunto para projetos bilaterais. O presidente Trump, que vinha pressionando abertamente por contrapartidas, enquadrou o acordo como uma forma de a Ucrânia “retribuir” a ajuda americana no esforço de contenção da invasão russa.
Até poucos dias atrás, não era sequer claro se Trump manteria o apoio militar a Kiev, já que havia rumores de um acordo de paz forçado que incluiria concessões territoriais à Rússia. O novo pacto, no entanto, sinaliza um esforço do governo americano em reafirmar seu envolvimento com os ucranianos — ainda que o real motivo por trás da movimentação seja o interesse direto nos recursos naturais. Ainda assim, menos mal…
Para a Ucrânia, pressionada economicamente e isolada diplomaticamente, o acordo representa uma tábua de salvação militar e financeira — e, talvez, uma tentativa desesperada de permanecer sob a asa de Washington num cenário global cada vez mais instável. Mas por mais lucrativo que esse entendimento seja para ambos os lados, ele não altera o impasse central do conflito: as visões de futuro de Kiev e Moscou seguem completamente irreconciliáveis. O acordo resolve uma equação de curto prazo, mas o dilema de fundo permanece sem solução — e sem prazo para se resolver.
· 05:04 — Uma alternativa interessante
O ciclo de enfraquecimento do dólar ainda está longe de dar sinais de esgotamento — e, para muita gente séria, já seria possível falar em uma possível “Golden Age of Latam”, tamanha a convergência de fatores favoráveis para a região. No Brasil, embora a valorização recente dos ativos também tenha sido ancorada em vetores externos, como o apetite renovado por risco global ex-EUA, duas dinâmicas internas devem passar a conduzir os preços de maneira mais autônoma nos próximos meses…
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