Marcha e sessão solene marcam 2º dia da 21ª edição do Acampamento Terra Livre

Com marchas, discursos e homenagem no Congresso, indígenas reforçam a luta por direitos, proteção dos territórios e protagonismo político

Abr 8, 2025 - 23:31
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Marcha e sessão solene marcam 2º dia da 21ª edição do Acampamento Terra Livre

O Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização indígena do mundo, chegou à sua 21ª edição em 2025, reunindo mais de 200 povos de todas as regiões do Brasil. Na manhã desta terça-feira (8/4), foi realizada a marcha “Apib Somos Todos Nós: Nosso Futuro não está à venda!”, que percorreu a Esplanada dos Ministérios até o Congresso Nacional. O ato reuniu milhares de indígenas com cantos tradicionais, cartazes com palavras de ordem e rituais, reivindicando direitos, políticas públicas e a demarcação de seus territórios.

  • Marcha
    Marcha "Apib Somos Todos Nós: Nosso Futuro não está à venda!". Iago Mac Cord/CB/DA.Press
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    Marcha "Apib Somos Todos Nós: Nosso Futuro não está à venda!". Iago Mac Cord/CB/DA.Press
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    Marcha "Apib Somos Todos Nós: Nosso Futuro não está à venda!". Iago Mac Cord/CB/DA.Press
  • Sônia Guajajara, ministra dos povos indígenas, estava presente na marcha.
    Sônia Guajajara, ministra dos povos indígenas, estava presente na marcha. Iago Mac Cord/CB/DA.Press

A manifestação levou para dentro do Congresso as vozes e as pautas dos povos originários, reforçando a importância da presença indígena nas decisões políticas. Foi realizada uma sessão solene no plenário da Câmara dos Deputados em homenagem à mobilização, que contou com autoridades como a ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara; a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo; a presidente da Funai, Joenia Wapichana; e a deputada federal Célia Xakriabá (PSol-MG).

"Bancada do cocar"

Na abertura da sessão, Xakriabá destacou o avanço da ocupação indígena em espaços institucionais. “Esse é o Congresso Nacional que sonhamos para o futuro. Esse é o Congresso de um Brasil que começa por nós”, afirmou, valorizando especialmente o papel das mulheres na chamada “bancada do cocar”.

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O meio ambiente foi uma das pautas centrais tanto na marcha quanto no plenário. Em seu discurso,  Guajajara ressaltou a importância dos saberes ancestrais no enfrentamento da crise climática. “O governo federal tem a responsabilidade de implementar políticas públicas, mas convidamos todos os políticos desse país a darem um pouco mais de atenção às demandas apresentadas pelos povos indígenas”, declarou.

Sessão solene contou com autoridades como a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo; a presidente da Funai, Joenia Wapichana; e a deputada federal Célia Xakriabá.
Sessão solene contou com autoridades como a ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara; a ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo; a presidente da Funai, Joenia Wapichana; e a deputada federal Célia Xakriabá.(foto: Foto: Kayo Magalhães / Câmara dos Deputados)

A violência em terras indígenas e o risco aos direitos constitucionais foram denunciados por Dinamam Tuxá, coordenador-executivo da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), que completa 20 anos em 2025. “Essa casa está se articulando e mobilizando proposituras de PECs e PLs que afrontam os direitos constitucionais dos povos indígenas. Seguiremos resistindo em nome daqueles que já tombaram e do futuro dos povos e da nação brasileira”, comentou. 

Reconhecido internacionalmente, o líder Kayapó Raoni Metuktire fez um apelo pela continuidade da luta coletiva. “Estou cada vez mais cansado, e agora essa luta é com vocês; precisam ser firmes para continuar a defesa dos nossos direitos e territórios”, disse ele.

Do lado de fora, junto à manifestação, o cacique Dioclécio da Costa, do povo Mendonça (RN), destacou o fortalecimento da presença indígena em cargos de liderança, como no Ministério dos Povos Indígenas, na Funai e na Secretaria Especial de Saúde Indígena. “Espero que a gente tenha os nossos direitos assegurados, como a demarcação territorial, uma educação escolar indígena diferenciada e a criação de mais políticas públicas para atender toda a diversidade brasileira”, apontou. Esta é a sexta vez que ele participa do ATL.

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Também presente na marcha, Lapa Yawalapiti, do Território Indígena do Xingu (MT), celebrou o fim do governo anterior, mas reforçou que os desafios persistem. “O governo Bolsonaro foi muito ruim para os povos indígenas. Quando trocou de governo mudou um pouco, mas ainda tem muito preconceito. Por isso estamos aqui manifestando por nossos direitos e para que nos respeitem.” Mesmo vivendo em território demarcado, Lapa denunciou a violência crescente em terras não homologadas, destacando os impactos diretos sobre as crianças indígenas, o futuro de seus povos.

  • Lapa Yawalapiti, do território do Xingu (MT).
    Lapa Yawalapiti, do território do Xingu (MT). Iago Mac Cord/CB/DA.Press
  • Cacique Dioclécio da Costa, do povo Mendonça (RN).
    Cacique Dioclécio da Costa, do povo Mendonça (RN). Fernanda Ghazali/CB/DA.Press

*Estagiária sob supervisão de Andreia Castro