Jogo de controle
Ao redor de uma pessoa controladora, sempre há pessoas que se beneficiam do fato de não precisar controlar nada

Eu sempre me antecipo.
Na conversa que talvez eu tenha um dia com alguém, já sei minhas falas, as do outro, entonação,
pausa, luz, câmera e…
Não. Não tem ação.
Muitas vezes, na maioria, o filme é exibido somente na minha cabeça.
Sessão exclusiva! Área VIP, pois, acreditem, além de roteirista, atriz e diretora, sou também plateia.
Tenho nomeado – para facilitar a cura é preciso nomear – de controle.
Sim, sou controladora.
Assumo. E basta eu acenar em direção a qualquer diagnóstico, que logo já acontece um tipo
de acomodação coletiva.
Sim, sou controladora. Assumo.
E acho um saco. Adoraria ir no flow, sentir a vibe, carpe diem, um dia depois do outro, gratidão e o escambau. Acreditem, ninguém sofre mais do que eu. Estou, inclusive, tentando controlar a culpa por ser controladora.
Mas, quer saber, vou inverter esse jogo (ou este texto, que é meu palco mais gentil) e dizer que se sou controladora, não o faço por uma vilania trivial e gratuita. Ah, não mesmo!
Se sou controladora, o faço porque teve que nascer algo em mim para sobreviver à cobrança de ter respostas e soluções para tudo desde muito cedo. Hábito que parece se repetir em espirais bastante cansativas.
Se sou controladora (e já admiti que sou) quero que também admitam que há uma rede de pessoas ao redor de uma controladora, beneficiando-se da segurança de não escolher nada, não antecipar nada, de não gastar a mente com um roteiro obcecado e falido que fazemos na tentativa de preservar dinâmicas fundamentais para a vida.
Ao redor de uma pessoa controladora, é preciso que também comecem a levantar as mãos os omissos, os covardes, os encostados, os indecisos que avançam na vida às custas de alguém.
Quem sabe com a mesa posta, as cartas expostas e as mãos, não apontadas, mas levantadas com atribuições justas aos papéis do jogo, a gente consiga perceber que a pessoa controladora pode estar disposta a dividir o controle se perceber minimamente que existe alguém com quem contar.
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