Isolamento e Alzheimer foram fatores determinantes na morte de Gene Hackman
Sem assistência após a morte da esposa, ator ficou preso em casa e não conseguiu pedir ajuda em final trágico


Solidão e vulnerabilidade nos dias finais
Gene Hackman, que foi encontrado morto aos 95 anos no mês passado, passou dias sozinho e desorientado em sua casa em Santa Fé, no Novo México, antes de morrer. O ator, que sofria de Alzheimer avançado, ficou sem cuidados depois que sua esposa, Betsy Arakawa, morreu repentinamente em 11 de fevereiro. Sem familiares próximos e isolado do mundo exterior, ele permaneceu na residência por pelo menos uma semana, incapaz de buscar socorro, num final trágico para um dos maiores atores de Hollywood.
O legista chefe do Novo México afirmou que a doença de Alzheimer foi um fator determinante na morte do vencedor de dois Oscars, por “Operação França” (1971) e “Os Imperdoáveis” (1992). Hackman, que já enfrentava dificuldades cognitivas e motoras, perdeu seu único suporte diário quando Arakawa morreu de hantavírus, uma infecção viral rara contraída pela exposição a excrementos de roedores. Além disso, o isolamento do ator, que há anos evitava contato frequente com vizinhos e amigos, acabou sendo fatal. Sem um cuidador ou qualquer funcionário fixo na casa, Hackman ficou completamente sozinho e incapaz após a perda de Arakawa, que havia assumido integralmente sua rotina, morrendo dias depois.
Os corpos do casal só foram encontrados após uma semana, em 26 de fevereiro, quando um trabalhador da manutenção estranhou a ausência de resposta na residência e acionou a segurança. Hackman foi localizado no saguão da casa, de chinelos e com sua bengala, sem sinais de que tenha conseguido pedir socorro. Arakawa, de 65 anos, foi encontrada no chão de um banheiro perto de um frasco de remédio e comprimidos derramados. Zinna, um dos três cães da família, também estava morto em um armário.
O isolamento como fator de risco
Desde a pandemia de COVID-19, Hackman havia se recolhido ainda mais, mantendo contato mínimo até mesmo com amigos próximos. Ele não usava celular e evitava tecnologia, dependendo exclusivamente da esposa para qualquer interação externa.
“Ele não gostava do papel de celebridade”, disse um amigo ao jornal The New York Times, reforçando que o afastamento do mundo pode ter contribuído para a tragédia.
O xerife Adan Mendoza, do Condado de Santa Fé, afirmou que não há registro de que o ator tivesse assistência médica regular ou qualquer acompanhamento profissional. “Estou surpreso que eles não tivessem ninguém”, disse um vizinho, destacando que sua própria família garantiu suporte constante para seu pai quando chegou a essa idade.
A opção pela reclusão e o isolamente tornou-se um fator crítico nos últimos dias de vida. Sem suporte para lidar com o Alzheimer e sem ninguém para intervir a tempo, Hackman morreu sozinho, preso na casa que por décadas foi seu refúgio.