Indígenas boes reencontram em Paris parte de seu passado
Em outubro de 2024, cinco indígenas do povo Boe viajaram pela primeira vez para fora do Brasil. Eles foram a Paris em uma viagem organizada pela Universidade de São Paulo (USP) e o Museu do Quai Branly – Jacques Chirac cujo objetivo era colocá-los em contato em contato com uma história que diversos pesquisadores brasileiros e franceses conhecem muito bem: a viagem do casal Dina e Claude Lévi-Strauss a uma aldeia boe e a comunidades kadiwéus entre novembro de 1935 e março de 1936. Muito embora Claude Lévi-Strauss tenha convivido com os boes por um breve período, eles se tornaram uma referência incontornável em sua obra, designados como “bororos”, como ainda são chamados na literatura antropológica. Essa designação, porém, resulta de um mal-entendido colonial. “Bororo” é o nome que os boes dão ao pátio central de sua aldeia. Entre as gerações mais jovens de indígenas, há um esforço crescente para tornar mais comum o emprego do termo “boe” (“pessoa” ou “humano”, no seu idioma). The post Indígenas boes reencontram em Paris parte de seu passado first appeared on revista piauí.

Em outubro de 2024, cinco indígenas do povo Boe viajaram pela primeira vez para fora do Brasil. Eles foram a Paris em uma viagem organizada pela Universidade de São Paulo (USP) e o Museu do Quai Branly – Jacques Chirac cujo objetivo era colocá-los em contato em contato com uma história que diversos pesquisadores brasileiros e franceses conhecem muito bem: a viagem do casal Dina e Claude Lévi-Strauss a uma aldeia boe e a comunidades kadiwéus entre novembro de 1935 e março de 1936.
Muito embora Claude Lévi-Strauss tenha convivido com os boes por um breve período, eles se tornaram uma referência incontornável em sua obra, designados como “bororos”, como ainda são chamados na literatura antropológica. Essa designação, porém, resulta de um mal-entendido colonial. “Bororo” é o nome que os boes dão ao pátio central de sua aldeia. Entre as gerações mais jovens de indígenas, há um esforço crescente para tornar mais comum o emprego do termo “boe” (“pessoa” ou “humano”, no seu idioma).
No Museu do Quai Branly, os cinco indígenas conheceram os objetos coletados por Dina e Claude Lévi-Strauss em uma aldeia boe e que hoje fazem parte do acervo da instituição, confeccionaram diante de pesquisadores um pariko (um cocar ritual) e participaram da exibição de filmes do casal de antropólogos que registraram os boes no início do século XX. Depois, os indígenas fizeram uma conferência no Collège de France, a mesma instituição onde o autor de Tristes trópicos evocou e homenageou os boes em sua aula inaugural, 65 anos atrás.
A sala estava lotada. Os pesquisadores franceses não escondiam o entusiasmo e a emoção em ouvir representantes daquele povo que só conheciam dos livros. No Collège de France, os boes falaram da situação de suas terras e do confinamento ao qual são submetidos há séculos, contam os antropólogos Maria Luísa Lucas e João Kelmer, na edição deste mês da piauí.
Hoje, os boes vivem em cinco pequenas terras indígenas no Sul de Mato Grosso, que somam no total 142 mil hectares. Algumas delas perderam parcelas significativas de seu território inicial ao longo dos anos. Acabaram separadas umas das outras por vários quilômetros e são como pequenas ilhas cercadas pelo oceano voraz do agronegócio.
Agora, um novo elemento adiciona mais uma camada de conflitos entre os não indígenas e os boes das Terras Indígenas Tereza Cristina e Tadarimana (esta última tem apenas 10 mil hectares e é onde mora a maioria dos que foram a Paris). A empresa Rumo Logística trabalha na região para a implantação de uma ferrovia que deverá passar bem no meio dos 40 km que separam as duas terras indígenas.
Assinantes da revista podem ler a íntegra do texto neste link.
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