Feminista, sim. Santa? Jamais!

Martchela questiona a idealização da feminista perfeita, defendendo a humanidade das mulheres com suas imperfeições e sentimentos complexos

Abr 26, 2025 - 22:08
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Feminista, sim. Santa? Jamais!

Desde cedo, eu já tinha um certo preconceito com esses títulos de “santinha” ou “atrevida”. Nunca gostei de rótulos. Sempre andei com quem eu bem quisesse.

Depois de adulta, a gente estuda, estuda… e pronto: definiram. E eu me vi — e me aceitei — como feminista. Afinal, sendo mulher, seria uma estupidez não lutar pelos meus direitos, né?

Só que no meio dessa luta (que é diária, interminável, cansativa, e sim, LINDA), a gente percebe umas coisas. A gente luta contra o machismo, contra o patriarcado, contra o machismo estrutural… inclusive, esse machismo ataca até a gente que é feminista.

E não dói menos por isso. Na real? Dói mais. Porque a gente já tirou o véu da ignorância. A gente enxerga. E aí vem o grande susto: existem códigos. E dentro desses códigos… ai de quem pisar fora da linha! Criou-se uma santidade em volta das feministas. Do tipo:

“Se você é feminista, você não pode isso… não pode aquilo…”

“Se fez tal coisa, perde pontos.”

“Tá expulsa do clube!”

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Então tá. Rasguem minha carteirinha. Porque agora eu vou falar. Sim: a gente luta contra a rivalidade feminina. Mas… às vezes… acontece. Às vezes, aquela menina da sua repartição é uma chata. E falar sobre isso não te faz menos feminista.

Quer me multar? Pode vir. Às vezes rola uma piada. Às vezes rola uma inveja. Da estagiária linda, da chefe maravilhosa, da prima, da amiga… ou até da inimiga.

Porque sim: a gente também tem inimiga. E isso também não nos torna menos feministas. Ser feminista é lutar pelos seus direitos. Não é virar uma santa canonizada. É um saco ser santa o tempo todo. ui! cruzes!

Sim, às vezes eu sinto inveja.

Sim, às vezes eu sou uma vaca.

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Sim, às vezes dá vontade de ser uma escrota.

Sim, às vezes sou uma megera.

Sim, eu sou chata pra cacete.

Porque ser boazinha 24 horas por dia nesse mundo apocalíptico é… beirar o impossível.

Então, sim: às vezes a gente vai ser uma imensa filha da puta. E nem por isso a minha carteirinha feminista será confiscada. E se alguém quiser vir confiscar: bata lá na minha casa. Eu mesma entrego. Porque, no fundo, o que muita gente quer é isso: te ver cair.

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Se você se destaca por um texto, um vídeo, uma fala… o próximo olhar já vem com o crivo do cancelamento. “Você viu o que ELA fez? Que absurdo.” “Pagava de certinha e fez aquilo.”

Gente… pelo amor de Deus. A gente é humana. A gente vai errar. E é errando que a gente aprende. Existem sentimentos humanos. Existe ciúme, inveja, rivalidade.

E se a gente finge que não sente nada disso, nos distanciamos da nossa própria humanidade. Não existe autoconhecimento nem autopercepção e, aí, minha cara, é que você não evolui mesmo!

Prefiro mil vezes ser a Cruella do que ser a sonsa. Fingindo que não sinto nada. Fingindo que sou pura, limpa, cristalizada pelo feminismo. Às vezes a gente faz coisas moralmente duvidosas… e, às vezes… a gente nem se arrepende! E tá tudo bem. A gente aprende. A gente melhora. A gente é gente.

Que delícia ser humana. Que delícia errar e pedir desculpas. Que sorte a nossa que existe o perdão. E ai daqueles que não sabem perdoar, pois estão fadados à amargura da vida, mesmo fingindo ser evoluídos.

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Então é isso: vamos errar. Vamos rir disso. Vamos aprender. E não, a gente não se torna menos feminista por causa disso.

Se quiserem me cancelar, já sei o caminho.

Obrigada.

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