EUA: tarifa de 25% sobre importação de automóveis deixa produtores em estado de choque

Desde a Ásia ao Canadá passando pela Europa, todos os países produtores de automóveis dizem unanimemente que as novas tarifas serão um desastre para a economia mundial.

Mar 27, 2025 - 10:50
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EUA: tarifa de 25% sobre importação de automóveis deixa produtores em estado de choque

Tal como prometido, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, avançou com a introdução de uma tarifa de 25% sobre a importação de automóveis para o mercado norte-americano, o que desencadeou de imediato reações contrárias vindas dos principais fabricantes do setor e das autoridades nacionais dos países produtores. Adicionalmente, os mercados mobiliários entraram em stress.

As ações dos grupos construtores asiáticos lideraram as quedas dos mercados mobiliários – que se fazem sentir globalmente esta quinta-feira, depois de Donald Trump ter avançado com uma tarifa de 25% sobre veículos importados. É um novo capítulo da guerra comercial global prometida pelo locatário da Casa Branca desde bem antes de tomar posse, a 20 de janeiro passado. Durante a campanha, Trump disse que o setor da construção automóvel praticamente desapareceu nos Estados Unidos por culpa das empresas asiáticas e que tudo faria para recuperar uma indústria que chegou a ser das mais importantes do país e das que mais empregos proporcionava internamente. Claro que a ‘culpa’ foi dos construtores americanos, que partiram para a Ásia à procura de custos de produção mais baixos e de legislações onde as questões sociais tivessem pouco impacto – mas isso nunca fez parte da narrativa de Trump.

As novas taxas sobre carros e caminhões leves entrarão em vigor a 3 de abril, um dia após Trump planear anunciar tarifas recíprocas destinadas aos países responsáveis ​​pela maior parte do défice comercial dos EUA, que se acrescentarão às tarifas já introduzidas sobre aço e alumínio, e sobre produtos do México, Canadá, China e União Europeia.

Os Estados Unidos importaram 474 mil milhões de dólares em automóveis (em 2024), incluindo automóveis para particulares no valor de 220 mil milhões, segundo avança a imprensa norte-americana. México, Japão, Coreia do Sul, Canadá e Alemanha, todos aliados próximos, foram os maiores fornecedores. E é precisamente daí que surgem as maiores reservas à decisão de Trump.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, descreveu a medida como “má para as empresas e pior para os consumidores”, enquanto o novo primeiro-ministro canadiano, Mark Carney, classificou as tarifas como “um ataque direto” aos trabalhadores do seu país, ao mesmo tempo que anunciava medidas retaliatórias a curto prazo. “Defenderemos os nossos trabalhadores, defenderemos as nossas empresas, defenderemos o nosso país e defendê-lo-emos juntos”, disse.

O primeiro-ministro japonês, Shigeru Ishiba, disse que Tóquio colocará “todas as opções na mesa” para lidar com as novas tarifas e a Coreia do Sul disse que colocaria em prática uma resposta de emergência para a sua indústria automóvel, que será duramente atingida, até abril.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva disse que Trump corre o risco de prejudicar a economia dos Estados Unidos com tarifas adicionais. “O protecionismo não ajuda nenhum país no mundo”, disse em Tóquio, onde se encontra de visita, prometendo avançar com uma queixa na Organização Mundial do Comércio.

Vários especialistas norte-americanos no setor do comércio esperam, no entanto, que os preços subam inicialmente e a procura caia, prejudicando a indústria global que já está a sofrer com a incerteza causada pelas rápidas ameaças tarifárias de Trump e suas reversões ocasionais.

O sindicato United Auto Workers, antigo crítico dos acordos de livre comércio que, segundo a sua análise, destruíram empregos nos Estados Unidos, elogiou a decisão. “Essas tarifas são um grande passo na direção certa para os trabalhadores da indústria automóvel e das comunidades operárias em todo o país, e agora cabe às empresas do setor, trazer de volta bons empregos sindicalizados ao país”, disse o presidente do UAW, Shawn Fain, em comunicado.

As ações das empresas dos Estados, que são altamente integradas com fábricas e fornecedores no Canadá e no México, caíram nas negociações já esta manhã, enquanto os índices futuros de ações dos EUA recuaram, indicando que as ações estão a caminhar para uma abertura em baixa. Elon Musk, membro do governo e dono da fabricante Tesla, postou nas redes sociais que a sua marca não sairia ilesa. “O impacto da tarifa na Tesla ainda é significativo”, escreveu.

“Vamos cobrar dos países por fazer negócios no nosso país e nos tiram os empregos e a nossa riqueza, vamos tirar-lhes muitas das coisas que eles nos vêm tirando ao longo dos anos”. Tiraram tanto ao nosso país, amigos e inimigos e, francamente, amigos têm sido muitas vezes muito piores do que inimigos”, disse Trump na Sala Oval, repetindo uma retórica que não tem suporte na ciência económica e muito menos na prática global do comércio.

Os grupos construtores como a Toyota e a Mazda lideraram quedas do mercado acionista no Japão, uma vez que dependem em cerca de 25% das exportações para os Estados Unidos. As sul-coreanas Hyundai e Kia Corp também viram as suas ações caírem drasticamente.