Escudo de Taiwan barra TSMC de exportar seus chips mais avançados
O governo de Taiwan aprovou novas regras para restringir a exportação das tecnologias e processos de fabricação mais avançados da TSMC, a maior fabricante de semicondutores do mundo. A política, batizada oficialmente como "N-1" e informalmente conhecida como "Silicon Shield" (Escudo de Silício), só permitirá que a empresa produza no exterior processos que estejam pelo menos uma geração atrás dos mais modernos fabricados na ilha. TSMC anuncia investimento de US$ 100 bi para construir 5 fábricas nos EUA O que é silício e por que os microchips são feitos desse material? A medida surge em um momento de tensão geopolítica e após a TSMC anunciar planos de ampliar significativamente seus investimentos nos Estados Unidos, de US$ 65 bilhões para US$ 165 bilhões. O governo taiwanês justifica a decisão como uma forma de proteger sua segurança nacional e manter sua relevância estratégica no cenário global, já que a liderança em semicondutores avançados funciona como um "escudo" que ajuda a garantir o apoio internacional em caso de ameaças à soberania do país. Estabelecida por meio da modificação do Artigo 22 da Lei de Inovação Industrial, a nova regulamentação eleva ao status de lei formal restrições que antes existiam apenas em regulamentos secundários. Com isso, Taiwan institucionaliza sua política de manter a produção dos chips mais avançados do mundo exclusivamente em seu território, enquanto permite que tecnologias ligeiramente menos sofisticadas sejam fabricadas em outros países. -Entre no Canal do WhatsApp do Canaltech e fique por dentro das últimas notícias sobre tecnologia, lançamentos, dicas e tutoriais incríveis.- Como funcionará o "Escudo de Silício" A política "N-1" funcionará de maneira relativamente simples: quando a TSMC desenvolver e implementar um novo processo de fabricação em Taiwan (considerado "N"), esse mesmo processo não poderá ser exportado para fábricas da empresa em outros países. Apenas processos de uma geração anterior poderão ser transferidos para o exterior. "Escudo de Silício" restringe exportação de tecnologia a pelo menos uma geração anterior, mantendo processo "flagship" dentro de Taiwan (Imagem: Divulgação/TSMC) Na prática, isso significa que enquanto a TSMC produzir chips com seu processo mais avançado em Taiwan (atualmente o N3P, e em breve o N2), suas fábricas nos Estados Unidos e em outros países só poderão utilizar tecnologias um passo atrás. No caso da fábrica da TSMC no Arizona, por exemplo, está prevista a produção em 4nm atualmente, com planos para chegar a 1,6nm (A16) até 2030 – mas sempre uma geração atrás do que estiver disponível em Taiwan. Um detalhe importante que ainda gera dúvidas é como o governo taiwanês classificará os processos mais avançados quando a TSMC passar a ter dois nós de fabricação de ponta simultaneamente. A partir de 2026, por exemplo, a empresa planeja operar com o N2P para aplicações que não necessitam de fornecimento avançado de energia e o A16 com tecnologia Super Power Rail para aplicações de computação de alto desempenho. Ainda não está claro se ambos serão considerados "flagships" e, portanto, restritos à exportação. Impacto para o mercado de semicondutores A nova política taiwanesa deve impactar significativamente o mercado global de semicondutores, que já vive um momento de transformação devido às tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China. Ao restringir a exportação de suas tecnologias mais avançadas, Taiwan reforça seu papel como epicentro da fabricação de chips de última geração. Para os concorrentes da TSMC, como a Intel e a Samsung, a medida pode representar uma oportunidade. A Intel, em particular, pode se beneficiar nos Estados Unidos, onde o governo Trump promete aplicar pesadas tarifas para incentivar a produção local. Como empresa estadunidense com fábricas locais, o Time Azul não enfrentará as mesmas restrições que a TSMC quanto à implementação de suas tecnologias mais recentes. Por outro lado, a medida também pode acelerar os esforços de diversos países para desenvolver suas próprias capacidades de produção de chips avançados, intensificando a corrida global por soberania tecnológica. Europa, Japão e Coreia do Sul já anunciaram investimentos bilionários para reduzir sua dependência das cadeias de suprimentos asiáticas. Medida do governo de Taiwan pode representar oportunidade para concorrentes como a Intel, que tem fábrica dentro dos EUA (Imagem: Divulgação/Intel) Consequências para a TSMC Para a TSMC, a nova regulamentação representa um grande obstáculo à sua estratégia de globalização. A empresa terá que equilibrar sua expansão internacional com as restrições impostas por Taiwan, seu principal aliado histórico. A fabricante já comprometeu cerca de US$ 165 bilhões em investimentos nos Estados Unidos, mas agora terá que ajustar seus planos para garantir que apenas tecnologias "N-1" sejam transferidas para suas instalações no país norte-americano. Isso pode reduzir a competitividade dessas fábri

O governo de Taiwan aprovou novas regras para restringir a exportação das tecnologias e processos de fabricação mais avançados da TSMC, a maior fabricante de semicondutores do mundo. A política, batizada oficialmente como "N-1" e informalmente conhecida como "Silicon Shield" (Escudo de Silício), só permitirá que a empresa produza no exterior processos que estejam pelo menos uma geração atrás dos mais modernos fabricados na ilha.
- TSMC anuncia investimento de US$ 100 bi para construir 5 fábricas nos EUA
- O que é silício e por que os microchips são feitos desse material?
A medida surge em um momento de tensão geopolítica e após a TSMC anunciar planos de ampliar significativamente seus investimentos nos Estados Unidos, de US$ 65 bilhões para US$ 165 bilhões. O governo taiwanês justifica a decisão como uma forma de proteger sua segurança nacional e manter sua relevância estratégica no cenário global, já que a liderança em semicondutores avançados funciona como um "escudo" que ajuda a garantir o apoio internacional em caso de ameaças à soberania do país.
Estabelecida por meio da modificação do Artigo 22 da Lei de Inovação Industrial, a nova regulamentação eleva ao status de lei formal restrições que antes existiam apenas em regulamentos secundários. Com isso, Taiwan institucionaliza sua política de manter a produção dos chips mais avançados do mundo exclusivamente em seu território, enquanto permite que tecnologias ligeiramente menos sofisticadas sejam fabricadas em outros países.
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Como funcionará o "Escudo de Silício"
A política "N-1" funcionará de maneira relativamente simples: quando a TSMC desenvolver e implementar um novo processo de fabricação em Taiwan (considerado "N"), esse mesmo processo não poderá ser exportado para fábricas da empresa em outros países. Apenas processos de uma geração anterior poderão ser transferidos para o exterior.
Na prática, isso significa que enquanto a TSMC produzir chips com seu processo mais avançado em Taiwan (atualmente o N3P, e em breve o N2), suas fábricas nos Estados Unidos e em outros países só poderão utilizar tecnologias um passo atrás. No caso da fábrica da TSMC no Arizona, por exemplo, está prevista a produção em 4nm atualmente, com planos para chegar a 1,6nm (A16) até 2030 – mas sempre uma geração atrás do que estiver disponível em Taiwan.
Um detalhe importante que ainda gera dúvidas é como o governo taiwanês classificará os processos mais avançados quando a TSMC passar a ter dois nós de fabricação de ponta simultaneamente. A partir de 2026, por exemplo, a empresa planeja operar com o N2P para aplicações que não necessitam de fornecimento avançado de energia e o A16 com tecnologia Super Power Rail para aplicações de computação de alto desempenho. Ainda não está claro se ambos serão considerados "flagships" e, portanto, restritos à exportação.
Impacto para o mercado de semicondutores
A nova política taiwanesa deve impactar significativamente o mercado global de semicondutores, que já vive um momento de transformação devido às tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China. Ao restringir a exportação de suas tecnologias mais avançadas, Taiwan reforça seu papel como epicentro da fabricação de chips de última geração.
Para os concorrentes da TSMC, como a Intel e a Samsung, a medida pode representar uma oportunidade. A Intel, em particular, pode se beneficiar nos Estados Unidos, onde o governo Trump promete aplicar pesadas tarifas para incentivar a produção local. Como empresa estadunidense com fábricas locais, o Time Azul não enfrentará as mesmas restrições que a TSMC quanto à implementação de suas tecnologias mais recentes.
Por outro lado, a medida também pode acelerar os esforços de diversos países para desenvolver suas próprias capacidades de produção de chips avançados, intensificando a corrida global por soberania tecnológica. Europa, Japão e Coreia do Sul já anunciaram investimentos bilionários para reduzir sua dependência das cadeias de suprimentos asiáticas.
Consequências para a TSMC
Para a TSMC, a nova regulamentação representa um grande obstáculo à sua estratégia de globalização. A empresa terá que equilibrar sua expansão internacional com as restrições impostas por Taiwan, seu principal aliado histórico.
A fabricante já comprometeu cerca de US$ 165 bilhões em investimentos nos Estados Unidos, mas agora terá que ajustar seus planos para garantir que apenas tecnologias "N-1" sejam transferidas para suas instalações no país norte-americano. Isso pode reduzir a competitividade dessas fábricas em comparação com as unidades taiwanesas da própria TSMC.
Analistas do setor especulam que a empresa precisará repensar sua estratégia de longo prazo, possivelmente acelerando o desenvolvimento de novas tecnologias em sua terra natal para manter uma diferenciação clara entre suas operações domésticas e internacionais. Alternativamente, a TSMC pode intensificar seus esforços de pesquisa e desenvolvimento nos EUA para desenvolver tecnologias complementares que não violem as restrições de exportação.
Impacto para consumidores e cadeia produtiva
Para consumidores finais, os efeitos da nova política podem não ser imediatamente perceptíveis, mas tendem a se manifestar no médio e longo prazo. A concentração das tecnologias mais avançadas em Taiwan pode levar a gargalos de produção para dispositivos que dependem dos chips mais modernos, especialmente se houver interrupções na cadeia de suprimentos devido a eventos geopolíticos ou naturais.
Fabricantes de smartphones, computadores e outros eletrônicos que dependem dos processos de fabricação mais avançados podem enfrentar desafios logísticos adicionais. Empresas como Apple, AMD e NVIDIA, que são clientes importantes da TSMC e dependem fortemente de seus chips de ponta, podem precisar ajustar suas estratégias de desenvolvimento de produtos e gerenciamento de cadeia de suprimentos.
A médio prazo, a medida pode render um cenário de maior regionalização da produção de semicondutores, com diferentes tecnologias sendo desenvolvidas e fabricadas em diferentes regiões do mundo. Isso poderia eventualmente levar a um aumento nos custos repassados aos consumidores finais.
Controle sobre investimentos estrangeiros e punições
A emenda ao Artigo 22 da Lei de Inovação Industrial não apenas implementa a política "N-1", mas também fortalece significativamente o controle do governo taiwanês sobre investimentos estrangeiros no setor de semicondutores. A nova legislação dá às autoridades o poder de rejeitar ou cancelar investimentos no exterior se considerarem que estes comprometem a segurança nacional, prejudicam o desenvolvimento econômico do país, violam obrigações de tratados ou resultam em grandes disputas trabalhistas não resolvidas.
As novas regras também introduzem penalidades para o descumprimento que não existiam anteriormente. Empresas que investirem no exterior sem aprovação prévia poderão enfrentar multas que variam de NT$ 50.000 a NT$ 1 milhão (aproximadamente US$ 1.540 a US$ 30.830). Se um investimento for aprovado, mas a empresa posteriormente não corrigir violações identificadas, as autoridades poderão impor multas recorrentes de NT$ 500.000 a NT$ 10 milhões (cerca de US$ 15.414 a US$ 308.286).
Apesar dessas multas parecerem significativas, especialistas apontam que elas representam valores relativamente pequenos para uma empresa do porte da TSMC, que planeja investir US$ 165 bilhões apenas em suas instalações nos EUA. Isso sugere que o objetivo principal da legislação é estabelecer controle formal e criar mecanismos de supervisão, mais do que impor barreiras financeiras intransponíveis.
Implementação da lei e cronograma
Embora a emenda ao Artigo 22 já tenha sido aprovada pelo parlamento taiwanês, sua implementação não será imediata. De acordo com o Ministério de Assuntos Econômicos de Taiwan, a data para a lei entrar em vigor só será anunciada após a revisão das regulamentações subordinadas, processo que deve levar até seis meses.
Isso significa que a nova política deve começar a ser aplicada, no mais tardar, no final de 2025. Esse cronograma dá à TSMC e outras empresas taiwanesas de semicondutores um período de adaptação para ajustar seus planos de investimento e expansão global às novas regras.
O período de transição também permitirá que o governo do país elabore diretrizes mais específicas sobre como a política "N-1" será aplicada nos diferentes casos. Isso é extremamente importante, principalmente se lembrarmos da complexidade dos processos de fabricação mais avançados da TSMC, que, como mencionado anteriormente, estão evoluindo para incluir diferentes tipos de nós de fabricação especializados para diferentes aplicações.
Contexto geopolítico e futuro da indústria
A nova medida surge em um contexto geopolítico particularmente tenso. Com o retorno da administração Trump aos Estados Unidos e sua forte pressão por produção doméstica através de tarifas elevadas, Taiwan busca equilibrar sua relação estratégica com os EUA enquanto preserva seu principal ativo econômico e de segurança nacional.
O chamado "Escudo de Silício" é uma metáfora que ilustra bem a importância dos semicondutores para Taiwan: a liderança do país na produção de chips avançados cria uma interdependência global que aumenta o custo político e econômico de qualquer ameaça à ilha. Se Taiwan fosse invadida, o impacto na economia mundial seria devastador, o que dá aos aliados do país um forte incentivo para protegê-lo.
Ao mesmo tempo, a expansão da TSMC nos Estados Unidos responde a pressões estadunidenses por maior segurança na cadeia de suprimentos de semicondutores. A nova lei parece buscar um equilíbrio delicado: permite que a TSMC atenda às demandas dos EUA por maior capacidade de produção local, enquanto garante que Taiwan mantenha sua vantagem tecnológica estratégica.
À medida que a corrida global por liderança em semicondutores se intensifica, essa abordagem provavelmente definirá a estratégia taiwanesa pelos próximos anos, com profundas implicações para o futuro da indústria de tecnologia.
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